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Crítica | Uncle Frank

por Roberto Honorato
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SPOILERS!

O caso de filmes como Uncle Frank é curioso porque é o tipo de obra que carrega tudo para um bom filme, e até faz um trabalho competente ao executar alguns aspectos, mas também compromete uma experiência mais completa quando parece não perceber que houveram várias chances de criar algo diferente, então decidiu seguir um rumo ordinário demais. Não que isso seja ruim, mas é um lado que também impede o filme de ser mais ousado e original, considerando os temas abordados e a quantidade de produções fazendo o mesmo com o material.

Beth (Sophia Lillis) é a típica jovem de cidade pequena procurando por uma vida melhor na cidade grande, e para isso ela tem o auxílio de seu tio, Frank (Paul Bettany), que se mudou para Nova York e agora pode estar mais perto dela. Um intelectual, Frank atua como professor e parece ter uma boa vida, mas esconde um segredo que pode estragar ainda mais a relação que tem com sua família conservadora, principalmente agora que precisa retornar para sua cidade natal e lidar com o enterro do pai, que sempre o tratou mal. Ao lado de Beth, Frank precisa encarar sua realidade e confrontar os demônios do passado, além de tomar coragem para revelar que já mora há um bom tempo com Wally (Peter Macdissi), seu parceiro.

Paul Bettany tem sido um ator bem conhecido por seus papéis de coadjuvante (como fez nos filmes da Marvel, onde interpreta Visão, por exemplo), então é interessante vê-lo assumir uma posição de protagonista nesse filme, mesmo que precise dividi-la com Sophia Lillis, que funciona também como a narradora, mas é uma presença mais passiva na narrativa. Bettany faz um ótimo trabalho conciliando sua performance tranquila com inesperadas sequências mais explosivas, que são fortalecidas quase exclusivamente por sua atuação, isso porque, tirando o elenco, que é de longe o destaque do filme, Uncle Frank é uma obra inconsistente.

Criador da série Six Feet Under, aqui Alan Ball assume a direção. Algumas paralelos podem ser feitos com seus trabalhos anteriores e Uncle Frank parece reciclar um pouco a estrutura de Beleza Americana, que Ball roteirizou, até mesmo na narração pontual de Lillis. Mas esse não é o problema, que na verdade é a execução óbvia e previsível para mais uma história de personagem em dilema sexual, que passa o filme inteiro evitando o inevitável confronto com sua própria identidade.

Além disso, há o uso quase excessivo de flashbacks, que deixa claro o seu propósito no começo, mas não dá espaço para o espectador se unir ao protagonista em suas reflexões, e assim retornamos constantemente para o mesmo ponto do passado traumático de Frank, essencial para a trama, mas previsível depois de tantas inserções em momentos sugestivos. Também temos algumas viradas da trama que tiram um pouco do peso dos temas delicados do longa, que em primeiro caso estavam sendo tratados com cuidado e uma abordagem mais contemplativa, mesmo que não trouxessem algo de novo. 

Uncle Frank tem um elenco competente ao ponto de segurar a atenção do espectador para um filme charmoso e que sabe dosar humor e drama, mas também não tem coragem o suficiente para sair de uma estrutura que já ficou batida e poderia receber uma abordagem menos previsível. Não é ruim, mas também não sai da zona de conforto, o que pode ser decepcionante.

Uncle Frank – EUA, 2020
Diretor: Alan Ball
Roteiro: Alan Ball
Elenco: Paul Bettany, Sophia Lillis, Peter Macdissi, Steve Zahn, Judy Greer, Margo Martindale, Stephen Root, Lois Smith, Jane McNeill, Caity Brewer, Hannah Black, Michael Banks Repeta, Isabella Pambianchi, Burgess Jenkins, Zack Strum
Duração: 95 min.

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