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Crítica | Tulsa King – 1ª Temporada

Balboa da máfia.

por Kevin Rick
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Em seu primeiro papel expressivo na televisão, Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, o protagonista é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, Manfredi decide se tornar o rei do crime de Tulsa, Oklahoma.

Em alguma entrevista que não me lembro, Sly disse que Tulsa King poderia ser seu “canto do cisne“. Consigo entender de onde vem esse pensamento do ator, que, depois de anos repetindo papéis e estereótipos nas telonas, encontrou um personagem que demanda o máximo possível de suas limitações dramáticas, podendo ser seu último ato na frente das câmeras, em um contexto que se confunde com sua própria carreira: um homem tentando se reinventar em uma idade avançada. Chega a ser irônico assistir Stallone fazendo uma obra sobre máfia depois de tantos anos dizendo que nunca foi “um De Niro ou Al Pacino” das telonas.

Apesar de ter sido comparada com Família Soprano por alguns, o que é um tremendo exagero, a série criada por Taylor Sheridan lembra mais Lilyhammer em sua premissa do criminoso mais velho em uma terra remota e estranha. As séries até compartilham o humor entremeio à violência e o crime como uma válvula de escape para roteiros menos densos e que às vezes se assemelham a uma sátira ou paródia. Infelizmente, a produção nunca abraça a comédia por completo e acaba tendo problemas de tom.

Como era de se esperar, o seriado carrega a marca conservadora que Sheridan tem inserido em seu império televisivo, como Yellowstone e Mayor of Kingstown. Quando isso é levado para o lado humorístico, Tulsa King consegue ser charmoso, com Sly interpretando quase uma caricatura de si mesmo, com seu personagem tendo problemas com tecnologia, com novidades sociais e reclamando de pronomes de gênero. Também é divertido a maneira como os personagens vão se corrompendo a sua volta, com Armand (Max Casella) e Mark (Michael Beach) encontrando versões “brutas” e violentas de si mesmos, e outros personagens como a agente Stacy Beale (Andrea Savage) e o taxista Tyson (Jay Will) se tornando pessoas bem diferentes ao longo da temporada.

É quando a obra tenta ser um pouco mais séria e madura que os superficialismos dramáticos e narrativos se revelam. Os problemas começam com o próprio arco de Manfredi tentando construir um novo império, algo trabalhado pela história como a sagacidade e carisma do cara velho, mas que é executado de maneira leviana com o protagonista conseguindo as coisas com uma facilidade estranha e absurda. Assim que o personagem chega em Tulsa, ele rapidamente consegue um motorista, uma mulher mais jovem e uma loja que vende maconha, sem muito esforço, indicando a preguiça do roteiro pouco intricado de Sheridan e companhia.

A história fica mais fraca e perde sua força paródica quando mistura algumas subtramas sem sentido, com uma gangue de motoqueiros, a agência de Stacy e a guerra interna da máfia com Chickie, todas com algum nível de violência e densidade que não se encaixam na produção. A série é normalmente mais interessante quando aborda com leveza o grupo liderado por Manfredi, sem tantas intervenções ruins de núcleos mal encaixados e antagonistas cafonas. O drama da série fica ainda mais brega quando tenta forçar problemas como o relacionamento de Manfredi com sua filha ou suas reflexões sobre tempo perdido sem a devida profundidade que tais temas merecem.

Não tenho certeza se Tulsa King tem o calibre necessário para ser o canto de cisne de Sly, pelo menos não com a intenção que ela caracteriza esse papel, como uma espécie de legado. Quando a série é sobre o crime, intrigas de máfia e dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ver uma produção óbvia, genérica e sem direção. Então, para ser realmente o legado maduro de Sly, Tulsa King tem muito o que melhorar em sua vindoura segunda temporada. Espero, porém, que a obra abrace seu lado mais satírico com seu protagonista meio Joe Pesci, meio Steve Van Zandt. É uma série divertida quando não tenta ser mais do que realmente tem a oferecer.

Tulsa King – 1ª Temporada (EUA, de 13 de novembro de 2022 a 08 de janeiro de 2023)
Criação e desenvolvimento: Taylor Sheridan
Direção: Allen Coulter, Ben Richardson, Ben Semanoff, Guy Ferland, Lodge Kerrigan
Roteiro: Taylor Sheridan, Terence Winter, Joseph Riccobene, Regina Corrado, Dave Flebotte, Tom Sierchio
Elenco: Sylvester Stallone, Andrea Savage, Martin Starr, Jay Will, Max Casella, Domenick Lombardozzi, Vincent Piazza, A.C. Peterson, Garrett Hedlund, Dana Delany, Annabella Sciorra
Duração: 09 episódios com média de 60 min.

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