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Crítica | Ultraman: A Ascensão

Uma refrescante abordagem para um personagem quase sexagenário.

por Ritter Fan
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Fui no automático. Cliquei em Ultraman: A Ascensão, no Netflix, somente em razão do “Ultraman” no título sem ler a sinopse ou ter sequer alguma ideia do que seria o longa-metragem animado para além do óbvio. Portanto, não sabia realmente o que esperar de mais essa incursão do Netflix pelo universo do famoso personagem japonês criado por Eiji Tsuburaya, em 1966, depois da série animada de três temporadas batizada apenas com o nome do super-herói japonês. E, depois de assistir a animação nipo-americana dirigida por Shannon Tindle e John Aoshima, tenho certeza de que eu não esperava absolutamente nada do que vi passar diante de meus olhos. E que ótimo!

Ultraman: A Ascensão é uma refrescante abordagem para todas as idades do personagem específico e para obras do tipo tokusatsu em geral, em que fica evidente o cuidado que Tindle e Marc Haimes (que trabalharam juntos no espetacular Kubo e as Cordas Mágicas) tiveram para realmente criar algo novo, diferente, mas que respeitasse, de certa forma, todo um legado de décadas, ainda que jamais dependendo dele para funcionar, além de um belíssimo design de produção e uma animação realmente poderosa, diferenciada, que repagina o personagem e os kaijus de maneira relevante e inteligente. No longa, o jovem, arrogante e egoísta jogador de beisebol Kenji Sato (voz de Christopher Sean) retorna para o Japão depois de uma carreira profissional nos EUA para secretamente e de má vontade assumir o manto de Ultraman de seu pai, o Professor Sato (Gedde Watanabe), que se acidentara.

Como minha breve sinopse dá a entrever, o filme é indisfarçavelmente uma jornada de autodescoberta e de amadurecimento pela qual Kenji passa especialmente depois que enfrenta um kaiju alado e, no processo, não só percebe que a força anti-kaijus quer completamente exterminar os monstros, algo que seu pai sempre lutou para impedir, como acaba sendo forçado a adotar uma adorável kaijuzinha rosa que nasce em suas mãos. Aos que revirarem os olhos para o que pode parecer a Disneyficação da premissa clássica de Ultraman, deem uma chance ao longa, mas com um olhar receptivo e não na linha do “estragaram minha infância” ou algo bobo nessa linha. Como disse, é um enfoque pouco usual e muito bem vindo que repagina e, diria, melhora e cria nuanças para a velha luta do super-herói prateado e vermelho contra os monstrões que querem destruir o Japão. Kenji é um personagem intragável que muda radicalmente, como é de se esperar, mas essas mudanças realmente funcionam aqui, com uma mistura de humor, emoção e ação que conta com um tocante relacionamento do protagonista com a monstrinha e também com seu pai que ele não via há 20 anos e com Mina (Tamlyn Tomita), uma inteligência artificial flutuante e esférica que comanda sua ultramoderna mansão e faz as vezes de babá para ele e para a criaturinha.

A animação, que ficou por conta da Industrial Light & Magic e que marca a primeira vez que uma produção é feita com o programa de código aberto Moonray, da Dreamworks, sem participação da referida empresa, é estupenda, com rostos expressivos para humanos e kaijus, movimentações fluidas e combates enérgicos, além de trabalhar objetos inorgânicos de maneira realmente orgânica, algo que pode ser visto especialmente na mansão de Kenji. Não é algo completamente diferente do que já foi feito antes, admito, mas tudo funciona muito bem e passa uma perfeita sensação de um universo crível que “fala” visualmente com o espectador, o que evita didatismos e explicações cansadas para cada detalhe da história. É, para todos os efeitos, um casamento excelente de forma e substância.

Com exceção da impressão de que a narrativa fica misteriosa demais no lado do Dr. Onda (Keone Young), líder da organização de defesa contra kaijus que é obcecado em aniquilar com todos os monstros, no que se refere aos detalhes de seu plano maligno para localizar a quase mítica Ilha Kaiju, especialmente de onde exatamente vem o ovo de kaiju que resulta na fofura rosa que Kenji adota, Ultraman: A Ascensão é uma adição do mais alto gabarito à mitologia do Ultraman. Aliás, mais do que isso: trata-se de uma adição do mais alto gabarito às animações como um todo, um verdadeiro achado que merece atenção mesmo de quem nunca viu nada da franquia.

Ultraman: A Ascensão (Ultraman: Rising – EUA/Japão, 14 de junho de 2024)
Direção: Shannon Tindle, John Aoshima
Roteiro: Shannon Tindle, Marc Haimes
Elenco da versão em inglês (vozes): Christopher Sean, Gedde Watanabe, Tamlyn Tomita, Keone Young, Julia Harriman, Karen Muruyama, Lee Shorten, Artt Butler
Elenco da versão em japonês (vozes): Yuki Yamada, Fumiyo Kohinata, Ayumi Tsunematsu, Fumihiko Tachiki, Akari Hayami, Hiroko Sakurai, Takaya Aoyagi, Nan Dadian
Duração: 117 min.

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