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Crítica | Twisters (2024)

Soft reboot atualiza os efeitos visuais da trama de 1996 e entrega entretenimento ligeiro turbinado.

por Leonardo Campos
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No contemporâneo, após uma longa tradição narrativa na indústria cinematográfica, o soft reboot, fenômeno de popularidade, tem se tornando uma estratégia narrativa adotada por muitos cineastas e produtores para reinventar franquias consagradas e revigorar o interesse do público. E, logicamente, capitalizar em tornos de ideias que deram certo no passado, mesmo que necessariamente não tenha ganhado o apreço da crítica especializada. Esse é o caso de Twisters, um retorno ao clássico moderno de 1996 que divertiu muitas plateias com seus exageros, conquistando o coração dos nostálgicos, inclusive o de quem vos escreve. Para adentrar nesse novo universo de tornados e suas cenas eletrizantes de ação, foi necessário retornar ao filme dirigido por Jan De Bont, um excepcional diretor de fotografia, não exatamente competente na função de cineasta. A sensação é quase a mesma da última vez que a trama foi contemplada para a composição de uma crítica por aqui: diálogos frágeis, necessidades dramáticas firmes, mas executadas irregularmente, numa trama que funciona como entretenimento ligeiro, longe de ser um exercício cinematográfico memorável.

Dirigido por Lee Isaac Chung e escrito por Mark L. Smith, roteirista que toma como base o argumento de Joseph Kosinski, ambos embasados nos personagens de Michael Crichton e Annie-Marie Martin. É ruim? Não, seria leviano. É demasiadamente divertido, mas se encerra com uma sensação de que somos afrontados, pelo viés da inteligência, constantemente.  É a velha prática hollywoodiana de massificar os discursos narrativos, tornando tudo homogêneo, como se todos os espectadores estivessem no mesmo nível de experiência cinematográfica. Convenhamos, por sua vez, que não há como esperar de um mote narrativo do tipo, um desenvolvimento esférico de personagens ou conflitos mais coesos. Esperar por isso, no entanto, seria arrogância e pura perda de tempo da minha parte. E da sua, caso vá com essa expectativa. Twisters entrega entretenimento turbinado, efeitos visuais atualizados para toda a destruição estabelecida pelos tornados, elementos já contemplados em meados dos anos 1990, mas agora de maneira mais evoluída, ao longo de 117 minutos de duração que poderiam ser reduzidos para que a história ficasse ainda mais vertiginosa.

Na dinâmica do soft reboot, nós adentramos numa abordagem cinematográfica onde elementos basilares de uma franquia são mantidos, mas passam por um processo de reconfigurações para atrair uma nova geração de espectadores, isto é, o estabelecimento de uma trama que preserva a continuidade geral de uma história, mas introduz mudanças significativas o suficiente para revitalizar a narrativa e revitalizar o universo da obra. Não é nenhuma novidade no cinema, mas tem sido uma tendência na atualidade, haja vista as motivações delineadas na abertura dessa crítica. No caso de Twisters, a prática do soft reboot parece utilizada como uma estratégia para reviver um universo que tem perdido relevância ao longo do tempo, pois as últimas tentativas de trabalhar com desastres naturais como conflito externo de um roteiro tem sido uma prática mais catastrófica que os próprios temas debatidos nessas narrativas. No Olho do Tornado e No Olho do Furacão, por exemplo, não impactam. Entretenimento esquecível. Eu mesmo só lembrei porque retornei aos filmes sobre o tema para refletir sobre a narrativa em questão por aqui.

Dessa vez, o protagonismo é de Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones), uma jovem focada em suas investigações científicas, tendo como um dos parceiros de equipe, o dedicado Javi (Anthony Ramos). Nos primeiros minutos, tal como a maioria dos reboots, cenas do filme de base são emuladas, num repertório de referências que ajuda a nos situar. Rapidamente, a trama converge para o desastre, com tornados sugando corpos e as ideias de uma pesquisa cheia do vigor da juventude, devastada pelas intensas forças da natureza que antagonizam o filme. Logo após o seu preâmbulo, a protagonista convive com o trauma. Cinco anos se passaram e ela agora trabalha numa instituição de estudos e monitoramento meteorológico. Evita contato com a mãe e exibe uma faceta circunspecta, até que seu amigo Javi reaparece com uma proposta tecnológica tentadora para a investigação dos tornados. Com um projeto de viés social, tendo em vista diminuir os impactos dos tornados e seus efeitos devastadores, ele acaba por convencer a personagem a seguir numa empreitada inovadora.

