Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio tem superado a arrecadação do então maior sucesso deste ano, a animação Rio, de Carlos Saldanha. Com a milionária cifra chega também as manifestações incompreensíveis de espectadores brasileiros autodenominados defensores da identidade nacional. As acusações feitas à película de Justin Lin se dão (dentre outros patamares que vamos expor mais adiante) na grande bizarrice da representação do Rio de Janeiro, e por tabela, do Brasil. Acusam-no de vender violência, favelas e tráfico, corrupção e estereótipos falsos ou impostos. Mostra-se a parcela ininteligível do nacionalismo brasileiro.
Me impressiona ler críticas indignadas sobre “as mentiras cinematográficas” expostas nesse filme. Os braços abertos de Vin Diesel e a sentença “This is Brazil” por ele proferida parece ter acabado de obliterar a mente desses espectadores cheios de brasilidade. O que eles esquecem é que o quinto filme da franquia dos Velozes não foge a nenhum item da cartilha que todos conhecemos muito bem, e menos ainda aos engessados e modelos de representação da cultura e cotidiano de um país – qualquer país.
Para começar, é muita estupidez cobrar verossimilhança de um longa que desde o seu primeiro filme apresenta um roteiro mediano, cenas de ações que contrariam as leis da física e do bom senso e desfechos enfaticamente bem explicados. É preciso entender que, mesmo julgando a boa ou má qualidade dos filmes da série (que apodreceu cedo, já em + Velozes + Furiosos), deve-se dar o desconto da concepção, do contexto que ela tem e do tema que aborda. Bons ou ruins, os filmes dos Velozes são feitos para diversão alienada e só. Vamos pegar no pé dos pontos mal feitos porque, como diz o ditado, “ninguém é obrigado” (muito menos um crítico), mas a concepção não pode nunca ser esquecida.
Ora, se a cinessérie nasceu deformada, qual a novidade de em sua quinta parte apresentar um cofre de toneladas sendo arrastado por dois carros através das ruas do Rio de Janeiro? Se absolutamente todo filme é uma versão imperfeita e moldada a certos critérios de uma realidade, o que há de novo em vermos o Rio de Janeiro (mais uma vez) tratado como reduto de criminosos? Qual é o espanto? Convenhamos que essa visão não é privilégio de um “diretor colonialista” que veio aos trópicos mostrar apenas o que temos de ruim. Ou O Bandido da Luz Vermelha, Pixote – A Lei do Mais Fraco, Cidade de Deus, Carandiru, Salve Geral, Última Parada 174, e o duo Tropa de Elite retratam o um Brasil bonito e perfeitinho? Ou seja, o “complexo de macaquismo” alcança em nossos dias a sua versão mais crônica: “eu posso falar mal de mim mesmo, o outro não”.
Não há nenhuma cidade ou país do mundo (nem em documentários) que sejam fielmente representadas em filmes. É claro que há obras, como esse Velozes 5, que exageram loucamente no que fazem, mas é preciso um pouco de inteligência do espectador para perceber que essa visão é uma questão arraigada à ideologia dos envolvidos no projeto e na própria série. Trata-se de uma ficção alienante que já devia ter acabado a pelo menos dois filmes atrás, e que já representou Tóquio tão estranhamente como fez com o Rio. Se alguém esperava algo diferente, sugiro que procure épicos do DeMille para ver.
Para espectadores menos exigentes ou para quem realmente apagar tudo da mente e só querer se divertir vendo carros superpotentes e desafios às leis da física, o filme vale o ingresso e a compra da briga. A constante tensão e o exagero nas sequências de ação são o próprio núcleo da proposta e pode-se imaginar o todo a partir daí. É um filme de ação como (quase!) qualquer outro, com a diferença de ter sido parcialmente gravado no Brasil. Nada de novo.
Vale-se dizer que a franquia adota a partir desse filme um enredo mais ligado ao suspense. Para quem esperava insanas corridas, como nos episódios anteriores, a decepção deve ter sido grande. Mas no quesito “ação impossível” o filme bate recorde.
No cômputo geral, o longa consegue estabelecer-se entre ruim e quase regular, mas em sua proposta de entretenimento por ele mesmo, o resultado é (como de hábito) muito bom. A discrepante soma das partes gera um produto que não exige nada do espectador senão pouco mais de duas horas livres e disposição para engolir as muitas coisas impossíveis que acontecem na história. Esqueçam elenco notável, bela fotografia, direção de arte de cair os olhos. Quando muito, será possível elogiar a trilha sonora.
Há quem vá adorar e taxar isso com muitas estrelas e há quem vá reconhecer a proposta mas não gostar de verdade do filme, como eu. Longe dos brasileirismos afetados e da “crítica cricri”, defendo Velozes 5 apenas como diversão fácil e vazia, aquela sessão de cinema em que você não quer pensar, apenas ver coisas. Muitas coisas. E isso o filme proporciona em doses cavalares.
Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio (Fast Five, EUA, 2011)
Direção: Justin Lin
Roteiro: Chris Morgan, Gary Scott Thompson
Elenco: Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Ludacris, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Joaquim de Almeida, Don Omar, Dwayne Johnson
Duração: 130 min.