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Crítica | Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo

Riverdale encontra Scooby-Doo no mágico Limoeiro.

por Luiz Santiago
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São compreensíveis as reclamações feitas em relação ao elenco de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, obra que vem se arrastando desde 2016, e que finalmente chegou aos cinemas, abrindo uma nova porta no Mauricioverso audiovisual. Mal acostumados com o simpaticíssimo elenco de Laços, Lições e da série, chegamos aqui a um grupo de jovens atores que fazem o possível para entregar algo interessante, mas são frustrados por uma série de fatores que comentarei mais adiante. O que é importante dizer, é que estamos em um outro Universo, com um novo público-alvo e uma nova abordagem narrativa, de modo que faz sentido mudar o elenco, em vez de apenas recontratar a turminha já conhecida e que está na idade de interpretar seus personagens na faixa etária de Reflexos do Medo — embora, no meu coração, eu tenha desejado ardorosamente que isso acontecesse.

Sem praticamente nenhuma personalidade de assinatura visual, o diretor Mauricio Eça cria um projeto similar a uma coleção de pequenos temas de terror acoplados ao entorno da TMJ. Até existe aquela estranheza mesclada de curiosidade, quando vemos esses personagens tão icônicos, que conhecemos quando ainda eram crianças (um sentimento também aplicado ao quadrinho em seu estilo mangá) e que agora possuem outra aparência, outras gírias, outros interesses. Na produção, eleva-se a decepção que tive ao ver o quão sutis são as referências necessárias em termos de hábitos e personalidades. A direção também não ajuda, nesse aspecto, já que as individualidades estão perdidas e o pouco que sobra das relações interpessoais básicas para a construção de novas (como a assumida paixão de Cebola pela Mônica, por exemplo), parece ser concentrada apenas na bela amizade entre o troca-letras (que só troca uma vez no filme e não há mais citação alguma sobre isso) e o Cascão, o que é elogiável, mas não basta; especialmente porque o laço entre a dona da rua e Magali tinha muito mais para oferecer do que apenas amenidades mágicas e breves desabafos.

E aqui, chegamos ao elenco. A direção acabou guiando o grupo para agir como robôs diante do texto, sem espaço para improviso coeso dentro das falas ou para a presença de diálogos travados com naturalidade, mais soltos, próximos daquilo que encontramos no cotidiano. Milena (Carol Roberto), Cebola (Xande Valois) e Cascão (Theo Salomão) são os que mais possuem centelhas de bons momentos, mas é tudo tão isolado e tão rápido, que a impressão que temos deles e de outras duas atrizes centrais (Sophia Valverde e Bianca Paiva, Mônica e Magali, respectivamente) é a de que não conseguiram construir em nada seus personagens. Sem ingredientes visuais distinguíveis, sem um bom diretor guiando a obra e com um roteiro que, para ser bem sincero, tem apenas um fiapo de história que mal se segura em termos de motivação, estrutura do antagonista e problemática, quem acaba dando a cara a tapa é só o elenco. E embora eu realmente acredite que o grupo seja dramaturgicamente fraco, também entendo que todos possuem capacidade de criar algo melhor que isso; bastava alguém com alguma visão (qualquer visão, que já era melhor do que nenhuma) atrás das câmeras.

No pacote das coisas que pouco ou nada funcionam, temos a trilha sonora que atira para todos os lados (lembrando: temas isolados, por melhores que sejam, não fazem sentido se não conversarem com a identidade do filme); os coadjuvantes que aparecem e desaparecem apenas para cameo referencial e o engajamento dos protagonistas no enredo mágico/fantasioso que em tese deveria mover a trama. Ocorre que o problema da entidade que vem com o cometa e suga a alma das pessoas só tem uma exposição aceitável, que é o Cabeça de Balde. Quando olhamos para a sua dinâmica de ação (roubar o corpo, levar tudo para o mundo dos espelhos e trazer de volta para então roubar outro corpo), desanimamos diante da repetição dos atos. Pelo menos o roubo do corpo do Cascão até que traz um lampejo de aceitação, mas nada que dure muito. E faço questão de dizer que muito da atuação rejeitável do elenco vem dos tempos mortos e da falta de agilidade cênica cometidas pela péssima montagem, certamente uma das piores da safra — e olhem que o filme estreou em 18 de janeiro!

Decepcionante em enredo, personagens, identidade, atmosfera e maneira de colocar na tela aquilo que propõe, sobra a Reflexos do Medo uma direção de fotografia que consegue fazer tudo certinho e uma aplicação de efeitos que, para ser sincero, não é ruim. Migalhas de momentos interessantes da aventura e fagulhas de destaque do elenco completam esse novo produto dos personagens de Mauricio de Sousa. Um filme que sequer consegue colocar um ponto final em si, fazendo charme com um final aberto que gera tanta expectativa no público, quando geraria um pequeno pedregulho no canto de uma calçada, na maior metrópole da América Latina. Depois de dois grandes acertos guiados por Daniel Rezende, é quase uma piada horrorífica ver onde chegamos.

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (Brasil, 2024)
Direção: Mauricio Eça
Roteiro: Regina Negrini, Sabrina Garcia, Rodrigo Goulart (baseado nos personagens de Mauricio de Sousa)
Elenco: Maria Bopp, Júlia Rabello, Sophia Valverde, Mateus Solano, Bianca Paiva, Xande Valois, Lucas Leto, Rodrigo Fernandes, Bruno Vinícius, Theo Salomão, Giovanna Chaves, Amanda Torre, Yuma Ono, Carol Amaral, Carol Roberto, Ataíde Arcoverde, Lucas Pretti, Eliana Fonseca
Duração: 88 min.

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