Como qualquer outra manifestação artística, o cinema é uma modalidade que atravessa fases. Possui os seus subgêneros e, no campo que hibridiza o terror e a aventura, temos as narrativas do horror ecológico, filmes que apresentam uma estrutura narrativa quase sempre muito similar: um grupo de seres humanos, acossados por animais selvagens, enfrenta os seus maiores medos ao lidar com as forças da natureza. Estas narrativas geralmente abordam a resposta do meio ambiente ao manejo da intervenção humana, demonstrando como ações causam as reações nefastas apresentadas nestas tramas que sempre se atualizam na dinâmica da produção cultural desde que o cinema se estabeleceu no começo do século XX. Enchentes, tempestades, furacões e… animais antropomorfizados, transformados em máquinas de matar. Neste segmento, tempos os leões, serpentes, aranhas, tubarões, dentre outros. Em Tubarão – Mar de sangue, o problema não é ambiental, mas apenas a exposição da irresponsabilidade de um grupo de jovens que insistem em se divertir numa região conhecida pelo patrulhamento destes misteriosos seres dos oceanos. Os resultados são bem abaixo da média, se comparados ao que foi apresentado em Águas Rasas e Medo Profundo, mas ainda assim, conseguem superar a mediocridade dos terríveis desempenhos do canal Sci-fi, tal como Tubarão Tóxico, Ilha dos Tubarões, etc.
Diante do exposto, nos encontramos diante de um filme que está no entre-lugar. Não é um bom filme de tubarão, também não é um abominável, mas apenas uma tentativa de capitalizar em torno de uma proposta já exaurida, desta vez, com diálogos muito abaixo da média, personagens planos, reviravoltas chatas e desfecho quase anticlimático. Dirigido por James Nunn, cineasta que assume o roteiro de Nick Saltrese, Tubarão – Mar de sangue troca os corais onde a protagonista de Águas Rasas fica ilhada por um jet ski, tomado de empréstimo pelo grupo de jovens que decide investir numa aventura radical após uma noite de bebedeira, sexo e outras opções de diversão conivente para quem está de férias. Avisados sobre os riscos por placas e outros personagens que trafegam pelo preâmbulo da trama, eles decidem ignorar os conselhos e partem em busca de momentos de intensidade.
As coisas não saem como o planejado e depois de colidirem em alto-mar, precisam lidar com os ferimentos provenientes do impacto, bem como com a presença de um tubarão de enormes proporções, antagonista do mundo animal que os perseguirá durante longas e agonizantes horas nas águas profundas do litoral mexicano. Sem acesso aos recursos tecnológicos para solicitação de socorro, os jovens precisam enfrentar a fera faminta e ainda lidar com os contratempos do roteiro, dentre eles, uma falha descoberta de traição entre amigos, subtrama que não ajuda em nada no desenvolvimento da trama e torna os diálogos ainda mais superficiais. Não fosse apenas esse o problema, Tubarão – Mar de sangue peca também pelo seu ritmo arrastado, com poucos instantes de adrenalina convincente. Para um filme de tubarão e perseguição, este é um grande problema para quem busca entretenimento.
Em seus 97 minutos, o filme peca pelos efeitos visuais. Se fosse investir apenas na barbatana para criar a atmosfera de horror, tudo bem, mas a narrativa nos apresenta um CGI muito tosco, sendo melhor ter investido na edição e comprado imagens de documentários para as passagens do tubarão em seu patrulhamento assassino. Com direção de fotografia relativamente eficiente, trabalho assinado por Ben Moulden, Tubarão – Mar de sangue conta com uma trilha sonora pouco memorável, textura percussiva assumida por Walter Mair. Como mencionado, os efeitos visuais da equipe gerenciada por John Paul Docherty também fica devendo, tal como a edição de Tommy Boulding, setor que não consegue disfarçar as falhas estruturais da produção. A maquiagem de Stefania Piovesan consegue transpassar o clima de horror e sangue, mas este é um detalhe que não se faz suficiente para tornar o filme uma produção memorável do segmento. Ademais, no grupo de personagens acossados pela fera aquática, temos Nat (Holly Earl), o arquétipo da “final girl” dos filmes de tubarão, candidata certinha ao posto de protagonista, o seu namorado Tom (Jack Trueman), a melhor amiga Milly (Catherine Hannay), além de Greg (Flynn) e Tyler (Malachi Pullar-Latchman), todos expostos no oceano, as presas humanas do título. Tal como mencionado na abertura, filmes do segmento vivem de fases. Este exemplar, no caso, é uma demonstração da falta de oxigenação, em linhas gerais, uma fase ruim.
Tubarão – Mar de sangue (Shark Bait, EUA – 2022)
Direção: James Nunn
Roteiro: Michael O’Shea
Elenco: Holly Earl, Jack Trueman, Catherine Hannay, Malachi Pullar-Latchman, Thomas Flynn, Daniel Casingena, Manuel Cauchi, Maxime Durand, William Erazo Fernández, Ludovica Loda, Milo McDowell, Joshua Takacs
Duração: 93 min