É um momento para Kate confrontar suas memórias traumáticas e retomar o interesse pela aventura do passado. No local, na primeira iniciativa, ela breca. As coisas não saem como o planejado e os investidores começam a pressionar Javi para alcançar melhores resultados. É quando entra Tyler Owens (Glenn Powell), o laçador de tornados, aparentemente só babaca, mas um cara com motivações nobres por detrás da sua postura youtuber de lidar com os efeitos dessas forças da natureza que constantemente devastam algumas regiões do território estadunidense. Desse momento em diante, as duas equipes, a aparentemente só científica e a que busca apenas o espetáculo diante dos tornados entram em confronto, até que reviravoltas nos mostram que por detrás das necessidades dramáticas de todos os envolvidos, há uma espécie de “cortina de fumaça” que transforma a dinâmica da narrativa. No final das contas, entre possíveis mocinhos e bandidos, todos precisarão se unir para dar conta de algo que requer muitas explicações e ainda não é dominado completamente pela ciência: a fúria da natureza.

Quebrando expectativas e saindo da obviedade que tanto aguardamos para só confirmar diante da tela, Twisters é um espetáculo visual para quem busca entretenimento e algumas pinceladas de crítica social. As personagens, nós não podemos negligenciar, são carismáticas e atraentes. As piadas funcionam, porque quando são acionadas, não ficam aleatórias ao longo das linhas de diálogos. Há momentos de exagerada suspensão da descrença, mas, por favor, caro leitor, estamos diante de um filme de aventura sobre tornados, seres humanos inconsequentes com suas vidas, mas delirantes diante da possibilidade de deixar os seus nomes para a posteridade. O texto e a direção deixam latentes os desejos entre Tyler e Kate, mas a trama evita beijos e outros clichês regras da atração e pares românticos, preconizando a ação em seu nível mais elevado. Nesse quesito, a produção não nos decepciona.

Esteticamente, a narrativa entrega “aquilo” que é o esperado de um filme do subgênero desastre natural, conectado com as propostas do horror ecológico, dessa vez, sem animais assassinos, mas tornados constantemente furiosos. É a natureza em seu momento de rebeldia pura, potencializada pela eficiente trilha sonora de Benjamin Wallfisch, pelos enquadramentos assertivos da direção de fotografia de Dan Mindel, associados aos competentes efeitos especiais e visuais contemplados em todas as cenas de pura adrenalina. O design de produção de Patrick M. Sullivan também funciona adequadamente, pois é estabelecido em cena justamente para ser destroçado durante a passagem de cada tornado. Mais uma vez, o espaço de exibição cinematográfica é homenageado, mas em vez do aterrorizante O Iluminado, o público confere uma sessão de Frankenstein, a versão clássica da universal, com um destaque para a icônica passagem “ele está vivo”, uma provável referência, inteligente por sinal, ao último tornado enfrentado pelos personagens, o mais impactante, estabelecido para acabar com tudo que encontra pela frente, devastando não apenas bens arquitetônicos, mas muitas vidas.

Em linhas gerais, uma proposta de entretenimento para ser aplaudida. Diverte e não ofende ninguém com a tentativa de ser levado à sério demais. E sim, dramaticamente melhor que o filme de 1996, trama que pode ser um clássico hoje, mas não tem personagens tão charmosos quanto esse. Você, leitor, se já assistiu, o que achou?

Twisters (EUA, 2024)
Direção:  Lee Isaac Chung
Roteiro: Mark L. Smith, Joseph Kosinski (baseados nos personagens de Michael Crichton e Anne-Marie Martin)
Elenco: Daisy Edgar-Jones, Glenn Powell, Brandon Perea, Anthony Ramon, Maura Tierney
Duração: 117 min.

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