Durante a Segunda Guerra Mundial, os maquis, nome dado aos integrantes de um grupo francês de resistência ao nazismo, buscam recuperar alguns de seus companheiros de uma prisão nazista. A missão ocorre bem, a não ser pelo fato que, em meio a troca de tiros e a fuga, os combatentes não perceberam que um homem desconhecido por todos foi resgatado junto aos demais prisioneiros. O impasse se instala: é um deles, um mero civil ou um espião? Tendo visto e ouvido demais, decidem levar o homem junto por segurança, mas seu comportamento ambíguo afetará todo o futuro do grupo.
Ainda que no início da carreira, Tropa de Choque: Um Homem a Mais, o segundo longa dirigido pelo cineasta grego Costa-Gavras, traz boa parte das características que nos acostumamos a ver em seus trabalhos. A abordagem de temas políticos e eventos históricos, assim como uma comicidade certeira em meio a momentos sérios sem que fique fora de tom, estão presentes nessa obra de guerra. Marcas essas que, apesar de um filme completamente diferente, também são conferidas em seu primeiro longa, Crime no Carro Dormitório, ainda que com maior presença da comédia.
Dentre as qualidades de Tropa de Choque: Um Homem a Mais, além da sempre bem-vinda resistência contra nazistas, a que mais me chamou atenção foram os enquadramentos utilizados pelo diretor. Ao longo de toda a obra, Costa-Gavras usa e abusa de planos médios e fechados. Não importa se estamos vendo nazistas sendo baleados, maquis roubando um banco ou planejando os próximos passos em seu esconderijo, quase todos os momentos são filmados com planos mais fechados, como se a câmera oprimisse as personagens. É um reflexo do entorno: a guerra é desconfortável, incômoda e opressora.
Porém, da mesma forma que há dubiedade no homem extra resgatado da prisão, interpretado por Michel Piccoli, a opressão da câmera do cineasta também pode ser vista como união. Por exemplo, as cenas em que o grupo da resistência planeja seus próximos passos são filmadas dentro de uma casa escondida em uma floresta, longe dos radares nazistas. Os ângulos e o longo tempo utilizado pelo diretor para desenvolvimentos dessas sequências, investindo na interação e no relacionamento das personagens, traz uma sensação de conexão essencial para o grupo continuar atrás de seus objetivos, ainda que o homem extra destoe e confunda a todos constantemente.
É Costa-Gavras mostrando a importância das relações para a raça humana, ainda mais em momentos críticos e extremos, como em meio a uma guerra global. Por mais forte que fosse sua ideologia, nenhum daqueles presentes conseguiria seguir em frente e enfrentar tamanho desafio sem o companheirismo de seus irmãos de guerra, não da mesma maneira, pelo menos.
Ao mesmo tempo, por mais que o diretor dedique tempo para desenvolver essas relações, boa parte dessa dedicação fica resguardada para um punhado dos envolvidos com maior destaque, tornando o grande número de soldados na tropa um elemento incômodo. Chega ao ponto de termos dificuldade de lembrar quem é aquela personagem ou de confundi-la com outra, evidenciando como a construção desse núcleo se mostra uma faca de dois gumes, com o que a obra tem de melhor e pior conjuntamente.
De qualquer maneira, Tropa de Choque: Um Homem a Mais consegue ser uma obra que retrata bem aquele momento histórico, já apresentando elementos que se tornariam marcas registradas de um dos grandes diretores do cinema político.
Tropa de Choque: Um Homem a Mais (Un homme de trop) – França, Itália, 1967
Direção: Costa-Gavras
Roteiro: Jean-Pierre Chabrol, Costa-Gavras, Daniel Boulanger
Elenco: Charles Vanel, Bruno Cremer, Jean-Claude Brialy, Michel Piccoli, Gérard Blain, Claude Brasseur, Jacques Perrin, Claude Brosset, Pierre Clémenti, François Périer, Michel Creton, Paolo Fratini, Julie Dassin, Nino Segurini, René Alone, Edmond Ardisson, Monique Chaumette, André Dalibert, Gérard Darrieu, Mario David, Michel Duplaix, Philippe Forquet, Maurice Garrel, Jean-François Gobbi, Michel Gonzalès, Med Hondo, Billy Kearns, Jean-Louis Le Goff, René Lefèvre, Guy Mairesse, Roger Marion, Michel Modo, Françoise Pavy, Roger Pera, Marc Porel, Patrick Préjean, Sady Rebbot, Mony-Rey, Albert Rémy, Serge Sauvion, Jacqueline Staup, Dominique Viriot, Michèle Bardollet
Duração: 110 min.