Dando prosseguimento ao já estabelecido Universo Ultimate, que iniciara com Homem Aranha: Poder e Responsabilidade, seguido por X-Men e The Ultimates, Ultimate Quarteto Fantástico traz uma reinvenção dos icônicos heróis da Marvel, atualizando sua origem para os dias atuais na empreitada da editoria visando levantar suas vendas que sofriam com baque após baque. Roteirizado por Mark Millar e Brian Michael Bendis, que também encabeçara o primeiro arco do “teioso”, a história nos traz uma versão mais nova de Reed Richards, Benjamin Grimm. Sue e Johnny Storm e provavelmente serviu de base para o mais novo filme do grupo, que estreará em agosto.
Iniciamos com Richards ainda no colégio, alvo de bullying e de constante repreensão por parte de seu pai, que não entende a genialidade do filho. A trama, estabelecida em flashback apresenta alguns saltos temporais, demonstrando a progressão dos experimentos do garoto acerca do teletransporte até ser contratado pelo governo e passar a trabalhar no prédio Baxter. Lá ele descobriria que parte de suas descobertas já haviam sido feitas, mas ele desempenharia um papel crucial, ao lado da família Storm e Victor van Damme, para desvendar os segredos do teletransporte, que basicamente consiste em enviar um objeto para a zona negativa para, posteriormente, trazê-la de volta para a Terra. Logo nas seis primeiras edições que compõem esse primeiro arco as diferenças do grupo original já se apresentam fortemente – não temos mais viagens no espaço e sim uma abordagem interdimensional, que, ouso dizer, soa muito mais interessante em nossa atual conjuntura, já fora da corrida espacial que marcou a Guerra Fria.
O Fantástico apela diretamente para os leitores mais jovens e, ao trazer o bullying para o centro do palco, cria um elo de identificação com seu público alvo. O clima estabelecido em Ultimate Homem-Aranha é praticamente o mesmo, bastante humano principalmente nas páginas iniciais, o que acaba criando uma evidente coesão entre as diferentes partes desse universo. Além disso temos, é claro, inúmeras citações ou referências às outras peças, os mutantes e os Ultimates. Bendis e Millar ainda conseguem trazer um roteiro bastante cinematográfico, melhorando o fluxo da leitura e tornando-a cada vez mais acessível, tornando este um ótimo ponto de entrada para novos leitores, atingindo, portanto, em cheio, o objetivo da editora nessa revitalização.
Essa fluidez, contudo, acaba sendo prejudicada pela gigantesca quantidade de balões de fala, em geral, expositivos demais, recurso este que demonstra uma falta de confiança dos roteiristas no público alvo, praticamente gritando que não iremos entender o que se passa nas imagens. Algumas páginas chegam a nos cansar em demasia, tornando parte da leitura uma verdadeira provação. Esse forte apoio no texto somente evidencia o que talvez seja o maior problema da obra: seus cliffhangers confusos. Estes nos deixam sem entender absolutamente nada e precisamos de algumas páginas das edições posteriores para ficarmos novamente a par da história. O próprio cataclisma que garante os poderes do grupo é difícil de entender, demonstrando um enorme defeito na arte de Adam Kubert.
Ao mesmo tempo, o aspecto visual dos quadros é um dos pontos mais interessantes. Quando não somos jogados de um lado para o outro nessas inconstantes rupturas somos certamente cativados pela limpeza do traçado, que passa exatamente a noção de recomeço almejada pela Marvel. Há sim uma tendência para a pasteurização desse universo como um todo, mas ela se encaixa perfeitamente dentro da proposta estabelecida, com personagens bem retratados e ótimas representações dos poderes dos heróis. Nesse quesito, Kubert mostra uma grande criatividade e consegue nos surpreender por mais que já conheçamos a fundo cada um dos membros do Quarteto. Há uma constante brincadeira com os conceitos de cada um deles, o que apenas garante nossa imersão nessas páginas.
Ultimate Quarteto Fantástico: O Fantástico pode conter seus problemas, mas não deixa de ser – como todo o restante do universo Ultimate – uma ótima porta de entrada tanto para quem nunca leu quadrinhos quanto para quem quer conhecer mais sobre esse grupo da Marvel. Certamente veremos muitas similaridades desse arco no vindouro filme e isso até cria um saudável otimismo, especialmente considerando as tragédias gregas que vimos nas retratações cinematográficas anteriores desses heróis. Temos aqui uma publicação ambiciosa e que consegue, quase que em cheio, acertar seu alvo.
Ultimate Quarteto Fantástico: O Fantástico (EUA, 2003-2004)
Ultimate Fantastic Four vol. 1 – #1 a 6
Roteiro: Mark Millar, Brian Michael Bendis
Arte: Adam Kubert
Páginas: 144