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Crítica | Valérian e Laureline: O Embaixador das Sombras

Tentativa de dominação.

por Luiz Santiago
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Apesar de o filme de Luc Besson (Valérian e a Cidade dos Mil Planetas) ter um título retirado de outro álbum da série, seu roteiro foi majoritariamente baseado neste O Embaixador das Sombras, sexto volume das aventuras de Valérian e Laureline pelo Universo. Nesta ocasião conhecemos o Ponto Central, uma vasta estação espacial que fica numa encruzilhada cósmica, com muitas raças alienígenas integrando-a com um segmento que simula as condições principais de seu planeta natal. Para quem assistiu ao filme, basta lembrar da fenomenal da sequência de abertura, ao som de Space Oddity, para ter uma ideia da configuração desse colosso. Para mim, esta é uma das cenas mais bonitas do longa e uma das mais belas em ficções científicas no audiovisual e com enredos sobre o desenvolvimento do homem para a conquista do espaço e seu contato pacífico com as etnias de seu próprio planeta ou com raças de outros lugares do Universo.

Neste um tanto desfocado Embaixador das Sombras, Valérian e Laureline estão indo em direção ao Ponto Central, guiando o novo Embaixador da Terra. Pouco antes de eles chegarem à estação, o embaixador os chama em seus aposentos e diz que pretende aproveitar o fato de que é a vez da Terra presidir o Conselho para “trazer ordem à Galáxia propondo uma federação com a Terra como dominadora”. É uma posição que toma a dupla de exploradores de surpresa, porque um dos principais acordos no Conselho de Ponto Central era o de que nenhum país deveria ter maior poder que os outros. A diplomacia deveria ser a base das relações ali, e mesmo que a colossal estação tenha muitos problemas internos, ao menos neste aspecto político têm-se evitado uma quebra tão negativa de tradição.

Se em Bem-vindos a Alflolol a dupla Pierre Christin e Jean-Claude Mézières explorou a existência de um colonialismo predatório, aqui em Embaixador das Sombras a temática (ou ponto de vista) abordado é o do imperialismo. O enviado da Terra tem a intenção primária de tomar, se necessário à força, as rédeas do funcionamento sociopolítico de Ponto Central – algo que evidentemente também implica em benefícios econômicos para o dominador e boicote para os não-alinhados a ele. E com isso, temos mais uma prova do que ficou sugerido lá na trama de Alflolol: Galaxity não é tão incrível, pacífica e maravilhosa quanto se imaginamos no início da série.

Ponto Central e as algumas das raças que habitam nessa estação.

Apesar de ter uma premissa muito interessante e momentos que isoladamente dão uma boa discussão (a exploração cada vez maior do pobre Transmutador Selvagem de Bluxte, um pequeno bichinho que é capaz de defecar muitas cópias de tudo aquilo que ingere é um exemplo), eu acredito que o roteiro simplesmente se perdeu. Christin apresenta o tema, dá todas as condições para que a investigação aconteça logo após o sequestro do Embaixador e, por tabela, de Valérian, mas a história se bifurca no caminho, virando mais uma aventura de conhecimento de Ponto Central do que qualquer outra coisa. E o problema não é essa escolha, propriamente dito. É o fato de a trama ter sido apresentada dentro de uma esfera puramente política, de caráter imperialista, e desavisadamente migrar para encontros de Laureline e de um “oficial-protocolo” com diversas raças.

Quanto mais nos aproximamos do final, mas frustrante a história geral fica. Olhando isoladamente, porém, dá para destacar o encontro de Laureline com os alienígenas que conseguem criar sonhos/representações; e principalmente aquele encontro revelador com o último povo, com o qual os artistas quiseram fazer paralelos com populações africanas, as pioneiras da humanidade e que aqui também assumem o pioneirismo na fundação do Ponto Central… até que perceberam o quanto tudo aquilo era fútil e se retiraram para uma vida onde tudo observam, mas interferem apenas quando muito necessário. Só essa parte daria um volume inteiro, e muito bom inclusive, porque o tema discutido é rico. Mas integrando a linha paralela de uma história com outra intenção, esse e outros blocos acabam sendo distrações, tirando tempo de desenvolvimento necessário do argumento principal, que, como já era de se esperar, é finalizado às pressas e sem nenhum charme. Mesmo sendo uma boa aventura, foi a que mais me decepcionou na série até o momento.   

Valérian e Laureline: O Embaixador das Sombras (Valérian et Laureline: L’Ambassadeur des Ombres) — França, 1º de julho a 1º de outubro de 1975
No Brasil: Valérian Integral N°3 (Edição Especial – Sesi-SP Editora, 2018)
Publicação original: Revista Pilote M14 a M17
Editora original (encadernado): Dargaud
Roteiro: Pierre Christin
Arte: Jean-Claude Mézières
Cores: Évelyne Tranlé
48 páginas

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