Home FilmesCríticas Crítica | Veneno (2023)

Crítica | Veneno (2023)

Dois diferentes tipos de veneno em cena.

por Luiz Santiago
5100 views

Dahl começou a escrever ‘Veneno’ em janeiro de 1950. Deu ao personagem o nome de Woods em homenagem ao piloto da Força Aérea Real morto na Batalha de Atenas“. Esta é a nota pós-filme que o diretor Wes Anderson nos traz ao final deste curta-metragem, o último da tetralogia que adaptou alguns contos do escritor britânico Roald Dahl, de quem o cineasta é grande admirador.

Assim como nos outros filmes do projeto, existe aqui uma abertura interpretativa que funciona perfeitamente bem na narrativa, indicando que o veneno em questão não está apenas ligado a uma possibilidade física, a um medo oculto sob a roupa de Harry (Benedict Cumberbatch). O veneno aqui é também o racismo e a xenofobia, expresso com todas as letras pelo enraivecido britânico contra um médico local. Juntamente com O Cisne, este é o encaminhamento mais cru e mais imediatamente forte e identificável que observamos entre as quatro adaptações do diretor. E talvez por isso nos deixe um pouco paralisados, sem saber muito o que sentir, ao final da sessão.

Desta vez, a fórmula escolhida pelo cineasta chega ao seu ponto-limite. Ela funciona, é claro, mas dada a mudança muito brusca de movimento interno, já na reta final; e, mais uma vez, uma reticência incômoda no desfecho (não tão problemática quanto em O Caçador de Ratos, mas ainda assim, capaz de atrapalhar a finalização), tudo termina num ponto menos interessante do que deveria e do que prometia. A proposta, convenhamos, é espetacular. A ideia de que um homem está imóvel, esperando que, a qualquer momento, seja picado por uma serpente venenosa (uma krait malasiana, nesse caso) é enervante, e a direção de Wes Anderson representa muito bem essa situação sufocante, com uma direção de fotografia que exibe minuciosamente as sensações em cada fase do tormento.

Os movimentos do cenário são mais comedidos, mais econômicos do que nos outros filmes. Este talvez seja o conto mais centrado do projeto, com bastante destaque para os personagens que servem como narradores centrais — nesse caso, Dev Patel e, em menor medida, Ben Kingsley. Como a proposta do diretor é ser o mais fiel possível ao conto original, temos aqui um caso em que o texto, da forma como foi concebido, não consegue completar ou transmitir bem a sua intenção na grande tela, havendo a necessidade de intervenções com diálogos ou pontes de narração que conseguissem equilibrar melhor o ato final, onde tudo muda de ritmo, de sentido, de atmosfera, e falta para o público algo que consiga conectar todos esses pontos abruptamente adicionados.

Com um toque amargo, no sentido social e pessoal da coisa, Veneno encerra um projeto aplaudível do diretor Wes Anderson. Apesar de os filmes da coletânea terem seus problemas, as sessões garantiram um bom entretenimento e nos deram a oportunidade de ver um pouco mais deste diretor de assinatura tão marcante e tão reconhecível, em produções menores, com um outro propósito de criação e direcionamento. Quem dera fosse algo fixo: que ganhássemos curtas de presente, toda vez que um grande diretor faz um longa-metragem, não é mesmo? E nem precisava ser 4 filmes! Eu me contentaria tendo um curta por vez, só para dar um gostinho mais de estilo e narrativa. Nós e o cinema sairíamos ganhando!

Veneno (Poison) — EUA, 2023
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson (baseado em obra de Roald Dahl)
Elenco: Dev Patel, Benedict Cumberbatch, Ralph Fiennes, Ben Kingsley, Eliel Ford, Benoît Herlin
Duração: 17 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais