A licença de Ultraman para a Marvel Comics, iniciada em 2020, gerou três minisséries de qualidade, A Ascensão de Ultraman, Os Desafios de Ultraman e O Mistério de Ultraseven, todas em continuidade, todas já publicadas no Brasil e, mais ainda, todas “puras”, ou seja, em seu próprio universo. No entanto, como é comum nas grandes editoras mainstream, crossovers são inevitáveis e, mais cedo ou mais tarde, para o mal ou para o bem, eles aparecem. Esse é, como o título não disfarça, o caso de Ultraman X Vingadores, que coloca os alienígenas Ultra ao lado dos Heróis Mais Poderosos da Terra contra uma ameaça em comum: Galactus.
Kyle Higgins e Mat Groom, responsáveis pelas minisséries anteriores, retornam mais uma vez e, ainda bem, mantém o universo Ultra separado do universo padrão da Marvel, o Terra-616, usando o bom e velho artifício do multiverso para fazer a reunião. O bom disso é que a dupla de roteiristas faz de Ultraman X Vingadores uma história que “continua” os eventos das três primeiras minisséries, evitando que esse crossover seja completamente descartado tanto de um lado quanto de outro da narrativa. Claro que o que vimos acontecer até agora no que eles escreveram não influenciam muito o crossover, ainda que Shin Hayata, Dan Moroboshi e os demais de sua equipe sejam apresentados como renegados que se afastaram da United Science Patrol (USP) depois de descobrirem as intenções de seu líder.
A história não enrola e já traz o Homem Aranha Miles Morales para o Universo Ultra por meio de um portão dimensional causado na Terra-616 por Reed Richards que usou uma arma para transportar Galactus para outro universo. O Devorador de Mundos, claro, agora quer jantar a Terra do Universo Ultra e, no rastro de Morales, os Vingadores – Capitão América (Sam Wilson), Capitã Marvel, Homem de Ferro, Vespa, além do Homem-Aranha Peter Parker – vêm pra ajudar. E quando eu digo que a história não enrola, eu quero também dizer que Higgins e Groom não recorrem ao mais do que batido artifício que coloca os heróis primeiro em posições antagônicas, somente para que, em um segundo momento, eles se unam em prol de um objetivo em comum. Na minissérie, tudo já começa com paz e amor e Vingadores e os Guarda Ultra trabalham desde o começo para derrotar Galactus, com direito ao Homem de Ferro presenteando Nikki com uma de suas armaduras, com o desenvolvimento de uma nova arma anti-Galactus e até mesmo lutas contra kaijus intrometidos.
Trata-se de uma história básica, porém, sem grandes ousadias ou arroubos criativos. A arte de Francesco Mann, que retorna ao Universo Ultra depois da primeira minissérie e uma participação pequena na segunda, entrega um trabalho de qualidade, com belos embates e boas caracterizações visuais dos personagens Marvel. No entanto, o roteiro de Higgins e Groom resolve tudo com um grau muito grande de facilidade, algo que vem desde o quanto cada parte envolvida no conflito revela-se compreensiva e maleável, até a pancadaria final. Não há nada verdadeiramente debaixo da superfície dessa minissérie e ela se contenta em ser um crossover simpático entre duas propriedades intelectuais que combinam em diversos sentidos, algo que alguns diálogos até deixam comicamente bem claro e que fica evidente com os paralelos estabelecidos pela presença de Galactus como um mega-kaiju.
Ultraman X Vingadores diverte, não tenham dúvida, mas, sinceramente, eu prefiro que a equipe criativa invista seus esforços na continuidade efetiva da história principal do Universo Ultra que é interessante e tem enorme potencial expansivo. Com isso, eu quero dizer que, se crossovers são inevitáveis, espero fortemente que eles sejam a exceção e não a regra no que se refere ao universo de um dos mais importantes super-heróis nipônicos.
Ultraman X Vingadores (Ultraman X Avengers – EUA, 2024/25)
Contendo: Ultraman x Vingadores #1 a 4
Roteiro: Kyle Higgins, Mat Groom
Arte: Francesco Manna
Cortes: Matt Milla
Letras: Ariana Maher
Editoria: Martin Biro, Annalise Bissa, Tom Brevoort, C.B. Cebulski
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: outubro e dezembro de 2024; fevereiro e abril de 2025
Páginas: 122