Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | Ultimate X-Men (2024) #1

Crítica | Ultimate X-Men (2024) #1

Diferente e ousado.

por Ritter Fan
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Em seu projeto de criar um novo Universo Ultimate (denominado Terra-6160), a Marvel Comics fez como no primeiro e começou com uma nova abordagem para Peter Parker, agora um adulto casado com Mary Jane e pai de dois filhos que nunca foi picado por uma aranha radioativa. Foi um baita início, pois não só a primeira edição é ótima por seus próprios méritos, como ela traz a versão do Aracnídeo que muitos leitores queriam ver há anos, desde o famigerado arco Um Dia a Mais. O segundo super-herói a ganhar uma publicação nesse novo contexto foi o Pantera Negra, mas, infelizmente, a abordagem no primeiro número foi do tipo “mais do mesmo”, ainda que razoavelmente interessante. E, agora, é chegada a vez dos X-Men, que ficou ao encargo da roteirista e desenhista japonesa conhecida por seu apelido Peach Momoko em quem a editora vem investindo bastante.

Pelo simples fato de ser ela à frente do título, eu já esperava algo fora da curva, mais experimental, mais arriscado que não repetisse caminhos já trilhados como Bryan Hill fez com o Pantera Negra ou até mesmo a pegada de Jonathan Hickman para o Amigão da Vizinhança que partiu de um desejo coletivo para transformá-lo em realidade. Com X-Men, Momoko parece ter uma tábula rasa à sua disposição. Tábula rasa e calma, muita calma, pois de X-Men essa primeira edição não tem nada, já que ela é, única e exclusivamente, uma introdução à Hisako Ichiki, uma estudante japonesa que, como sabemos dos quadrinhos Marvel (tanto da Terra-616 quanto do primeiro universo Ultimate, a Terra-1610), é a mutante Armadura, capaz de invocar uma proteção psiônica ou mística (dependendo da versão).

A jovem Ichiki é uma jovem depressiva aqui, que largou a escola e só resolveu aparecer na formatura, logo concluindo que foi um erro. Se o assunto de distúrbios mentais em jovens já é duro de ser abordado em uma HQ de super-herói, quando Momoko mergulha nas causas da depressão da jovem – a culpa que sente pelo suicídio de seu melhor amigo -, a história definitivamente entra em um terreno sombrio, potencialmente cheio de gatilhos psicológicos para muita gente, mas que me pareceu uma narrativa digna e corajosa de ser contada. Afinal, os X-Men sempre foram enquadrados como vítimas da sociedade e Ichiki é tanto vítima do que acha que deixou de fazer por seu amigo, quanto de seus colegas que passam a fazer bullying com ela.

Nesse contexto pesado, Ichiki é convidada por uma entidade que parece ser a encarnação do que se passa em sua mente, por ser uma espécie de fantasma sombrio que lembra um Dementador, para encontrar-se em um templo. O objetivo é presenteá-la com um amuleto que ela imediatamente reconhece, por ser o mesmo que seu amigo falecido havia dado a ela. Nenhuma explicação é dada ao leitor, com a primeira manifestação da “armadura” dando-se em um momento em que a protagonista, abalada pelo que é forçada a lembrar, é quase atropelada. A aura de mistério é muito bem vinda, mas, ao mesmo tempo, potencialmente frustrante aos mais imediatistas. Eu mesmo, que prefiro uma história mais compassada e protraída no tempo, fiquei coçando a cabeça ao final imaginado como Peach Momoko conseguirá sair do ponto em que deixa sua versão de Hisako Ichiki na última página desta primeira edição até chegar aos X-Men propriamente ditos, a não ser que a versão do grupo que ela pretende trabalhar seja completamente fora do tradicional (e ocidental), o que pode ser muito refrescante.

A arte de Momoko, com traços enganosamente simples que fundem o estilo mangá com pintura à guache com pouco uso de cor é belíssima e muito apropriada para visualmente refletir o que se passa na cabeça da protagonista. Assim como o roteiro, trata-se de uma arte ousada para um título que em tese é completamente mainstream para leitores Marvel e, por isso mesmo, será muito interessante ver como ela recriará os demais personagens que farão parte de uma futura equipe e como ela desenvolverá essa história dentro do quebra-cabeças mais amplo que é esse universo Ultimate sem super-heróis manipulado pelo Criador (o Reed Richard do mal do primeiro Universo Ultimate) e seu Conselho.

Mas o que realmente importa é que Ultimate X-Men #1 é o tipo de HQ que pouca gente esperaria vindo da Marvel Comics atual, mais preocupada em fazer o básico espalhafatoso do que algo realmente diferente, desafiador e bem pessoal. Se Peach Momoko tiver mesmo as rédeas desse “cantinho” dos X-Men, creio que a reimaginação de pelo menos parte dos mutantes queridos terá enorme potencial criativo. Só o tempo dirá!

Ultimate X-Men #1 (EUA, 2024)
Roteiro: Peach Momoko
Arte: Peach Momoko
Letras: Travis Lanham
Editoria: Wil Moss, Michelle Marchese, C.B. Cebulski
Editora: Marvel Comics
Data original de publicação: 06 de março de 2024 (capa: maio de 2024)
Páginas: 34

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