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Crítica | Ultimate X-Men (2024) – Vol. 1

Horror japonês.

por Kevin Rick
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Como meu colega Ritter Fan expôs na crítica da primeira edição de Ultimate X-Men, a HQ de Peach Momoko é diferente, refrescante e inusitada, até mesmo para o conceito do novo Universo Ultimate (denominado Terra-6160), que tem como base apresentar versões novas e inesperadas dos heróis da Marvel Comics. Isso acontece porque a autora basicamente recria a equipe de mutantes a partir de personagens menos conhecidos, aos poucos apresentando uma versão oriental e completamente fora do tradicional do grupo, utilizando Hisako Ichiki, vulgo Armadura, como protagonista de uma narrativa inspirada em mangás e em J-Horror, ou simplesmente terror japonês, mesclando a mitologia dos X-Men com o folclore nipônico.

Obras como Bleach e Jujutsu Kaisen vem à mente por conta do cenário escolar, mas Momoko se distancia do shonen, beirando algo mais maduro, sombrio e próximo dos trabalhos de Junji Ito, por exemplo, ainda que a história e o visual da obra nunca deixem o tom juvenil de lado. Também é notável uma certa inspiração em Fugitivos, do Brian K. Vaughan, à medida que o desenrolar do enredo revela uma sociedade secreta de mutantes e veneradores de mutantes, com alguns dos pais de personagens coadjuvantes fazendo parte do culto. Momoko, assim como Vaughan, tem aquela mesma vibe teen sobrenatural cheia de subterfúgios e boas surpresas que evitam um encaminhamento genérico. Inclusive, a autora até usa Nico Minoru, uma personagem criada por Vaughan!

No entanto, estou me adiantando. Voltemos a premissa, em que somos inseridos em uma narrativa de mistério à medida que Hisako Ichiki é perseguida por uma manifestação maligna, eventualmente descobrindo seus poderes e tendo que lutar contra essa “sombra”. Nas edições que sucedem a abertura da HQ, descobrimos que o antagonista é Shadow King, uma entidade famosa por seus encontros com os X-Men ao longo dos anos, mas que aqui não está em posse de Amahl Farouk (seu hospedeiro na maioria dos quadrinhos da Marvel) e sim de outro estudante do colégio de Ichiki. O uso de Shadow King como vilão é excelente, considerando que os poderes do personagem se encaixam em temas como possessão, exorcismo e principalmente terror psicológico, grandes focos do horror japonês.

Narrativamente, Momoko é extremamente paciente na construção de tensão, suspense e dramas psicológicos, abordando temas como culpa, suicídio e bullying (todos muito particulares de histórias sobre adolescentes e sobre párias) através das perseguições mentais e emocionais do Shadow King, sempre com uma cadência lenta, cheia de incertezas por partes dos personagens e dos leitores que aumentam o nível de aflição. Cenas arrepiantes e repugnantes como a da imagem a cima ficam cada vez mais e mais recorrentes, principalmente nas diversas representações demoníacas do antagonista, com destaque para a arte inspirada em mangás e também para as diversas simbologias do folclore nipônico – as imagens em torno do estudante possesso são sinistras!

Também é notável como Momoko aos poucos insere sua história bem particular e pessoal dentro da narrativa geral do novo universo Ultimate de maneira orgânica, mas sem perder sua identidade contida, demonstrando, na minha leitura, que o Criador utiliza a sociedade secreta para manter os mutantes escondidos, além de indicar uma eventual ressurgência dos mutantes nesse universo, possivelmente de maneira agressiva, levantando um encaminhamento sobre evolução e extinção que tanto é discutida na franquia. O gradual team-up de Ichiki com versões de personagens que conhecemos, como Minoru e, acredito que eventualmente, Surge (que aqui tem um ar vilanesco), e novas faces, como Mei, uma mutante com poderes similares à Tempestade, é bacana e improvável, tanto por não ter personagens famosos quanto por propor uma nova visão para os X-Men nesse universo.

Esse aspecto de novidade é o diferencial da HQ de Momoko, que efetivamente se aproveita dos conceitos do Universo Ultimate para reimaginar e reinventar o que conhecemos sobre esses personagens e sobre essa equipe, tanto narrativamente quanto tematicamente. Gosto de basicamente todas as ideias da autora, passando pela presença maligna do Shadow King, a atmosfera cadenciada de horror psicológica, a inspiração em temas japoneses e o desenvolvimento de um arco sombrio dentro de uma embalagem teen, todos elementos que transformam a obra em uma pequena joia de diversidade cultural dentro da Marvel. Por fim, o ritmo mais lento da história é recompensado na edição final, que traz grandes revelações, incluindo uma reimaginação da Arma X, preparando o terreno para um segundo volume cheio de potencial.

Ultimate X-Men – Vol. 1 | EUA, 2024
Roteiro: Peach Momoko
Arte: Peach Momoko
Letras: Travis Lanham
Editoria: Wil Moss, Michelle Marchese, C.B. Cebulski
Editora: Marvel Comics
Páginas: 204

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