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Crítica | Turma da Mônica – Origens (2024)

A jornada de velhos amigos para juntos recuperarem a memória de um deles sobre a infância.

por Arthur Barbosa
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O universo criado pelo cartunista Maurício de Sousa atravessa gerações e, em função disso, quando os filmes Turma da Mônica – Laços (2019) e Turma da Mônica – Lições (2021) foram lançados nos cinemas brasileiros, juntamente à minissérie Turma da Mônica – A Série (2022) – em uma espécie de trilogia -, o sucesso foi estrondoso entre o público, tanto o infantil quanto o adulto. Dessa  maneira, em função da direção do espetacular Daniel Rezende, é de esperar que a narrativa da turminha mais amada do país continue mantendo a sua mesma essência nos diversos cenários em que podemos consumir as histórias do famoso e querido bairro do Limoeiro. Então, nessa nova produção, continuamos a ver os principais traços de Rezende, que mantém a alma da infância criada por Maurício de Souza nesta nova série do Globoplay, intitulada Turma da Mônica – Origens.

Nela, há a vivência da turminha liderada pela personagem Mônica em duas fases da vida: na infância e na velhice — uma grande novidade bem-vinda –, já que eles estavam sendo interpretados até a adolescência, como no péssimo Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo (2024). Além disso, em um formato com uma sensibilidade extraordinária, somos apresentados a respeito da origem do grupo, ou seja, como o encontro e a amizade deles tiveram início. Eles, então, se reúnem novamente na casa dos 70 anos pelo fato de a Mônica idosa, interpretada pela atriz Louise Cardoso, ter pedido a memória após sofrer um acidente e, com isso, ela não se lembra mais dos seus amigos. Dessa forma, a Turma da Mônica da terceira idade se reúne para contar o momento como eles se conheceram no Limoeiro Palace Hotel, com o objetivo de ajudar a protagonista a recuperar as suas faculdades mentais. Contudo, isso deveria ocorrer antes da passagem de um raro cometa, mesmo evento astronômico que eles acompanharam na infância, há exatos 63 anos. A ideia é relativamente simples, um tanto enxuta, o que faz dela não ser considerada original, isto é, um enredo fraco, não desenvolvendo de maneira expressiva e dramática o núcleo adulto. Talvez os roteiristas não quisessem aprofundar um drama denso por se tratar de uma série voltada para o público infantojuvenil, mas eles poderiam ter inserido os percalços da fase idosa e os seus desdobramentos, desde o surgimento de alguma doença ou o falecimento de um ente querido.

Outro ponto negativo foi a incoerência de dois personagens principais do grupo das crianças: a Mônica (Giovanna Urbano) e  Cebolinha (Felipe Rosa). No caso da primeira, ela ficou em todos os oito episódios com trejeitos e feições de uma garotinha rabugenta, e não brava e violenta, como é de costume vê-la nesses aspectos nas outras produções já citadas. Essas características estão diretamente relacionadas ao segundo, uma vez que o Cebolinha não milabolou, por exemplo, os famosos “planos infalíveis” contra a sua amiga. Consequentemente, ambos não estavam nas essências de seus personagens, pelo menos no sentido de seus comportamentos como crianças, como no último episódio, em que o Cebolinha infantil e o Cebolinha idoso decidem dar o famoso nó nas orelhas do Sansão para a indignação e a raiva da Mônica, com ela demonstrando uma certa violência em querer agredir o coleguinha; pelo menos se não me falha a memória foi a única vez em que eu vi ele tendo esse comportamento, com a pequena Mônica girado o seu melhor amigo no ar. Eu estava torcendo para que o Cebolinha estivesse envolvido com o sumiço do bichinho de pelúcia, apesar de ter adorado a participação especial do Maurício de Sousa nos segundos derradeiros do final da temporada, que mostrou o responsável por inserir o Sansão na máquina de brinquedos de pelúcia.

Já no que diz respeito ao núcleo adulto escolhido, percebe-se que ele foi selecionado com muito cuidado, excelência e respeito em relação aos lendários nomes da teledramaturgia brasileira para interpretar a Mônica (Louise Cardoso), o Cebolinha (Daniel Dantas), o Cascão (Paulo Betti), a Magali (Malu Valle) e a Milena (Dhu Moraes) na melhor idade. Eles incorporaram perfeitamente a turminha, mantendo sempre aquela inocência infantil embora já não mais conseguissem alongar o corpo em uma aula de yoga ou correr longas distâncias durante a realização de uma atividade física, por exemplo. Os atores transbordaram um carinho tão gigantesco sendo eles os intérpretes desses personagens tão queridos por nós, brasileiros, que a torcida aqui é grande para uma possível continuação em uma 2ª temporada. Quem aí não deseja ver o Paulo Betti, na pele do Cascão, fugindo de um banho de mar ao viajar para a praia com os amigos em novos episódios de Turma da Mônica – Origens, hein?! 

