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Crítica | Ultimate Pantera Negra (2024) – Vol. 1

Uma versão "diferente" totalmente esperada.

por Kevin Rick
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Seguindo a nova linha Ultimate da Terra-6160, temos o desfecho do primeiro volume da versão alternativa do Pantera Negra. Como meu colega Ritter Fan expôs na crítica da primeira edição da obra, o roteiro de Bryan Hill não traz nada efetivamente novo ou inesperado para T’Challa. É, com certeza, uma versão diferente do que estamos acompanhando na linha principal da Marvel atualmente, mas que evoca o trabalho de Ryan Coogler no Universo Cinematográfico Marvel e, em menor medida, a execução moderna de Ta-Nehisi Coates nos quadrinhos de alguns anos atrás. Em síntese, somos apresentados a uma Wakanda ainda escondida do mundo e que tem sua posição secreta em perigo por conta de uma ameaça externa, dessa vez na forma de Ra e Khonshu, entidades em sua forma humana que coletivamente chamam-se Cavaleiro da Lua e que fazem parte do círculo interno do Criador.

A repetição é certamente um ponto negativo, mas a premissa é inegavelmente apropriada e interessante para a mitologia de Wakanda. Vemos muitos dos mesmos temas dos filmes e de outras HQ’s sendo desenvolvidos nas seis edições, como o conflito de T’Challa em abrir as portas de Wakanda, a dualidade do protagonista com Killmonger (aqui mais aliado do que antagonista até agora) e uma abordagem temática que amplia o reino fictício para um debate geral sobre a África. O problema principal é que Hill trata das mesmas ideias batidas com menos inspiração e com caminhos narrativos extremamente derivativos. Falta um certo tato político no texto e a história definitivamente não tem um senso de urgência, se desenvolvendo em um ritmo vagaroso que encontra poucos momentos de tensão entre muitas sequências de exposição.

A grande sacada da obra é o lado religioso, algo pouco abordado nos cinemas. Aqui, temos o desenvolvimento de uma seita mágica-religiosa chamada Vodu-Khan que controla Wakanda por fora, sempre em charadas e mistérios. Entre algumas sequências oníricas, fanáticos religiosos, representações de deuses (incluindo uma participação até agora curta da Tempestade) e profecias, a narrativa ganha camadas místicas razoavelmente instigantes. A própria guerra em si evoca elementos de terrorismo e extremismo religioso. É tudo trabalhado com um nível de superficialidade, mas que pelo menos ganha pontos por criar uma atmosfera minimamente atrativa e um tipo de arco curioso para T’Challa, que vai além do seu fardo como rei, marido e guerreiro, tratando diretamente das suas crenças.

Se esse lado da história for mais desenvolvido no vindouro segundo volume, a obra pode elevar de patamar, até porque o trabalho dramático de Hill é eficiente. Sejam os problemas matrimoniais de T’Challa e Okoye, seja o conflito da família real com Shuri, o volume tem bons diálogos e quadros sobre os relacionamentos dos personagens. Sinto que ainda tivemos pouco de Killmonger e Tempestade (que aqui são um casal!) para deixarem uma impressão maior além de serem icônicos por conta de seu histórico, mas existe potencial nas dinâmicas entre esses cinco personagens, possivelmente os mais famosos indivíduos das histórias de Wakanda.

A narrativa tem uma espécie de reviravolta com um “poder” oculto que é supostamente o oposto do vibranium. Tenho uma opinião relativamente favorável à ideia, primeiro por criar uma possível guerra por recursos, segundo por insinuar um passado em que tivemos uma civilização mais antiga do que Wakanda na África, o que pode agregar para a mitologia do Pantera Negra. Até aqui, porém, esse poder é basicamente um artifício para mover a trama, sem muitas explicações. Também fico com receio de tudo isso ser uma construção para um conflito com outro reino, repetindo o que já vimos diversas vezes entre Wakanda e Atlântida. Veremos se Hill irá expandir nessa premissa com ideias interessantes.

Ademais, a arte de Stefano Caselli e as cores de David Curiel copiam muitos designs dos filmes, mas o visual é bonito e apropriado para o tom do volume. Os artistas capturam muito bem o afrofuturismo que marcou esse universo, com destaque também para as expressões faciais fortes dos personagens. O trabalho acaba impressionando pouco em termos de ação ou até mesmo nos momentos mais místicos, mas penso que é mais culpa da narrativa lenta de Hill, além de que, infelizmente, a qualidade visual cai com Carlos Nieto nas duas últimas edições. No fim, o primeiro volume é razoavelmente mais interessante do que a primeira edição dá a entender. É uma versão esperada para o Pantera Negra, mas aos poucos Hill insere elementos que chamam a atenção, a despeito da sua forma de contar a história não ser exatamente empolgante.

Ultimate Pantera Negra – Vol. 1 (Ultimate Black Panther – Vol. 1) | EUA, 2024
Roteiro: Bryan Hill (#1 a #6)
Arte: Stefano Caselli (#1 a #4), Carlos Nieto #5 e #6)
Cores: David Curiel
Letras: Cory Petit
Editora: Marvel Comics
Data original de publicação: 24 de julho de 2024
Páginas: 201

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