Por mais simplória que uma narrativa ficcional seja, sem dúvidas, dentro de alguma perspectiva, a mesma carregará simbologias para interpretação. É o caso de Um Amor Feito de Neve, uma das apostas do streaming Netflix para a empreitada cinematográfica natalina de 2025. Aqui, apesar do desenvolvimento pueril, o filme me fez retomar os significados do boneco de neve, um dos elementos mais populares da semiótica de Natal. Figura emblemática que transcende culturas e gerações, especialmente em regiões onde a presença da neve é marcante, além de ser comumente associado ao inverno e ao Natal, o boneco de neve carrega consigo uma rica simbologia que pode ser interpretada de diversas maneiras. Em primeiro lugar, para algumas pessoas, ele representa a infância e a inocência. Construir um boneco de neve é uma atividade que evoca memórias felizes, repletas de brincadeiras e risadas. Para muitas crianças, esse ritual se torna um símbolo do prazer simples e da criatividade. A forma como cada boneco é moldado reflete a imaginação ilimitada dos pequenos. Além disso, o boneco de neve é um símbolo de união e coletividade, como veremos ao longo da abertura desta jornada “ficcional mágica”.
Em muitas comunidades, a construção de um boneco de neve envolve a colaboração de amigos e familiares. Este ato coletivo não só reforça laços sociais como também promove um senso de comunidade. Durante o inverno, as pessoas se reúnem em parques ou em seus próprios quintais para criar essa figura emblemática, aproveitando a oportunidade para socializar e celebrar o tempo passado juntos. A criação do boneco de neve se torna, portanto, um ritual que fortalece a convivência e a amizade. Ademais, outra camada simbólica associada ao boneco de neve é a transitoriedade da vida. Esse, inclusive, é um dos prismas do filme, solto em meio aos momentos de piadas e sentimentalismo, alegoria que renderia um texto dramático mais sólido, mas que ficou apenas como possibilidade. O boneco de neve, embora bonito e atraente, é efêmero. Ele derrete com o calor do sol e se desintegra, lembrando-nos da fragilidade da vida e das coisas que amamos. Essa transitoriedade pode ser vista como uma metáfora para a própria existência humana e para as relações que construímos ao longo do tempo.
Ao contemplar um boneco de neve, somos lembrados da importância de valorizar os momentos, pois eles são fugazes e devem ser apreciados enquanto duram. E é isso que a protagonista Kathy (Lacey Chabert) precisará fazer ao longo dos 94 minutos de Um Amor Feito de Neve. Na trama, dirigida por Jerry Ciccoritti, realizador que toma como base, o roteiro de Russell Mainline, ela é uma jovem mulher viúva que se dedica completamente ao trabalho em uma cafeteria durante os dias de sua semana. Moradora do interior, aquele tipo de região tranquila, onde todo mundo se conhece, Kathy é só trabalho, mas curte muito pouco a vida. Numa noite, enquanto os moradores decoram as vias públicas para celebrar os festejos natalinos, aqui contemplados pelo visual deslumbrante do design de produção assinado por Lisa Soper, a protagonista percebe que há um boneco de neve sem nenhum adereço. Ele é, para ela, um espelho de sua própria solidão.
Assim, a personagem põe um cachecol no pescoço do objeto decorativo, sem esperar que, em um passe de mágica, ele se transforme em um humano sarado, uma espécie de Edward Mãos de Tesoura, salvaguardas as devidas proporções comparativas, figura amada por todos da região por sua presteza, sinceridade e certa dose de inocência. Interpretado por Dustin Milligan, Jack, o boneco que ganha vida, nada conhece do nosso mundo, e, para isso, contará com o apoio de Kathy. Se sentindo responsável pela ressurreição do inanimado, ela o leva para casa e começa a apresentar como a realidade funciona. O que vai acontecer? Simples: ambos vão se apaixonar e, neste processo, lutar para que, tal como a efemeridade do boneco de neve, Jack não deixe de existir. Acompanhamos essa jornada pelo olhar das lentes da direção de fotografia de Eric Cayla, setor de iluminação esfuziante, responsável por ressaltar a visualidade vibrante do design de Um Amor Feito de Neve, uma narrativa com um roteiro simplório, mas desenvolvimento honesto.
Se você é uma daquelas pessoas apaixonadas por magia e amor, esse é o filme ideal para sua maratona natalina de 2025. Espere pouco, assim, evitará frustrações, combinado?
Um Amor Feito de Neve (Hot Frosty, EUA – 2024)
Direção: Jerry Ciccoritti
Roteiro: Russell Hainline
Elenco: Lacey Chabert, Dustin Milligan, Craig Robinson, Joe Lo Truglio, Katy Mixon, Lauren Holly, Chrishell Stause, Bobby Daniels, Sherry Miller, Dan Lett
Duração: 92 min