Se a segunda continuação de Uma Noite no Museu tem um mérito – e o filme não tem muitos outros – é reunir, em seu elenco, pela última vez, três lendas da Sétima Arte, duas delas falecidas em 2014. Isso, por si só, já faz dessa produção, que de outra forma seria completamente descartável, algo digno de nota.
Infelizmente, é provável que esse mérito não seja lembrado por seu público-alvo e, mais infelizmente ainda, talvez nem mesmo pelos pais desse público-alvo. Afinal, estamos falando não só do intempestivamente falecido Robin Williams, reprisando seu papel de Teddy Roosevelt na franquia, literalmente sua última aparição nas telonas, como, também, do lendário Mickey Rooney (igualmente falecido em 2014), repetindo o papel de Gus, do primeiro filme e Dick Van Dyke, talvez mais conhecido como o adorável Bert, em Mary Poppins, também reprisando seu papel da fita original. E há um bônus: vemos Van Dyke, no auge de seus bem vividos 89 anos, dançando alegremente com simpáticas senhorinhas.
É certo que essa fantástica reunião poderia ter acontecido em um filme mais merecedor desse peso artístico todo, mas, no final das contas, por mais repetitivo que Uma Noite no Museu 3 seja, não dá para simplesmente descartá-lo se você for um cinéfilo de verdade. Não é sempre que vemos tamanhos talentos juntos nas telonas – mesmo que no caso de Rooney e Van Dyke, por apenas alguns segundos – além de podermos nos despedir apropriadamente de Robin Williams, que filmou toda sua participação antes de nos deixar, aparecendo do começo ao fim da projeção em papel-chave.
Bem, em termos cinematográficos, como já deixei claro, o filme é mais uma repetição da premissa do original em um novo museu, ou seja, exatamente a mesma estratégia usada em Uma Noite no Museu 2. A única diferença é que, agora, o novo museu fica do outro lado do Atlântico, em Londres. Trata-se de Museu Britânico, para aonde parte a trupe formada pelo guarda noturno, responsável pelos “efeitos especiais” do Museu de História Natural de Nova York e bilionário Larry Daley (Ben Stiller), o faraó Ahkmenrah (Rami Malek), o cowboy Jedediah (Owen Wilson), o imperador romano Octavius (Steve Coogan), a nativa Sacajawea (Mizuo Peck), Átila, o Huno (Patrick Gallagher) e Teddy Roosevelt (Williams), além do macaco capuchinho Dexter (na verdade Crystal the Monkey) partem em uma missão para descobrirem, com o faraó Merenkahre (Ben Kingsley), pai de Ahmenrah, o que está acontecendo com a tabuleta mágica de ouro que dá vida ao museu à noite, já que ela vem falhando em suas propriedades.
E tudo é uma desculpa para novos personagens aparecerem e um dilúvio de efeitos em computação gráfica serem usados. O primeiro novo personagem é Laaa, um novo Neanderthal do museu novaiorquino que surge do nada e é vivido pelo próprio Stiller unicamente para gerar a repetição infinita de uma mesma piada: Laaa acha que Larry é seu “papai” e o imita em tudo, situação que ecoa a também repetitiva situação gerada pela relação entre Larry e seu filho Nick (Skyler Gisondo). Simpático da primeira vez. Absolutamente irritante todas as outras 350 vezes. Mas há também a guarda do Museu Britânico, Tilly, vivida por Rebel Wilson que, com base no sucesso de Missão Madrinha de Casamento, deve realmente achar que tem tino para comédia enquanto que o que ela tem, na verdade, é uma grande capacidade para gerar vergonha alheia. Há, também, Sir Lancelot (Dan Stevens) em um papel não só mal escrito, como pouquíssimo efetivo para impulsionar a narrativa, que nada mais é do que uma sucessão de enlouquecidas perseguições pelo Museu Britânico.
Definitivamente, o roteiro não dá conta de tantos personagens (há até outro dinossauro, dessa vez um triceratops) e ele se perde em histórias paralelas que só estão lá para fazer com que o filme consiga chegar na duração regulamentar de pouco mais do que 90 minutos. Nem mesmo há um vilão de verdade, uma oposição à missão para lá de boba e simplista que os heróis têm que cumprir. É literalmente como se o roteiro fosse um detalhe pensado depois que todas as diversas situações separadas foram criadas em um brainstorming típico de Hollywood.
Até mesmo os efeitos especiais, agora, são lugar-comum. Se compararmos com os dois filmes que vieram antes, não há saltos significativos na tecnologia ou situações criadas ao ponto de realmente deslumbrar o espectador. É tudo muito pasteurizado, na certeza de que o público que apreciou as duas primeiras partes, voltará para a terceira e, dizem, derradeira (até que a Fox resolva fazer outra continuação ou um reboot, claro).
Mas, para não dizer que nem tudo é perdido além da já por mim laureada presença de Williams, Rooney e Van Dyke, vale destacar que, entre a miríade de piadas que já são bobas para crianças de cinco anos de idade, há algumas tiradas de brilhantismo. A primeira delas é o diálogo entre Larry e Merenhahre sobre judeus e egípcios. Os pequenos não entenderão, mas os adultos, se estiverem no espírito, terão muito material para risada (especialmente se assistiram a Êxodo: Deuses e Reis recentemente). Além dessa piada, vale especial menção à infelizmente breve luta dentro da famosa pintura Relatividade, de M.C. Escher, momento único em que os efeitos especiais são usados para simular rotoscopia, algo diferente no meio da mesmice. E, finalmente, sem estragar surpresas, há uma ponta no clímax que gera ótimas risadas.
Porém, parafraseando o Gaguinho, “isso é tudo pessoal”. Não há mais nenhuma qualidade em Uma Noite no Museu 3 que justifique sua existência, além dos cifrões na caixa registradora da Fox. Uma pena diante de um elenco desse naipe (e não, não estou falando de Ben Stiller ou Rebel Wilson).
Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (Night at the Museum: Secret of the Tomb, EUA/Reino Unido – 2014)
Direção: Shawn Levy
Roteiro: David Guion, Michael Handelman
Elenco: Ben Stiller, Robin Williams, Owen Wilson, Steve Coogan, Ricky Gervais, Dan Stevens, Rebel Wilson, Skyler Gisondo, Rami Malek, Patrick Gallagher, Mizuo Peck, Ben Kingsley, Dick Van Dyke, Mickey Rooney, Bill Cobbs
Duração: 98 min.