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Crítica | Ultimate Homem-Aranha (2024) – Vol. 1

O Paizão da Vizinhança.

por Kevin Rick
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Depois de um início que abraçou todos os fãs do Teioso em Ultimate Homem-Aranha #1,  nos apresentando um Peter Parker adulto, casado com Mary Jane, trabalhando como fotógrafo junto de seu tio Ben (e do J. Jonah Jameson!), de barba e ainda por cima com dois filhos, Jonathan Hickman passa o restante do primeiro volume da nova versão do Homem-Aranha focando exatamente no grande diferencial da sua história: dinâmicas familiares. Não vou me estender muito na premissa da obra, uma vez que meu colega Ritter Fan já se debruçou no histórico do personagem e nos conceitos propostos por Hickman em sua crítica da edição inaugural, mas, para contexto, estamos diante do Peter Parker da Terra-6160, em um universo que o Criador apagou a existência dos super-heróis. Após receber os poderes e o conhecimento do Homem-Aranha através de um jovem Tony Stark (que está levantando uma revolução super-heroica), Peter decide assumir o manto de maneira “tardia”.

Hickman brinca bastante com essa ideia de um Peter Parker mais velho se tornando super-herói ao longo das seis edições do primeiro volume. Por um lado, vemos os mesmos problemas que sua versão jovem do universo principal teve quando começou a aprender como controlar seus poderes, com algumas boas piadas-referências aqui sobre como coordenar sua velocidade, sobre seu uniforme e principalmente sobre a ingenuidade do personagem – os momentos com Shocker são impagáveis. Por outro lado, o autor foca bastante no campo familiar do protagonista, com certeza a grande distinção desse Homem-Aranha.

Sua filha é responsável pelo design da roupa, o nome de super-herói é criação de Mary Jane e, mesmo temporariamente omitindo a informação de sua família, Peter toma suas decisões com voz ativa da sua esposa e dos seus filhos. O relacionamento do casal é maduro ao ponto de soar quase irreal, mas sempre com um nível de simpatia e ternura que são maravilhosos de ver com esses personagens. Essas interações são o verdadeiro tesouro do quadrinho e Hickman sabe disso, pacientemente desenvolvendo as dinâmicas familiares ao ponto de relevar a trama mais objetiva com o Rei do Crime. Até mesmo a dupla do tio Ben e J. Jonah Jameson ganha uma trama tangencial bem elaborada e divertida de acompanhar com a criação do seu próprio jornal.

Na superfície, pode até soar que a progressão da história é ruim, uma vez que a última edição basicamente não traz nenhum desfecho para o antagonismo de um Rei do Crime solto no enredo (ainda assim, a escolha em torná-lo meta-humano é assertiva), mas noto que o interesse de Hickman está verdadeiramente em criar uma base narrativa e os alicerces dramáticos dessa história antes de efetivamente criar conflitos. Seus diálogos são sugestivos dos perigos que a decisão de Parker pode ter para sua família e considerando o tom maduro da obra (bem como da própria linha Ultimate), tenho a impressão de que eventos densos e trágicos vão acontecer.

Isso é particularmente bem construído com a participação de Harry Osborn. Todas as suas aparições carregam uma certa dubiedade e suas palavras são sempre ambíguas, com grande destaque para a quarta edição do volume, em que Hickman arquiteta todo um capítulo apenas com diálogos em um jantar entre Parker, M.J., Osborn e, pasmem, Gwen Stacy (em uma versão próxima do que conhecemos da Liz Allen). Inclusive, a arte cartunesca de David Messina nessa edição é um ótimo contraste com o trabalho mais elegante de Marco Checchetto nas outras edições. Gosto como os artistas trabalham com a diagramação do texto cheio de diálogos de Hickman, tornando as páginas dinâmicas mesmo em conversações.

Hickman entende de mitologia como poucos nessa indústria. É só dar uma olhada no que ele fez com os Vingadores, o Quarteto Fantástico, os X-Men e, agora, aqui com o Homem-Aranha, referenciando e homenageando o passado, mas sem medo de caminhar para o futuro, quebrando o status quo. Muitos momentos desse primeiro volume fazem isso, brincando, aprofundando e mostrando novas facetas do universo do Teioso. Se não temos muita ação, não tem problema, porque a intenção é nos mostrar um Homem-Aranha como pouco visto antes: maduro e adulto. As dinâmicas familiares são o coração deste primeiro volume, mas podem ter certeza que as batalhas vão chegar… e iremos sofrer com a família Parker em perigo.

Ultimate Homem-Aranha (2024) – Vol. 1 (Ultimate Spider-Man – Vol. 1) | EUA, 2024
Roteiro: Jonathan Hickman
Arte: Marco Checchetto (#1 a #3 e #6), David Messina (#4 e #5)
Cores: Matthew Wilson
Letras: Cory Petit
Editora: Marvel Comics
Páginas: 173

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