Por outro lado, no elenco infantil, temos o destaque para a Milena (Sabrina Souza), que mesmo procurando mil e um motivos para não se mudar para o bairro do Limoeiro com a sua família, foi arteira e perspicaz na anotação de todos os detalhes do grupo. Já podemos considerar, por exemplo, que a palavra inteligência faz parte do seu sobrenome, afinal de contas ela foi esperta – e um tanto carismática, seja na infância, seja na velhice – ao descobrir que a Denise (Mel Dutra) estava aprontando para alterar o resultado da gincana promovida pelo Denilson (Marcos Veras), o seu pai e gerente do hotel, juntamente à divertida participação do Tio da Recreação (Érico Brás). Ademais, Cascão (Bernardo Faria) e Magali (Manu Colombo), ao contrário da Mônica e do Cebolinha, estavam excepcionais em suas tramas, com ele morrendo de medo de água em qualquer situação – passando gel no cabelo e tomando banho de perfume -, em contrapartida tivemos ela comendo toda a comida do frigobar do quarto e também da mesa durante a competição do futebol de sabão.

Somado a isso, precisamos elogiar a produção, que mais uma vez teve cenas gravadas na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais. Lá, o universo do Limoeiro foi criado de forma certeira, tendo uma identidade própria e encantadora: a fotografia e os cenários remetem aos dos dois filmes e a minissérie citados no início desta crítica, a estética dos personagens é condizente às anteriores e o figurino é lindo e semelhante aos antecessores. Destaque também para a atriz Mônica Iozzi, interpretando novamente a Dona Luísa, a mãe da Mônica, de maneira doce e cativante. É nítido a preocupação de eles manterem a essência da Turma da Mônica viva embora haja obviamente diferenças entre os filmes e as séries, porque aos olhos do público, ao meu ver, o que encanta são os pequenos detalhes que não podem ser perdidos ao longo do tempo. Se a Maurício de Sousa Produções (MSP) continuar tendo esse carinho e, muito provavelmente, permanecerá, não resta dúvida: as novas produções da Turma da Mônica continuarão acalentando os corações dos fãs, perpetuando, assim, por longevas gerações brasileiras. 

Com um roteiro sensível, que explora a passagem do tempo e a relevância de se manter memórias compartilhadas com os amigos, Turma da Mônica – Origens é mais um sucesso consagrado dessa família amada há mais de 60 anos. Isso foi notório na intercaladas de cenas entre o passado e o presente, em um diálogo tocante e sensível sobre as inevitáveis mudanças da vida e o impacto duradouro de se manter fiéis amigos ao longo dos anos. O seriado consegue ser uma obra encantadora, transcendendo a simples nostalgia ao oferecer aos telespectadores uma reflexão sobre a amizade na infância e no envelhecimento, momentos presentes na vida de qualquer ser humano. De fato, Turma da Mônica – Origens – mesmo tendo apresentado alguns equívocos no roteiro, como o fato da existência de um hotel com o mesmo nome do bairro do Limoeiro – conseguiu emocionar, divertir e arrancar lágrimas, oferecendo ao público, mais uma vez, pura emoção e nostalgia.

Turma da Mônica – Origens (Brasil, 24 de Outubro de 2024)
Showrunner: Daniel Rezende, Marina Maria Iorio
Direção: Isabel Valiante
Roteiro: Marina Maria Iorio, Fernanda de Capua, Yann Lima, Verônica Honorato, Rose Caetano
Elenco: Giovanna Urbano, Felipe Rosa, Manu Colombo, Bernardo Faria, Sabrina Souza, Louise Cardoso​, Daniel Dantas​, Malu Valle, Paulo Betti​, Dhu Moraes, Érico Brás, Marcos Veras, Mel Dutra, Bernardo Soares, Érico Brás, Monica Iozzi, Luiz Pacini, Fafá Rennó, Felipe Rocha, Marcela Rosis, Beto Schultz, Angélica de Paula, Adriano Paixão
Duração: 6 episódios com cerca de 24 min. cada

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