Este curta-metragem é um dos episódios do filme coletivo Henri Langlois vu par…, uma homenagem lançada em 2014, por ocasião da comemoração de 100 anos de nascimento de Henri Langlois (1914 – 1977), o badalado fundador da Cinemateca Francesa (1936), ao lado de Georges Franju, Jean Mitry e Paul-Auguste Harlé. No filme, temos a presença de alguns cineastas de diferentes países, que se veem como “discípulos” de Langlois. A proposta da obra é, em poucos minutos de cada convidado, apresentar memórias, vivências ou estudos desses diretores que, de alguma forma, estão conectados a um dos incentivadores do cinema mais icônicos do século XX, juntamente com André Bazin.
No grupo de diretores que prestam homenagens a Langlois (lembrando que o curta inteiro tem 30 minutos de duração), temos Bernardo Bertolucci, Souleymane Cissé, Francis Ford Coppola, Stephen Frears, William Friedkin, Costa-Gavras, Kiyoshi Kurosawa, Manoel de Oliveira, Roman Polanski, Jean-Paul Rappeneau, Volker Schlöndorff , Wim Wenders e Agnès Varda. É desta única mulher no meio dos homenageadores que voltaremos a nossa atenção neste pequeno texto, para falar da visão da diretora sobre uma certa viagem realizada ao lado de Langlois, “há muito tempo“, para um país do Leste Europeu.
Uma Saudação a Henri Langlois dialoga com o público a partir da dúvida da protagonista (a própria Varda) quanto aos detalhes do acontecimento apresentado. Ela estabelece que “viajou com Henri” para… talvez… a Albânia, ou Bulgária, ou Romênia… a fim de participar de um evento cinematográfico. Seria para falar de La Pointe-Courte (1955)? A cineasta-narradora titubeia. Mas a imagem fala, e fala muito. Na tela, ela exibe cartões-postais; mostra fotos, fotogramas e determina um chão dramático instigante, um pouco cômico e um pouco caótico, onde se assentará a joia do curta, a “história das duas gravatas“.
Em pouco mais de dois minutos, Agnès Varda conta uma anedota simpática, dirigindo a sua narração em busca do tempo certo desse evento; mostrando detalhes do espaço em que ele aconteceu (a pequena encenação dentro do documentário) e deixando para o público a sua visão, a sua experiência com esse “homem de cinema” que ela tanto respeitava. A técnica da exposição por repetição (não das fotos ou das falas, mas do método para trazer coisas diferentes à tona) talvez afaste alguns espectadores, mas vale ressaltar que este formato narrativo tem um propósito bem específico aqui, indicando a dubiedade/fragilidade da memória, mas afirmando que, apesar das nuvens do tempo apagar os detalhes, a essência de alguém do passado permanece nos que conviveram com ele. E essa permanência é tão forte, que consegue ser adaptada para a grande tela. Sorte nossa.
Uma Saudação a Henri Langlois (Un salut à Henri Langlois) — França, 2014
Direção: Agnès Varda
Roetiro: Agnès Varda
Elenco: Agnès Varda (voz/narração)
Duração: 2 min.