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Crítica | Verlust

por Guilherme Rodrigues
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Verlust se apressa para explicar seu título, que está tatuado no braço de um de seus personagens, o escritor João, interpretado por Ismael Caneppele, que também roteirizou o longa. João está deitado com Frederica (Andréa Beltrão), quando esta pergunta o que a palavra quer dizer. São duas palavras em uma, lust é luxúria em inglês, já verlust, é perda irreparável, em alemão. Frederica reclama de algo tão trágico assim ser tatuado, em seguida, os dois fazem sexo, enquanto o marido dela, Constantin (Alfredo Castro), fotografa. Fácil de entender o lust.

Mas o foco narrativo de Verlust é, realmente, a perda. Frederica é empresária da cantora Lenny (Marina Lima), cuja biografia está sendo escrita por João. A empresária levou todos, mais a sua filha, Tuane (Fernanda Pavanelli), para uma mansão à beira mar para o ano novo. Mas a vida da protagonista, aos poucos, passa a degringolar, com uma crise conjugal corroendo não só a relação com o marido, mas também com a filha, enquanto a biografia cria uma alteração na relação dela com Lenny, para quem dedicou sua vida inteira. Na praia, uma estranha criatura marinha bioluminescente definha lentamente, com suas lamúrias marcando a paisagem.

Esmir Filho aposta em um ritmo vagaroso para sua narrativa, e até mesmo distanciado, não há, por exemplo, grandes momentos dramáticos ou coisas do tipo. Ao invés de apostar em mostrar o declínio desses relacionamentos de modo mais explícito e agressivo, é mais um sentimento de lenta erosão, ou de uma baleia se decompondo aos poucos. É uma proposta viável, o problema é confundir lentidão com afastamento emocional, e assim, os principais pontos de tensão narrativas de Verlust parecem ser supérfluos ao próprio filme.

A exemplo da figura de João, o escritor misterioso, que a princípio parece ser um visitante que irá perturbar as dinâmicas familiares ali presentes, como no filme Visitor Q de Takashi Miike ou o estranho visitante de Pasolini em Teorema, e até engaja em atividades similares, como seduzir familiares, já que além de Frederica, até Constantin é seduzido pelo escritor. Mas logo o impacto de João na família vira fumaça e ele passa a se tornar um excêntrico acessório a trama. Na verdade, “acessório excêntrico” é um bom definidor para quase tudo que acontece em Verlust, com a criatura encalhada sendo uma fraca metáfora para a situação de Frederica, mas servindo como uma imagem extravagante.

Há ecos dos piores defeitos de outra obra do diretor aqui, a série para Netflix Boca a Boca. Assim como na série, muito em Verlust parece ser colocado só para ser diferentão, sem muita preocupação em como aquilo agrega a narrativa como um todo. Há cenas como Constantino se masturbando enquanto revela fotos, e Tuane usando drogas com os amigos, que caso fossem retiradas do filme, pouco afetariam o desenrolar da trama. 

Com esse distanciamento e afetação toda, Verlust não consegue engendrar a simpatia necessária para a história de uma mulher que aos poucos perde suas relações sociais, e se torna simplesmente enfadonho, e não há bizarrices que possam mudar isso.

Verlust (Brasil, 2020)
Direção: Esmir Filho
Roteiro: Esmir Filho, Ismael Caneppele
Elenco: Andréa Beltrão, Marina Lima, Alfredo Castro, Ismael Caneppele, Fernanda Pavanelli
Duração: 101 min.

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