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Crítica | Tucker: Um Homem e seu Sonho

Olhar crítico sobre os mecanismos do sistema.

por Fernando JG
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Quando perto dos anos 50, logo após a guerra, Preston Tucker (Jeff Bridges) ambiciona produzir um carro revolucionário, batendo de frente com grandes empresas que monopolizam o mercado de automóveis, ele percebe a missão quase impossível da sua proposta diante de adversários industrialistas gigantes que farão de tudo para derrubá-lo a fim de que mantenham a hegemonia comercial. Boicotado por todos os lados e sendo processado por empresários do ramo que querem destruí-lo, Tucker faz de tudo para não deixar o seu sonho morrer. Safar-se, no entanto, será o bastante para se colocar em pé de igualdade com modelos de produção já estabelecidos no mercado? Este é um filme baseado na história real de Tucker, roteirizado por Arnold Schulman, David Seidler e dirigido por Francis Ford Coppola

Não é à toa que Coppola cria um filme biográfico, uma vez que seu pai fora investidor do projeto de Preston Tucker, e o produtor, George Lucas, também era entusiasta das produções do empresário, tendo mesmo em sua garagem um modelo do automóvel. Sendo assim, ele tem familiaridade com o material que carrega em mãos. Com isso, Coppola trabalha a partir de uma crítica sutil, desmascarando os problemas do monopólio comercial dentro de um sistema que, a princípio, deveria promover a ideia de livre comércio. O seu self-made man aparece sufocado por grupos infinitas vezes maiores, que abafam o surgimento de talentos individuais. É em cima deste conceito crítico que o longa-metragem se realiza por inteiro, caracterizando-se por revestir o seu enredo numa comédia-dramática mediana. 

O estilo de sua película adota uma mistura das características do drama e comédia, como dito, mas flerta vez ou outra com uma mise-en-scène teatral muito brechtiana. A recriação da década de 40 é apurada, bem como o figurino e a cenografia. A propósito, a cinematografia despojada e alegre dirigida pelo excelente Vittorio Storaro não deixa a desejar e constrói o clima fílmico com firmeza, consistência e identidade própria. 

É notório que há algo diferente de tudo o que Coppola já fez em seus melhores filmes. A sua inconfundível ‘mão pesada’, que produz aquela atmosfera densa e carregada, desaparece aqui. Ele opta por uma espécie de estilo médio, com alguma agilidade e alegria entusiasmada ao longo da sua película. No entanto, não há ambição nenhuma neste filme e ele se contenta em ficar num lugar muito mas muito mediano, não conseguindo nos comover nem por meio do carisma, que é mal forjado. O estilo do qual tenta trabalhar em Tucker aproxima-se de sua outra produção, O Fundo Do Coração, contudo, nem de longe consegue a afetação de estilo e o lirismo que toma conta do clima deste que é um de seus filmes mais lindos, o mais lírico de sua filmografia. Tucker é Hollywood de botequim para todo mundo botar defeito, daqueles feitos sem pretensão alguma. 

O roteiro opta por focar num período de 60 dias, que é o tempo em que o protagonista é obrigado a mostrar serviço e entregar a sua peça automobilística para garantir algum financiamento. É um texto simples, redondo, que leva o personagem para o meio de uma polêmica, que também é prontamente resolvida sem força ou empolgação. O nó estabelecido ao longo da intriga tem seu desenlace também num meio tom indiscutivelmente trivial e me dá a sensação de que o texto, logo após a cena da absolvição, não sabia mais para onde ir. A solução mais rápida era, de certo, finalizar ali mesmo, como ocorre.  O julgamento é absolutamente sem emoção e não produz o mínimo de apreensão necessária que uma cena desta precisava. O filme é ainda facilitado por um pré-créditos finais que coloca uma tela fixa enquanto uma voz em terceira pessoa narra o que aconteceu com ele nos próximos anos, escolhendo não prolongar o enredo para além do julgamento. Não há pretensão alguma, tampouco exigência de enredo. 

A figura caricata do personagem principal interpretado por Jeff Bridges não entretém. O que acontece é que o sujeito é desinteressante. A sua persona tem um toque de vigarice que não me agrada, sendo mesmo um personagem isento de carisma, humor e simpatia, e antes fosse antipático do que enfadonho. Tucker não provoca e não desperta o mínimo de interesse para que nos empenhemos em assistir o desenrolar de suas ações com afinco. Os outros, os coadjuvantes, são também superficiais. E ouvi dizer que Coppola queria fazer disso um musical, ora, deveria ter feito, talvez este gênero lhe seria propício para o estilo que propõe no todo de seu filme, tanto em aspectos enredísticos, quanto em caracterização de personagem.

Tucker passeia por uma cinematografia despretensiosa mas com uma narrativa que tem sua origem numa proposta crítica a respeito de alguns arranjos do sistema capitalista. A saga do protagonista acaba sendo nula para ele pois vive pouco para presenciar o reverberar de suas ideias, que acabam sendo revolucionárias postumamente por lançar preceitos fundamentais como questões da aerodinâmica, freios a disco, entre outros. Enquanto filme, embora alegre e com um entusiasmo inocente, é básico. 

Tucker: Um Homem e seu Sonho (Tucker: The Man and His Dream, EUA, 1988)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Arnold Schulman, David Seidler
Elenco: Jeff Bridges, Joan Allen, Martin Landau, Frederic Forrest, Mako, Dean Stockwell
Duração: 110 min. 

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