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Crítica | Um Senhor Estagiário

por Leonardo Campos
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Uma narrativa ao estilo Nancy Meyers, afinal, é uma produção que tem o seu nome assinado no roteiro e na direção. O que isso significa? Simples: uma trama cheia de convencionalismos narrativos para que o seu ponto de partida avance, encapsulada por valiosas lições sobre projeto de vida, planejamento de carreira, relacionamento interpessoal, resiliência, dentre outros temas. Um Senhor Estagiário é uma comédia dramática divertida, motivadora e, mesmo que torçamos o nariz para algumas passagens focadas na necessidade de atender aos espectadores que buscam exclusivamente o entretenimento, há a possibilidade de se divertir sem nada ofensivo, bem como refletir sobre como nos guiamos em nossas caminhadas. Como arte de representações, o cinema permite este tipo de abordagem, algo que me faz pensar o quão arrogante é o posicionamento de determinados indivíduos situados no campo da crítica, antipáticos diante de qualquer coisa que seja simples, distante da complexidade que nem sempre é necessária para algo de valor. Dito isso, sigamos para a análise do filme.

Logo na abertura, contemplamos Robert De Niro diante de seu personagem, o carismático Ben, um homem aposentado, solitário, movido por uma vontade grande de ocupar mais o seu cotidiano. Depois da morte de sua esposa, alguém que pelo que imaginamos, viveu uma relação extraordinária, ele se sente mergulhado na solidão. Há até uma senhora com quem troca olhares, mas nada com sentimentos ou desejo profundo. Assim, ele segue para gravação de um vídeo, solicitado para a entrevista de emprego. Sim, ele se candidata ao cargo de estagiário sênior numa startup de negócios on-line. Será lá que conhecerá Jules, interpretada por Anne Hathaway, uma jovem empresária que assumiu o posto de provedora do lar, enquanto o marido Matt (Anders Holm) cuida de sua filha, ainda na educação fundamental.

 O programa de estagiários nem é uma ideia de Jules, mas de Cameron (Andrew Rannells), o seu braço-direito na empresa. Resistente no início, a jovem acha que não vai dar certo, desconsiderando as colaborações e empenho de Ben, até perceber que estava enganada e que a chegada deste senhor estagiário mudará para sempre a sua vida pessoal e profissional. Nesta jornada, ela aprenderá valiosas lições sobre empatia, necessidade de ouvir e conhecer o outro, a importância de aceitar ajuda em qualquer momento, perdendo um pouco de suas manias para compreender que sozinha, não conseguirá evoluir o quanto deseja. É um personagem que se transforma, gratificante por não ser uma evolução brusca, encaixada de qualquer jeito pelo roteiro, mas algo que vai acontecendo. Mesmo que saibamos o final, traz aquela sensação confortável no desfecho, afinal, precisamos sim de realismo, mas a vida já anda complexa demais, não é mesmo, caro leitor?

Com visual corporativo que nos aproxima da temática desenvolvida pelo roteiro, Um Senhor Estagiário possui abordagens estéticas bem delineadas para contar aos espectadores a sua história. Kristi Zea, experiente em suas jornadas de design de produção no cinema hollywoodiano, entrega um trabalho com paletas acinzentadas, toques de preto, maquinário típico de uma startup contemporânea, com espaços devidamente aproveitados para que nos sintamos parte da trama. Diante da colaboração de Stephen Goldblatt na direção de fotografia, profissional que explora ao máximo o espaço cenográfico, a direção de arte, os figurinos e os adereços, Um Senhor Estagiário entrega uma narrativa visualmente estilosa, sem nenhum recurso fenomenal ou inovação dentro da estrutura cinematográfica, mas um conteúdo que é agradável de se ver.

Ademais, persistência é uma das palavras-chave de Um Senhor Estagiário. Jules é o oposto da personagem de Hathaway em O Diabo Veste Prada, algo que torna o filme uma curiosa produção comparativa. Aqui, salvaguardadas todas as devidas proporções, ela ocupa a posição de chefe, tal como Miranda Prisestly, mas não no sentido gestora autocrática. Com o casamento em crise por causa de seu trabalho exaustivo, magnetizada pelo sucesso de seu empreendimento e nalgumas vezes, indelicada com seus funcionários, haja vista o mergulho no trabalho que a impede de enxergar sutilezas importantíssimas, Jules é um ser humano incrível, mas atormentada por suas inseguranças, medos e, por isso, às vezes é descuidada. Mas, diferente da personagem platinada utilizada como recurso de comparação, ela evolui para se tornar alguém melhor, algo que o filme deixa em aberto, depois da jornada de 121 que poderia ser um pouco menor, mas ainda assim, não prejudica a produção em geral, lançada por aqui em 2016, ajudada também pelo ritmo da ótima trilha sonora de Theodore Shapiro, emotiva e envolvente.

Um Senhor Estagiário (The Intern, EUA-2015)
Direção:
Nancy Meyers
Roteiro: Nancy Meyers
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Anders Holm, Andrew Rannells, JoJo Kushner, Zack Pearlman, Jason Orley, Christina Scherer
Duração: 121 min.

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