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Crítica | Um Maluco no Pedaço – 1X01: The Fresh Prince Project

por Kevin Rick
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Um Maluco no Pedaço
Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de Temporadas: 6
Número de episódios: 148
Período de exibição: 10 de setembro de 1990 a 20 de maio de 1996
Há reboot?: Não.

Um Maluco no Pedaço é o tipo de série que ao passar na televisão, você é praticamente obrigado a sentar e assistir. A sitcom protagonizada por Will (Will Smith) emite uma certa gravidade obsessiva ao espectador, não importando se o episódio em questão é repetido, sempre deslocando os fãs de qualquer tarefa ou rotina em ação para presenciar a carismática e disfuncional família de Bel-Air. A série é precursora de uma extensa lista de sitcoms que incorporam a fórmula do gênero televiso cômico para a realidade negra, como Black-ish, Todo Mundo Odeia o Chris e Eu, a Patroa, e As Crianças. Pioneiras vieram antes, mas a obra que catapultou a carreira de Will Smith contém sua própria originalidade dentro do gênero, revolucionando o olhar de comédia situacional na estrutura de choque do mundo urbano e da classe alta advindos da divisão racial.

Majoritariamente, séries de comédia dentro deste núcleo de exposição do racismo através do humor irônico e/ou ácido dividem-se em dois arranjos narrativos. O primeiro é mais simplório, mas bastante efetivo, que é a básica “troca” de seu habitual elenco etnicamente branco para o afro-americano, destoando várias tramas usuais do estilo de comédia, mas sustentando a mesma atmosfera despretensiosa e corriqueira. Alguns exemplos vem à mente que contextualizam esse argumento, como The Cosby Show e Eu, a Patroa, e as Crianças, que mantém a trivialidade do sistema familiar de sitcoms, mas, claro, com pequenas e pontuais críticas sociais permeando o enredo. A outra composição narrativa que explano sobre, também conserva o ambiente cotidiano e indistinto, mas dispõe de um roteiro mais enxuto e de crítica social, propagando cenários mais próximos da realidade preconceituosa da sociedade, revelando situações raciais em bairros, colégios e locais de trabalho com um teor mais pragmático. Todo Mundo Odeia o Chris é um exemplo de obra que faz isso de forma sublime, expondo conjunturas cruéis da discriminação, retendo, fantasticamente, o clima despojado.

Um Maluco no Pedaço diferencia-se destas sitcoms ao misturar os dois estilos narrativos, acompanhando um jovem do subúrbio mudando para a casa dos tios ricos, entregando uma oposição de duas realidades distintas dentro do mesmo cerne familiar e racial ao situar uma família negra endinheirada com um parente distante servindo como justaposição da veracidade do passado de Phil (James Avery) e Vivian (Janet Hubert) e do desconhecimento de seus filhos do sofrimento para a conquista do estilo de vida abastado. Já no piloto, os criadores do show, Andy Borowitz e Susan Borowitz, não economizam no humor e no desenvolvimento de temas espinhosos ao situarem um estudo de identidade do Will, contrapondo-o com a vivência quase nobre do seu tio Phil, com o protagonista afrontando o dono da mansão sobre esquecer suas raízes modestas e culturais. Essa cena resulta em um belíssimo e fervoroso debate sobre individualidade e evolução de caráter, construindo os primeiros alicerces da fabulosa relação entre Will e Phil. Fiquei surpreso que em seu primeiro episódio, a série já foi corajosa o bastante para tocar em temas delicados sobre classe e pertencimento, com ótimas injeções de referências à Malcolm X.

Tratando-se do humor provido das interações familiares dos Banks com Will, não dá para pedir uma introdução melhor. Desde a icônica abertura que é, para mim, a melhor forma como uma sitcom rapidamente imerge o espectador na obra, Will Smith é o epítome de carisma; a concentração de magnetismo cômico e empático que ele transpõe em cada piada, olhar, andar e dançar, é surreal. Você se pega rindo e ansiando por cada comentário do Príncipe de Bel-Air.  O resto do elenco não desfruta do encanto humorístico natural do protagonista, mas são extraordinários em abrirem espaço e servirem às piadas de Will. O roteiro cômico estabelece suas personalidades depressa, trazendo os estereótipos mimados de Carlton (Alfonso Ribeiro) e Hillary (Karyn Parsons) à tona em paralelo ao sagaz e malicioso Will em cada oportunidade, provendo cenas hilárias baseadas na “zoação” de contraste. A admiração de Ashley (Tatyana Ali), e o amor maternal de Vivian, rendem ótimos momentos de comédia afetuosa. Todavia, a cereja do bolo em The Fresh Prince Project é Geoffrey (Joseph Marcell), que em sua modéstia esnobe com Will me fez gargalhar alto mesmo após anos vendo a série.

Um Maluco no Pedaço sobrevive ao teste do tempo exatamente por seu roteiro estar à frente do período exibido, manuseando um divertidíssimo elenco protagonizado pelo futuro superstar Will Smith, com um pano de fundo social atemporal, já corajosamente exibido em diálogos identitários no piloto. O paralelo do desentendimento e assimilação de dois estilos de vida opostos, recheado de muito humor familiar e avaliação da pessoalidade dos personagens provenientes dos diferentes backgrounds, pintam a narrativa do primeiro episódio, temas que viriam a ser marca registrada de toda a serialização. A icônica sitcom continua fresh tantos anos após seu término.

Um Maluco no Pedaço (The Fresh Prince of Bel-Air) – 1X01: The Fresh Prince Project – EUA, 10 de setembro de 1990
Criação: Andy Borowitz, Susan Borowitz
Direção: Debbie Allen
Roteiro: Andy Borowitz, Susan Borowitz
Elenco: Will Smith, James Avery, Janet Hubert, Alfonso Ribeiro, Karyn Parsons, Tatyana Ali, Joseph Marcell
Elenco (Dublagem Brasileira): Manolo Rey, Lauro Fabiano, Geisa Vidal, Ronaldo Júlio, Gabriella Bicalho, Guilene Conte, Roberto Macedo
Duração:
23 min.

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