Com uma narrativa que bebe do mesmo ritmo veloz de Amélie Poulain, essa comédia francesa se mantém longe do comodismo romântico e entrega uma história regada a situações fantasiosas e incríveis. É a partir de uma gravação de vídeo de segurança que a história é desenrolada. O diretor usa recursos como saltos temporais e cortes para deslocar a trama e criar um ritmo favorável que desmonta a obviedade esperada desse tipo de gênero.
Dirigido e protagonizado por Albert Dupontel, o longa-metragem utiliza a premissa de uma juíza – interpretada por Sandrine Kiberlain – tão focada na carreira que a distanciação de si mesma a deixa cega para o fato de que está vivenciando uma gravidez em estágio avançado. Resultado de uma noite de blecaute alcoólico. Dupontel entra na história como réu em um caso envolvendo um cruel assassinato a sangue-frio.
Desse acaso surgem pistas para remontar a noite deletada da memória dessa juíza, que fica no limiar da razão. Boa parte da trama revolve em torno da busca para descobrir quem é o pai do bebê. A história toda parece manjada, mas, de algum jeito, o diretor consegue arrancar risos trabalhando novas perspectivas dentro do óbvio e do absurdo do roteiro.
Dupontel ainda se destaca na incorporação desse personagem completamente envolto por humor negro. Nele se aglutinam as cenas cômicas, o que entra em contraste com a personalidade da juíza, que se mantém insossa por grande parte do filme inteiro. Seguindo um estilo de comédia que encontra nuances equivalentes a uma interpretação sóbria, o filme consegue atingir um ponto de ebulição cômica pertinente.
Por esses motivos, o filme atraiu bilheteria e foi sucesso de crítica na França, tendo sido indicado a seis prêmios César, saindo vencedor com os prêmios de melhor roteiro e de melhor atriz. Com a ideia de absurdo e ironia, essa fita conquista o espectador pelo tom de suspense com relação ao destino dos personagens e pela cadência de situações que vão desaguar no climáx digno de uma frase de efeito shakespeariana: ser ou não ser, no caso, dizer ou não dizer uma verdade em detrimento de aceitar uma mentira.
Nada nesta obra se assemelha com o banal. Os personagens não passam por mudanças de personalidade, não há um final feliz convencional e quando apela para a emoção consegue fazer isso com sensibilidade. O que temos no fim é um longa-metragem que incorpora diversos ingredientes diferentes de uma maneira harmoniosa.
Juíza sem Juízo (9 Mois Ferme)- França, 2013
Direção: Albert Dupontel
Roteiro: Albert Dupontel
Elenco: Albert Dupontel, Sandrine Kiberlain, Nicolas Marié, Philippe Uchan, Philippe Duquesne, Bouli Lanners, Christian Hecq, Gilles Gaston-Dreyfus.
Duração: 82 min