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Crítica | Velozes e Furiosos 10

Corrida maluca.

por Felipe Oliveira
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É tudo sobre família, sobre fé, sobre carros, velocidade… ou ao menos, estes são os valores que têm sido constantemente tratados como o coração da franquia Velozes e Furiosos, e nesse décimo capítulo, é evidente como tais princípios não conseguem gerar comoção alguma na dinâmica em que os personagens são programados para operar. E como um início de um desfecho dividido em três partes, a linha proposta pelo roteiro de Dan Mazeau e Justin Lin é de acenar para outros títulos da saga enquanto pavimentam a ação final, tendo como ponto de partida a sequência mirabolante chave: o roubo do cofre em Operação Rio, o que serve para a introdução do “Thanos” que Toretto não viu chegando: Dante, vivido por Jason Momoa.

A ideia é uma forma da saga continuar se conectando com o próprio universo e também sugerir que terá mais exageros e leis da física sendo violadas para caber no estilo da ação descalibrada e ordinária. Porém, há sérios problemas na sequência inicial que embala a chegada do novo vilão e a reunião de Toretto e família, tanto em termos de execução das cenas quanto da montagem que apresenta uma transição grosseira entre os planos, sem falar dos cortes abruptos que se apressam em finalizar os arcos na tentativa de compor um ritmo frenético para o capítulo que busca ser mais caótico e melancólico com folga para o alívio cômico, e não precisa de um olhar mais atento para perceber que é na confusa divisão de núcleos e locações que a direção de Louis Leterrier disfarça a falta de propósito do filme.

É um tanto irônico como o filme acredita estar em seu melhor momento e servindo entretenimento com sua proposta, e nisso, entregar contrapontos para a própria premissa. O primeiro momento que elucida isso é quando o histórico de Toretto e família é posto para reflexão “como se fizessem parte de uma seita de carros”, o que faz pensar que é exatamente esse o legado: uma franquia que foi remodelando seu mote inicial injetando facetas de outros subgêneros de ação até atingir esse nível esdrúxulo do absurdo sem limites, porém, Fast X quer ter mais fanservice, ser mais nostálgico, um Guerra Infinita se preparando Ultimato; a graça nisso é que a referência da ação em Velozes e Furiosos é por ser descarada, ao contrário da ideia que ridiculamente alude, de uma franquia que evoluiu e expandiu um estilo.

O segundo momento que exemplifica a contradição das ideias é da set piece exagerada da vez, na sequência de uma bomba rolando pelas ruas de Roma, e por que isso não pode servir como uma metáfora à própria franquia: uma bomba que continua rolando e que promete explodir com mais duas sequências, a próxima prevista para 2025? E nessa primeira parte de mais de duas horas, o que sobra não justifica a promessa, contudo, Fast X foi estruturado para isso ao compor uma trama que se estende como um episódio de uma minissérie dividida em três capítulos, só organizando as peças, interrompendo cenas sem propósito e deixando os respectivos núcleos deslocados. Para continuar existindo, Velozes e Furiosos só precisa superar o número absurdo anterior de ação e reforçar os discursos sobre — e estender — a família.

O fio de divertimento que resta, uma exceção não proposital, foi a inclusão de Momoa. Fica nítido a escolha de deixá-lo fazer sua performance para quem é vendido como o maior vilão que Toretto enfrentou, e o que temos é um combo de inspirações e trejeitos que resultam num Momoa que se diverte sendo canastrão. Seu Dante é um megalomaníaco que remete a Jack Sparrow, Charada, Coringa e Jigsaw além de — não intencionalmente — apresentar traços queer. A ideia de “maior ameaça” termina oferecendo o oposto do espetáculo da ação mirabolante e arcos desconexos, um entretenimento à parte graças ao método adotado por Momoa, o que supera o personagem escrito para ser um homem pirado em busca de vingança. Um bom exemplo disso é a zombaria que ele empresta ao dizer que Dominic já pode virar santo por toda sua devoção pela família, o que, claro, recai para a atuação hiper automática de Diesel, porém, esse humor é mais uma consequência inesperada do personagem do que autoparódia.

Se Vin Diesel é Toretto e Toretto é Vin Diesel (sem distinção), os demais do elenco se divertem ao, de fato, darem vida a personagens caricatos e que funcionam dentro do que o roteiro pede para reproduzirem: uma autoparódia automática para papéis que são recorrentes. Tendo isso em mente, Velozes e Furiosos 10 é uma demonstração do encerramento da saga: sequências de ação sem critério e o apelo para a auto-homenagem pelo exercício melodramático da nostalgia. Mesmo para um final que busca o ápice e consegue ser anticlimático, mostra que Leterrier sabe no que se meteu e vai continuar esticando todos os elementos conhecidos da franquia, interrompendo a ação como cliffhanger e tentando o emular o ato que o MCU fez em três fases com três filmes.

Velozes e Furiosos 10 (Fast 10 – EUA, 2023)
Direção: Louis Leterrier
Roteiro: Dan Mazeau, Justin Lin
Elenco: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Jasom Statham, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Ludacris, Nathalie Emmanuel, Charlize Theron, Jason Momoa, John Cena, Sung Kang, Helen Mirren, Brie Larson, Scott Eastwood, Alan Ritchson, Daniela Melchior, Leo Abelo Perry, Rita Moreno
Duração: 141 min.

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