Mesmo demorando um pouco mais de um ano para começar, a terceira minissérie da reimaginação de Ultraman pela Marvel Comics, em uma de suas raras propriedades licenciadas, finalmente começou e, assim como A Ascensão de Ultraman e Os Desafios de Ultraman, foi composta da cinco edições consideravelmente autocontidas, ainda que continuando e expandindo a saga iniciada em 2020. Kyle Higgins e Mat Groom, firmes e fortes em seu projeto, trazem a mitologia da famosa franquia Ultra para o século XXI bebendo com vontade das fontes clássicas, mas respeitando-as e, no processo, criando uma história épica que é própria deles.
Como o título da minissérie deixa bem claro, o foco fica em Ultraseven, segundo super-herói Ultra cuja aparição na forma humana de Dan Moroboshi já havia acontecido na minissérie anterior, apontando para a direção tomada aqui, ainda que o roteiro da dupla criativa traga boas surpresas na forma de um retcon estendido que recria a origem do personagem, fundindo-o indelevelmente ao limbo kaiju que é a base narrativa da saga desde seu começo. Aqui, quando, nos anos 60, Ultraseven fundiu-se com Moroboshi, eles permaneceram anos no limbo, constante e repetidamente morrendo e, ao final de Os Desafios de Ultraman, absorvendo parte da energia de Shin Hayata, retorna para o mundo dos vivos.
No entanto, seguindo a linha clássica que a própria Marvel sempre adotou quando há algum crossover de seus heróis, o que acontece é um conflito entre os dois Ultras, com o Ultraseven descontroladamente atacando monstros por Chiba, o que exige não só que Hayata aja desesperadamente para pará-lo, como também o magnata Katsuichiro Kato e seus filhos adotivos, o que abre espaço para a introdução da versão do Ultraman Jack – um mecha, na verdade – desse universo. O que segue, daí, é a pancadaria de sempre, mas que abre espaço para revelações sobre a United Science Patrol (USP), em especial a misteriosa e sinistra natureza de sua diretora Morheim, o que é feito por intermédio da fusão momentânea das memórias de Seven/Moroboshi com a de Ultraman/Hayata.
Higgins e Groom exageram um pouco na manutenção do mistério sobre o que aconteceu com o recém-ressurgido herói, o que acaba levando a algumas repetições narrativas que cansam um pouco, mas isso é compensado pelo bom manejo da ação por parte de Davide Tinto que substitui Francesco Manna na arte, ainda que seu estilo seja um pouco inferior ao do colega que trabalhou nas duas minisséries anteriores, com algumas desproporções corporais que por vezes saltam aos olhos. Mesmo assim, sua recriação do Ultraseven, aproximando-o do estilo do uniforme do Ultraman, mas mantendo-se muito fiel ao original, é algo que merece destaque, assim como sua completa reimaginação do Ultraman Jack, com direito à formação por meio de cinco naves que se reúnem para montar o robô.
A entrada do esquadrão anti-monstro de Kato e a grave contaminação interna na USP abre diversas portas que podem ser muito bem aproveitadas em arcos futuros a ponto de eu ter achado a introdução do Ultraman Ace, ao final, muito prematura, assim como a promessa de crossover com os super-heróis clássicos da Marvel Comics. Espero que, quando a próxima minissérie começar, Higgins e Groom que, tomara, continuem na redação dos roteiros, não se percam e mantenham o foco criativo que vem refazendo com qualidade as mitologias dos diversos Ultras criados ao longo das décadas.
Ultraman (2020) – Vol. 3: O Mistério de Ultraseven (Ultraman – Vol. 2: The Trials of Ultraman – EUA, 2022/23)
Contendo: Ultraman: The Mystery of Ultraseven #1 a 5
Roteiro: Kyle Higgins, Mat Groom
Arte: Davide Tinto (histórias secundárias na edição #1: David Lopez, Gurihiru)
Cores: Espen Grundetjern (primeira história secundária na edição #1: KJ Diaz)
Letras: Ariana Maher
Editoria: Martin Biro, Annalise Bissa, Tom Brevoort, C.B. Cebulski
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: 17 de agosto de 2022 a 04 de janeiro de 2023
Páginas: 122