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Crítica | Um Clássico Filme de Terror

por Ritter Fan
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Um Clássico Filme de Terror é exatamente isso que o título promete que ele é. E, por clássico, entendam um pot-pourri italiano de todo tipo de filme do gênero, com menções indiretas a verdadeiros clássicos, sejam antigos ou modernos, que o espectador se deliciará em identificar a cada nova sequência. Mas, e aí eu já começo a entrar em um terreno perigoso para manter a presente crítica livre de spoilers, o terceiro longa de Roberto de Feo e primeiro de Paolo Strippoli é, igualmente, uma baita de uma sátira ao gênero e também – e, diria, principalmente – ao mundo conectado em que vivemos em que a busca por experiências radicais atrás da aparente segurança da tela de um computador parece anestesiar os sentidos.

O que quero dizer com isso é que o longa co-escrito pelos dois diretores e outros três colaboradores, o que normalmente indica problemas, mas que não ocorrem de verdade aqui, funciona em diversos níveis e eles vão sendo descortinados muito aos poucos, sendo o primeiro deles o mais basal e óbvio do filme de terror clássico com muitos instrumentos cortantes e sangue, lidando com jovens e um homem mais velho que, ao se juntarem para uma viagem pela Calábria via aplicativo de carona, acabam em uma misteriosa clareira no meio de uma floresta, com uma cabana de madeira vazia por perto tendo que enfrentar o que parece ser um culto demoníaco de pessoas fantasiadas de Groot.

Os diretores conseguem capturar o exato clima de uma fusão até ambiciosa de filmes conhecidos, de Evil Dead a Midsommar, passando por O Homem de Palha e Quadrilha de Sádicos, mas sem variar muito de cenário e, interessantemente, sem mostrar sangue e tripas na proporção que poderiam se quisessem se entregar a essas “facilidades” e, mais ainda, sem recorrer a tropos clássicos do gênero, como sexo entre adolescentes, serial killers imortais de facão e assim por diante. Ou seja, De Feo e Strippoli conjuram o que nos acostumamos a ver em incontáveis filmes das mais diferentes nacionalidades, mas sem realmente materializar esses elementos, pelo menos não de maneira constante e óbvia.

Mas o melhor é que, quando o filme se prepara para sair de sua primeira camada – essa aí do slasher básico – nós já estamos de certa forma preparados para o que vem em seguida, pelo que é possível que muita gente acuse o filme de ser previsível, pois de fato ele é. A previsibilidade, porém, não é defeito como já disse algumas vezes e sim uma qualidade, pois mostra que há alguma lógica interna sólida (alguma, não total, isso é importante) na história sendo contada, com as revelações não sendo mais do que consequências diretas do que vimos antes. E é isso que acontece em Um Clássico Filme de Terror, até porque “adivinhar” o que acontece é algo que faz parte da infraestrutura de filmes clássicos de terror, se é que o título já não indicou isso de maneira bem clara. É, portanto, quando a primeira e talvez segunda camadas dessa proverbial cebola são descascadas que o longa realmente começa a ficar interessante e desafiador por olhar para nós e nos forçar a nos identificarmos com algumas de suas abordagens. O que é exatamente não posso dizer para não estragar a brincadeira, mas o espectador sincero e consciente do mundo ao seu redor será perfeitamente capaz de se colocar como alvo da crítica feita. E sim, falo de vocês mesmos. E de mim, lógico.

Esse caminho para “fora da cabana”, chamemos assim, é também refletido visualmente no longa, com a fotografia de Emanuele Pasquet emulando o horror da noite em contraste com a suposta liberdade que o dia traz, além de usar a floresta ao redor do lugar como um elemento para criar aquela boa e velha sensação de claustrofobia, de inexistência de uma saída, algo que, como não poderia deixar de ser, espelha o drama da inevitável final girl. No entanto, é importante o espectador ter consciência de que os dramas pessoais dos personagens estão presentes de maneira perfunctório apenas para os roteiristas poderem dizer que se preocuparam com isso, pois o próprio longa só quer saber mesmo é dos arquétipos do gênero que cada personagem representa (tanto que eu sequer senti necessidade na crítica de citar o nome de algum ator, como vocês devem ter reparado).

Um Clássico Filme de Terror provavelmente nunca se tornará um filme de terror clássico, mas o que começa como algo óbvio, do tipo que já cansamos de ver antes um caminhão de vezes, logo se metamorfoseia em algo mais que funciona bem em todas as suas camadas, mesmo aquelas mais diferentonas e inquietantes que nos olha diretamente nos olhos. Portanto, o que temos, na verdade, pode não ser um clássico, mas certamente é uma surpresa do gênero que parece algo descompromissado somente para revelar suas garras mais lá para o final.

Um Clássico Filme de Terror (A Classic Horror Story – Itália, 14 de julho de 2021)
Direção: Roberto De Feo, Paolo Strippoli
Roteiro: Lucio Besana, Roberto De Feo, Paolo Strippoli, Milo Tissone, David Bellini
Elenco: Matilda Anna Ingrid Lutz, Francesco Russo, Peppino Mazzotta, Will Merrick, Yuliia Sobol, Alida Baldari, Cristina Donadio, Francesca Cavallin, Justin Korovkin, Giuseppe Russo
Duração: 95 min.

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