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Crítica | Unicorn: Warriors Eternal – 1ª Temporada

O delírio steampunk de Tartakovsky.

por Ritter Fan
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Imaginem uma animação com estética steampunk feita por uma fusão mágica de Osamu Tezuka, Hayao Miyazaki e Max Fleischer e que é uma releitura completamente enlouquecida e totalmente original das lendas arturianas. Agora imaginem essa fascinante amálgama lentamente saindo da mente de ninguém menos do que Genndy Tartakovsky ao longo de algo como 20 anos. Como resistir, não é mesmo?

Se essa por si só surreal combinação não é o suficiente para atrair qualquer apreciador de animação a Unicorn: Warriors Eternal, que gestou por uma infinidade de tempo na mente febril de Tartakovsky até finalmente ver a luz do dia pelo Cartoon Network/HBO Max, talvez seja o caso de conferir os batimentos cardíacos. Mas a boa notícia para aqueles que, por alguma razão completamente incompreensível, não se sentirem atraídos pela série de 10 episódios, é que a obra tem muitos outros predicados para atrair globos oculares mundo afora.

Para começo de conversa, a premissa básica da história, que gravita ao redor de três guerreiros e um robô que lutam há milênios contra um mal sem nome que ressurge de era em era, é universal o suficiente para atravessar as mais variadas culturas e agradar os mais diferentes gostos. O robô mudo, mas extremamente comunicativo, que se chama Copérnico, funciona como vetor das almas dos guerreiros primordiais – um elfo azul que brande uma espada senciente, uma feiticeira que controla um vasto e sombrio poder e um monge que transita entre o mundo real e o plano cósmico — e, quando necessário, ele desperta para promover as necessárias reencarnações em pessoas em tese normais que, então, despertam para essa nova realidade. No entanto, uma força sinistra acorda Copérnico antes do tempo e ele instala as almas em versões ainda muito novas dos “guerreiros eternos” (o Unicórnio do título é como o nome do grupo), fazendo com que a jovem Emma (Hazel Doupe), prestes a se casar com Winston (George Webster), transforme-se pela “metade” na feiticeira Melinda, criando um conflito entre as duas personalidades, o menino Alfie (Demari Hunte) converta-se no monge Seng (Demari Hunte), mas sem controle total de seus poderes e o charlatão Dimitri Dynamo (Tom Milligan) no elfo Edred que, apesar de mais jovem que de costume, é o único a manter poderes e personalidade intactas.

Essa estrutura de “guerreiros aprendendo a ser guerreiros” pode até ser batida, mas Tartakovsky, como de costume, imprime personalidade própria a ela, algo que pode ser creditado justamente pela fascinante mistura que mencionei no parágrafo de abertura e que permanece presente do começo ao fim da temporada, só ganhando ainda mais elementos de fontes clássicas, como a abordagem à la O Senhor dos Anéis para o passado de Edred e uma transformação interessante que acaba tornando possível a ampliação da equipe. Além disso, os personagens são imediatamente cativantes. Seja o adorável e versátil Copérnico, ou o sempre resoluto Edred ou, mais importante ainda, a constantemente em dúvida Melinda, cada um é desenvolvido por completo em arcos que podem até parecer apressados, mas que eu vejo como o suprassumo da precisão narrativa.

E o que dizer do design desse universo steampunk que oferece surpresas visuais a cada momento, ora invocando uma criatura lovecraftiana, ora retornando ao passado remoto para lidar com origens que por si só mereciam spin-offs? É como um literal colírio ver Tartakovsky e equipe quase que mediunicamente invocarem à perfeição Tesuka, Myasaki e os irmãos Fleischer em um conjunto harmônico que não só homenageia esses monstros da animação mundial, como resulta em uma obra única que em momento algum trai o próprio legado de Tartakovsky, algo que só é amplificado por trabalhos de voz de se tirar o chapéu e edição e mixagem de som que merecia de imediato todas as premiações possíveis.

Mas Unicorn: Warriors Eternal não é sem pecados. Diria, porém, que são pecadilhos, nada de muito sério. O primeiro e mais evidente deles é que o “mal” contra o qual os guerreiros lutam é demasiadamente difuso, ainda que ganhe rosto no início e no final, algo que não é suficiente para que o espectador entenda o que exatamente está em jogo e o quão grande é a ameaça para a heterogênea equipe. Pode ser que isso se resolva na próxima temporada, já que o final é aberto e altera completamente o status quo (não é um defeito, apenas uma constatação), além conter uma revelação interessante, mas não posso esperar algo que ainda pode – ou não acontecer – para tecer meus comentários sobre a temporada inaugural.

Outro pecadilho é a introdução tardia de um personagem – um animal antropomorfizado – que acaba sendo importante por alguns minutos até ele simplesmente não mais ser. Mesmo que ele até ganhe contexto ao aparecer em um flashback, mesmo isso não o retira da unidimensionalidade e não torna seu uso, ao final, particularmente relevante para além de uma conveniência de roteiro que merecia ter ou sido eliminada ou ganhado roupagem mais digna como as de seus pares.

Genndy Tartakovsky, mesmo tendo desapontado com a segunda temporada de Primal, parece ter acertado em cheio com sua nova criação. Há um potencial enorme em Unicorn: Warriors Eternal que, espero, ele consiga desenvolver como conseguiu em Samurai Jack.

Unicorn: Warriors Eternal – 1ª Temporada (Idem – EUA, de 05 de maio a 30 de junho)
Criação e desenvolvimento: Genndy Tartakovsky
Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Darrick Bachman, Genndy Tartakovsky
Elenco: Hazel Doupe, Grey DeLisle, Marley Cherry Hilborne, Demari Hunte, Alain Uy, Victor Alli, Tom Milligan, Jacob Dudman, Jeremy Crutchley, George Webster, Ron Bottita, Rosalind Ayres, Gildart Jackson, Peta Johnson, Sunkrish Bala
Duração: 220 min. (10 episódios)

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