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Crítica | Vampiros: A Sede Pela Verdade

Um instigante documentário sobre a mitologia dos vampiros na literatura e outras mídias.

por Leonardo Campos
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Documentários são recursos fascinantes quando estamos diante da elucidação de um tópico temático específico e este Vampiros: A Sede Pela Verdade, lançado em 1996 e depois veiculado em DVD aqui no Brasil, não foge à regra. Algumas produções servem para comprovar o percurso de pesquisa diante de uma análise, outros refutam a nossa caminhada. No caso da produção analisada, temos ao longo de seus 120 minutos, uma abordagem que só delineia tudo aquilo presente na pavimentação que tenho feito acerca da mitologia dos vampiros por aqui: a centralização de Drácula, de Bram Stoker, como narrativa que emula os elementos mitológicos destes seres sugadores de sangue/energia, romance que desde sua publicação em 1897, estruturou tudo aquilo que o cinema, o teatro, a televisão e outras tantas mídias tem utilizado como base para contar histórias sobre estas as sanguinolentas criaturas da noite. Com um tom que mescla uma boa base de referências históricas, literárias e cinematográficas, o documentário aparentemente mais do mesmo se revela uma opção muito assertiva para a melhor compreensão do tema que repele e fascina, concomitantemente.

Em Vampiros: A Sede Pela Verdade, temos uma linha explicativa para a formação da mitologia vampírica, com inserção de narração, depoimentos de especialistas, cenas de filmes, trechos de obras literárias e reportagens, dentre outros. É um material abundante, interessante não apenas para quem está diante da interpretação do legado e do impacto cultural do romance de Bram Stoker: também funciona, em seu tom didático, de maneira eficiente para curiosos, fãs da temática e apreciadores de conhecimentos gerais. Escrito e dirigido por Ruben Nobre, o documentário expõe a sua temática com visuais atraentes, produzidos por Daerick Gross e ainda investe em trilha sonora original, conduzida por The Dark Theater, conteúdos que não são inovadores, tampouco memoráveis, mas colaboram na fluência do que é demonstrado.

Em linhas gerais, a produção traz como foco o romance Drácula e, por meio deste clássico, faz as suas idas e vindas, perpassando a história dos vampiros. Em seu painel de curiosidades, o roteiro expõe que o mencionado livro estabeleceu uma espécie de base definitiva para a mitologia em questão. Assim, temos uma extensa explanação do processo de composição da obra-prima do escritor irlandês Bram Stoker, antecipação para um interessante trecho que destaca a presença do vampiro em outras culturas. Os depoimentos começam com Roma e Grécia. Sabemos que a maior proximidade do mito com estas culturas é a figura de Lâmia, um personagem da mitologia grega que se envolveu numa “treta” com Zeus e acabou se dando muito mal. Para os australianos, os vampiros são seres que vivem ao redor de árvores, atacam viajantes, algo muito comum do folclore da região, nos levando para a máxima “toda cultura tem seu vampiro”.

Para os japoneses, tais criaturas são representadas por um enorme gato preto que suga o sangue de suas vítimas ao atacar. Ainda sobre os gregos, somos informados que há o mito de Vlacolaca, um monstro com semelhanças em relação ao tema aqui abordado, figura que possui uma rotina especifica aos sábados. No Egito Antigo e no território americano pré-colombiano, houve também a passagem dos vampiros, bem como na Índia, representado por uma criatura alada, a deusa Kali. Como podemos observar, estes seres são globais, fixados em culturas diversificadas. Após traçar este panorama, os realizadores do documentário retornam para o ponto nevrálgico da narrativa: o Conde Drácula, personagem que se tornou um clássico, mas não ficou imune diante de alguns críticos que o consideraram vulgar e sensacionalista. Ademais, há uma interessante associação contextual com os desdobramentos da teoria darwiniana para a evolução e as representações animalescas no livro, um passo pra trás na linha da humanidade.

Com sobreposição de mapas e edição que mescla sons de lamento, gritos, trovões e outras sonoridades que coadunam com a atmosfera típica do horror, a produção delineia a importância de Vlad, O Empalador, na formatação do vampiro de Stoker, também inserindo as contribuições da jornada de Elizabeth Báthory, a Condessa de Sangue, na composição do que é colocado pelo autor em seu livro. Com entrevistas a colocar os depoentes em primeiro plano, temos também uma apresentação da cultura romena atual, juntamente com uma radiografia dos Montes Cárpatos e sua geografia ideal para inserção de uma mitologia rondada por muitos mistérios. Trechos de reportagens também são acoplados, por meio de informações sobre casos curiosos de covas reabertas por conta da desconfiança de cidadãos da região em relação aos acontecimentos macabros explicados, para muitos, por meio da superstição.

Na segunda parte, após a pavimentação da mitologia em associação com fatos históricos prévios e posteriores ao advento de Drácula, temos a análise do personagem nas mídias do século XX, em especial, o cinema. De forma ascendente, temos: a polêmica em torno de Nosferatu, de F. W. Murnau, clássico expressionista que foi alvo de perseguição da justiça após a viúva de Stoker processar os realizadores por plágio, filme que quase se perdeu completamente, pois a sentença dizia ser obrigatória a destruição de todas as cópias, algo que não aconteceu; a estreia da peça Drácula em Londres e na Broadway; o desempenho de Bela Lugosi como o conde na tradução do romance pela Universal, narrativa que estabeleceu um padrão costumeiramente adotado na posteridade; a versão espanhola filmada nos mesmos locais da produção estadunidense, lançada concomitantemente; as cores e a vibração de Drácula na Hammer, imortalizado por Christopher Lee; uma contemplação longa da adaptação de Francis Ford Coppola, lançada em 1992, considerada uma das melhores; sem deixar de passar pelo vampiro nas histórias em quadrinhos e em cenas da vida real, numa reflexão que ainda contempla transfusões de sangue, vampiros que caminham em nosso cotidiano por meio da adoção desta mitologia pelo público jovem.

No geral, um documentário didático, rico em informações e também montado por meio de recursos que garantem um bom momento de entretenimento.

Vampiros: A Sede Pela Verdade (Vampires: Thirst For the Truth – EUA, 1996)
Direção: Ruben Norte
Roteiro: Ruben Norte
Elenco: J. Gordon Milton, Chris Sarandon, Donald Glut, David Skal,
Duração: 120 min

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