O medo é uma das emoções mais antigas da humanidade. Basta ler alguns manuais de dramaturgia e textos históricos para compreender a afirmação. Quando estamos diante do desconhecido, então, o medo se torna uma emoção ainda mais forte. São afirmações que parecem extraídas do senso-comum, e de fato, baseadas em nossas descrições enquanto seres humanos que em algum momento, já experenciaram o medo como sensação angustiante. No entanto, na abertura deste parágrafo, trouxe ao leitor palavras adaptadas de Lovecraft, um dos maiores expoentes do horror e da fantasia na literatura, conhecido por abordar, em suas narrativas, tópicos temáticos insólitos, estruturados por altas dosagens de estranhezas. Será com o “estranho” e o “abjeto” que os personagens de Violência e Terror, slasher tardio lançado em 1989, confrontarão as suas fobias e inseguranças, numa produção de ritmo irregular, mas criativa e dinâmica, produzido numa era de desgaste para o subgênero.
Sob a direção de Scott Spiegel, realizador que tem como guia o roteiro escrito em parceria com Laurence Bender, a trama nos apresenta uma história sem grandes complexidades, tal como a maioria os demais filmes deste segmento: um grupo de jovens, reunidos durante o balanço num supermercado, começa a ser perseguido por uma figura violenta que os transforma em cadáveres de sua extensa trilha de corpos. Interessante observar que no desenvolvimento, não há mistérios, segredos do passado e busca de vingança por alguém que teve o seu filho afogado ou foi queimado vivo após acusações de assédio infantil. Aqui, o facínora possui interesse em ver sangue demasiadamente jorrado, numa sede de violência contemplada pela eficiente maquiagem de Greg Nicotero, um dos grandes mestres dos efeitos especiais nos filmes de terror ainda hoje. Escalados para etiquetar os produtos de todas as seções, tornando-os mais baixos, os funcionários com demissão já declarada não precisam se preocupar apenas com o desemprego, mas com algo mais importante: a sobrevivência.
Com participação de Ted Raimi e de Bruce Campbell, temos a evocação da atmosfera criativa e diabolicamente humorada de Evil Dead: A Morte do Demônio, uma das franquias mais corajosas do horror, conhecida por mesclar elementos surrealistas, expressionistas e aplicar, por meio do nonsense, uma “virada” na história do cinema de horror, com ressonâncias nas narrativas subsequentes, especialmente neste slasher que se faz tributário ao clássico de 1981. De cara, sabemos quem é o assassino, por isso, não há máscaras e trajes para esconder a sua identidade, tampouco uma busca por compreensão de suas motivações para a confecção da considerável trilha de corpos violentamente ultrajados por armas de todo tipo. Aqui, o que talvez interesse é saber que vai viver e quem vai morrer. Craig (David Byrnes) talvez seja o forte candidato ao posto de responsável pelos assassinatos, vide a sua perseguição contra Jennifer (Elizabeth Cox), uma das funcionárias assediadas por esse instável ex-namorado. Apesar deste detalhe, um ponto importante: Violência e Terror é um dos slashers menos misóginos da história do subgênero, o que o torna uma produção para algum destaque.
O filme, no entanto, evita a obviedade e prefere inserir diversas pistas falsas, dando ao subgênero uma narrativa diferenciada, mesmo que oscilante em seu ritmo, especialmente nos 30 minutos iniciais, relativamente arrastados para uma produção de 83 minutos. Sua trilha, sem grandes momentos especiais, foi assinada por Basil Poledouris, condução sonora que peca por não deixar a trama mais tensa. Na construção dos espaços, Wendy Guidere entrega um supermercado tal como os conhecemos na realidade, cheio de corredores com bifurcações, num design de produção que sabe trabalhar a tensão diante de uma ameaça desconhecida, que pode estar à espera de qualquer um no final de uma seção, talvez por detrás da gigantesca máquina moedora de carnes, habilmente utilizada para eliminar um dos integrantes da lista de vítimas em potencial deste slasher divertido, como já mencionado, criativo e diferenciado. Outro destaque é a direção de fotografia de Fernando Arguelles, setor com ângulos inusitados e uso de POV que tornam Violência e Terror mais bem-sucedido esteticamente que os demais exemplares de sua época, abarrotada de filmes com assassinos mascarados a ceifar vidas incautas.
Violência e Terror (Intruder, EUA – 1989)
Direção: Scott Spiegel
Roteiro: Suzanne Keilly
Elenco: Elisabeth Cox, Renée Estevez, Dan Hicks, David Byrnes, Sam Raimi, Eugene Robert Glazer, Ted Raimi, Bruce Campbell
Duração: 86 min.