Baseado na minissérie britânica Quatermass and the Pit e continuação de Terror que Mata e Quatermass 2, Uma Sepultura na Eternidade funciona plenamente como uma obra fechada em si própria, não requisitando um conhecimento prévio do espectador sobre as histórias anteriores do protagonista, o Prof. Bernard Quatermass (Andrew Keir). O filme segue uma estrutura bastante típica da ficção científica da época, com uma produção e roteiro que muito nos lembram episódios de Doctor Who, especialmente a era do Terceiro Doutor, vivido por Jon Pertwee, que pode ser facilmente comparado a Quatermass, que, no caso, o precedeu por alguns anos.
Iniciamos a projeção em uma escavação, uma expansão do metrô de Londres, onde encontram estranhos esqueletos de humanóides. A descoberta, porém, não se encerra por aí. Uma espécie de espaçonave também é encontrada, embora muito rejeitam a noção, considerando apenas um vestígio dos ataques nazistas durante a Segunda Guerra. Não muito longe dali Bernard Quatermass descobre o incidente e é praticamente forçado a investigar, tanto por ordens quanto pela sua própria curiosidade. Mal sabia, contudo, que o material encontrado está longe de estar inativo.
Uma Sepultura na Eternidade lida com diferentes conceitos tanto da ficção científica quanto do folclore ocidental. Une as noções de alienígenas e antigas crenças, procurando oferecer uma explicação para a origem da raça humana, ao mesmo tempo que mantém sua narrativa em um constante suspense que rapidamente engaja o espectador. Utilizando uma linguagem da televisão da época, mantendo uma estrutura clássica, o longa enfatiza unicamente a progressão da trama, apoiando-se nos efeitos práticos, alguns especiais e no trabalho de direção, que traz dos diversos personagens o espanto que procura causar na audiência.
Nesse aspecto notamos claramente que o filme sofreu um pouco com o passar dos anos, atuações exageradas preenchem as cenas mais agitadas, onde o incrível, agora em 2015, não passa de apenas mais um exemplo da ficção científica já tanto explorada. A tentativa de criar uma maior tensão, portanto, acaba sofrendo especialmente considerando que, na maior parte da obra, apenas vemos alguns objetos voarem de um lado para o outro da tela. O realismo acaba se perdendo em inúmeros pontos da narrativa, mas felizmente nossa imersão é resgatada no frenético clímax, que surpreendentemente mantém o tom de suspense presente em todo o filme.
Nesse aspecto, Uma Sepultura na Eternidade se sobressai a outros exemplos do gênero, tanto de sua época quanto da atualidade. Não há uma superexposição do elemento estranho que gera toda a problemática da trama. Ele é mantido em uma aura de mistério, mais explicado por teorias que por fatos em si. O resgate de elementos do misticismo, mesclados com explicações científicas funciona em todos os aspectos da obra, tornando esta uma ficção científica por excelência. A ausência de atos de heroísmo ainda amplia essa noção, criando uma sórdida sensação de desamparo no espectador, especialmente nos momentos finais que encerram a narrativa de forma abrupta, mas satisfatória, deixando aquele notável “gosto de quero mais”.
Trata-se, portanto, de um longa-metragem bastante simples, que claramente foi retirado de episódios feitos para a televisão. Mas em nenhum ponto isso é algo ruim, há uma nítida despretensão que apenas nos faz gostar mais da maneira como é conduzido. É marcado, sim, por alguns deslizes, mas, em geral, Uma Sepultura na Eternidade é um ótimo exemplo de como o sci-fi não precisa de granes megalomanias para nos cativar, bastando incentivar nossa criatividade e trabalhar em um nível mais psicológico, ao invés do puro espetáculo de explosões e lasers.
Uma Sepultura na Eternidade (Quatermass and the Pit – Reino Unido, 1967)
Direção: Roy Ward Baker
Roteiro: Nigel Kneale
Elenco: James Donald, Andrew Keir, Barbara Shelley, Julian Glover, Duncan Lamont, Bryan Marshall
Duração: 97 min.