Massimo Dallamano fez sua estreia no cinema nos anos 1940, como diretor de fotografia, uma posição que ocuparia por mais duas décadas. Uma grande mudança em sua carreira ocorreu, porém, em 1959, quando ele dividiu os créditos de direção (com Vittorio Valentini) no documentário Tierra Mágica, abordando a geografia, a flora e a fauna da Venezuela. Os anos 1960 trouxeram para o artista um grande reconhecimento como fotógrafo (especialmente a partir do longa Sua Excelência o Trapaceiro, de Dino Risi) e também marcaram a sua estreia como diretor solo, neste western de 1967 intitulado Um Dólar Para Matar, ou, no original, Bandidos.
Assim como constatamos nos filmes de Mario Bava, que também começou sua carreira como fotógrafo e só depois assumiu a direção, vemos neste longa de Dallamano uma grande atenção aos aspectos estéticos, criando um faroeste visualmente interessante e que nos mantém presos à tela muito mais pelas chamativas movimentações de câmera e forma inteligente de filmar cenas de tiroteios, duelos, brigas e fugas (mesmo que a montagem de Gianmaria Messeri às vezes não ajude muito) do que pela história. Vale lembrar que nesta fase de sua carreira, o estreante diretor não era um novato no western. Em 1963, ele assinou a sua primeira cinematografia de um filme do gênero (Duelo no Texas, de Ricardo Blasco), e entre 1964 e 1965 fez a fotografia para nada menos que Por Um Punhado de Dólares e Por uns Dólares a Mais.
O ritmo que imprime a este seu longa de estreia, nos faz entender que Dallamano conhecia o gênero para o qual estava dirigindo e sabia igualmente bem fazer uma história simples tornar-se atrativa para o grande público. E isso é conseguido de maneira elegante já na sequência de abertura do filme, uma das melhores que eu já vi em um western. Acompanhamos um assalto ao trem, que se dá com mortandade absoluta, pois o chefe do bando, Billy Kane (Venantino Venantini) não quer ser reconhecido por ninguém e tornar-se um rosto nos cartazes de “procurado”. A maneira implacável com que os bandidos vão matando os passageiros e o belíssimo travelling que o diretor faz após o massacre, mostrando o trem por fora, com diversas pessoas caídas, é mais um item que devemos colocar na lista de “fundamentos do western spaghetti”, que, convenhamos, o próprio Dallamano, ao lado de Sergio Leone, ajudou a definir.
A obra se torna mais complexa à medida que se aproxima do final. Em seu desenvolvimento, o filme explora a dor, a vergonha e o ressentimento do pistoleiro Richard Martin (Enrico Maria Salerno, em ótima interpretação). Sua trajetória de vida é marcada por traição, decepção e perdas de pessoas que ele confia. Isso faz com que se torne cada vez mais amargurado; um professor excelente, capaz de transformar um atirador comum num exímio pistoleiro, mas que quando precisa, acaba abandonado ou traído pelo aluno. Aqui, Dallamano usa uma tentativa de superação pessoal e a sede de vingança de um homem para fazer com que a história progrida para um duelo cheio de expectativa, algo que realmente acontece, mas não como imaginávamos. O diretor não está preocupado com a redenção dos personagens ou em realizar o sonho dos mocinhos. Sua intenção é mostrar como certas atitudes geram um ciclo de desgraças pessoais e sociais que tendem a ceifar muitas vidas. É daí que surge um novo “Homem Sem Nome” ou mais um matador com um grande alvo nas costas, à espera do próximo que queira desafiá-lo.
Os trompetes de Egisto Macchi fazem brilhar o tema principal da trilha sonora, que é muito bonita e funciona bem para as cenas em que aparece. O problema é que a edição de som aqui não é das melhores, então acabamos com cortes secos da música em momentos cruciais, o que aliado a alguns erros da montagem geral da obra, traz cenas destoantes e estranhas. No entanto, o maior destaque de Um Dólar Para Matar vai para o elogiável trabalho de câmera e uso de cores (Dallamano também assina a fotografia aqui, ao lado de Emilio Foriscot) do projeto. No duelo final entre Billy Kane e Ricky Shot (Terry Jenkins) vemos uma progressão de movimentos dos personagens pelo cenário e um uso de recursos visuais e sonoros que é uma verdadeira aula de cinema, deixando a sequência progressivamente instigante e modificando a resolução básica que esperávamos do clímax. Embora nenhum personagem consiga realizar o seu grande desejo (essa frustração é parte do mundo cru erguido pelo diretor aqui), há um tipo de compensação irônica para o sobrevivente. Uma “compensação” que resolve um problema e imediatamente cria outro: uma nova lenda do Oeste que não terá mais um momento de paz na vida.
Um Dólar Para Matar (Bandidos / Guns of Death / You Die… But I Live) – Itália, Espanha, 1967
Direção: Massimo Dallamano
Roteiro: Luis Laso, Juan Cobos, Romano Migliorini, Gianbattista Mussetto
Elenco: Enrico Maria Salerno, Terry Jenkins, María Martín, Venantino Venantini, Marco Guglielmi, Cris Huerta, Massimo Sarchielli, Jesús Puente, Antonio Pica, Valentino Macchi, Roberto Messina, Giancarlo Bastianoni, Remo Capitani, Víctor Israel, Renzo Pevarello, Aysanoa Runachagua, Amerigo Santarelli
Duração: 95 min.