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Crítica | Ultraman – 2ª Temporada

Um balaio de "Ultramans"...

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Três anos depois da primeira temporada da animação de Ultraman baseada em mangá iniciado em 2011 por Eiichi Shimizu e Tomohiro Shimoguchi, eis que uma segunda temporada encurtada, de apenas seis episódios, aporta no Netflix, com a promessa de uma terceira e última para 2023, o que imediatamente me leva a crer que o que recebemos é a primeira parte da segunda temporada apenas, algo que é reiterado pelo seu final na linha de “meu plano maligno será revelado em breve” que o vilão diz para a equipe de Ultramans (Ultramen?). Seja como for, essa nova temporada é como um remédio que cura a doença, mas acaba criando outra, tudo fruto do que só pode ter sido cortes de investimento na série animada que tinha todo o jeito de exigir várias outras temporadas para ser realmente desenvolvida, até porque o mangá tem material suficiente para isso.

O que a temporada cura com eficiência é a lerdeza mortal do primeiro ano, que é uma história de origem cansativa, verborrágica e quase que exclusivamente focada no sem graça Shinjiro Hayata (Hideyuki Tanaka), o novo Ultraman, filho de Shin Hayata (Ryohei Kimura), o Ultraman original que assume o manto de Ultraman Zuffy. É, ao mesmo tempo, uma continuação e um reboot da mais do que longeva franquia, algo que, pelo menos em conceito, é uma abordagem interessante e bem-vinda. O segundo ano, portanto, não tem absolutamente nada de vagaroso e já começa na pancadaria que tem como catalisador o misterioso desaparecimento de pessoas da Terra em Nova York e em Tóquio e, a cada episódio, acrescenta um novo Ultraman para, ao final, formar uma “Liga da Justiça de Ultramans” (são seis, sem contar com o misterioso Bemular, voz de Kaiji Soze, que só aparece na base do deus ex machina) com designs bonitos, mas que, em um mundo em que o Homem de Ferro live-action tem algo como 80 armaduras sensacionais, não parecem tão fora-de-série assim.

Mas, ao tirar a série do marasmo completo, a nova temporada traz um problema sério que é justamente a multiplicação de super-heróis de armadura, algo que não só não tem nenhuma organicidade, como impede qualquer tipo de desenvolvimento de monta para eles. É bem verdade que o Ultra Seven (Dan Moroboshi, voz de Takuya Eguchi e o único dos Ultras a realmente ter uma personalidade) e o proto-Zuffy já haviam aparecido antes, mas, com o foco no herdeiro do Ultraman “puro”, eles ficavam no banco de reservas narrativo, por assim dizer. Aqui, os novos Ultramans surgem sem qualquer cerimônia, como o Ultraman Jack (Jack, voz de Ryota Takeuchi), que basicamente “só está lá”, Ultraman Ace (Seiji Hokuto, voz de Megumi Han), que tem a entrada mais aleatória possível, e, principalmente, o Ultraman Taro (Kotaro Higashi – voz de Tomoaki Maeno) que ganha uma origem tão apressada quanto ininteligível e olha que este último acaba sendo um personagem mais principal que o principal, já que Shinjiro fica fora de combate por um tempo).

Em outras palavras, o que a temporada faz é uma tentativa de espetáculo visual, mas sem qualquer substância para justificar sua existência, sendo muito mais uma porta de entrada livre e sem cerimônia para mais personagens usando armaduras bacanas do que algo que se assemelhe a uma história coesa e bem desenvolvida. Falando em história, sei que até agora não falei dela em si, mas é que o roteiro é consideravelmente irrelevante, já que é só uma desculpa esfarrapada para as pancadarias que pontilham os seis episódios, com o vilanesco líder da organização Estrela da Escuridão (Junichi Suwabe) usando uma raça alienígena moribunda liderada pela princesa Maaya (Jin Urayama) que, como de costume, é desenhada da maneira mais sexualizada possível para abrir os olhos de adolescentes tarados, para iniciar os tais desaparecimentos que mencionei, primeiro passo de um plano muito maior, mas que nunca é realmente revelado.

A tardia segunda temporada de Ultraman tem a vantagem de ser rápida o suficiente para não permitir que os diálogos didáticos atrapalhem a experiência, mas ela troca todo e qualquer semblante de história pela apresentação sucessiva de novos Ultramans em um balaio de gato sem coesão e incapaz de criar qualquer conexão com os personagens ou mesmo com os vilões. Com um pouco de veneno escorrendo por meus lábios, essa correria toda para apresentar os novos Ultras me pareceu a Warner/DC querendo correr atrás do prejuízo lá pela época do lançamento de Batman vs Superman, ou seja, uma estratégia que queimou etapas para chegar logo no ponto considerado “ótimo” por executivos que não tinham a menor ideia do que estavam fazendo…

Ultraman – 2ª Temporada (Idem, Japão – 14 de abril de 2022)
Direção: Jeff Nimoy
Roteiro: Jeff Nimoy, Eiichi Shimizu (baseado em obra de Eiichi Shimizu e Tomohiro Shimoguchi)
Elenco: Hideyuki Tanaka, Ryohei Kimura, Kaiji Soze, Takuya Eguchi, Ryota Takeuchi, Megumi Han, Tomoaki Maeno, Junichi Suwabe, Jin Urayama
Duração: 150 min. (seis episódios)

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