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Crítica | Trolls 2 (Trolls: World Tour)

por Iann Jeliel
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Because trolls just wanna have fun.

Parecia desconvidativo e banal, mas o primeiro Trolls provou-se surpreendentemente maduro e absolutamente comunicativo com qualquer geração. Uma animação contagiante que levava a obviedade de sua mensagem sobre felicidade para as diretrizes modificadoras do universo infantil proposto, instabilizando de acordo com a musicalidade colorida. Essa continuação vai assumir isso mais explicitamente, dividindo as “espécies” de trolls por gêneros musicais e propondo uma nova unificação de diferentes povos, desta vez até mais complicada se tratando de uma separação literalmente dada por “gostos” diferentes.

O discurso pela obviedade está presente novamente, o início maniqueísta, apesar de lidar com mais polos – seis gêneros musicais distintos – basicamente utilizará as mesmas regras estruturais para a crescente dos ensinamentos morais. Levanta conceitos caricatos para aos poucos ir se desvirtuando deles numa caricatura crítica de si mesma, que vai propor naturalmente através de choques culturais, nesse caso, musicais encaminhando a quebra de diferentes tradicionalismos. No caso, a caricatura principal escolhida é o rock, um antagonismo no mínimo curioso, embora no início caia em terrenos um tanto preconceituosos, como se o discurso segregacionista da vilã, que acredita no rock como a única música de verdade e quer transformar o gosto de todos, fosse um desejo retraído do estilo na modernidade pela falta de espaço mainstream no cenário da música mundial.

Em visual, isso fica mais evidente, enquanto os outros estilos parecem ter uma pluralidade maior de variações de design, os roqueiros ficam num mesmo tom, algo incoerente seguindo a trilha da transformação do filme, tornando-a mais óbvia que antes, embora graficamente falando, o pulo de 4 anos faça uma enorme diferença na qualidade das composições de cada personagem. Lógico, é uma liberdade tomada para as decisões de humor, e o time de dublagem transparece estar se divertindo com essa justaposição de arquétipos dada a linguagem ainda mais infantil. Não deliberadamente, afinal não são sobre contrastes fortes de personalidade, mas como dito, de gostos, por mais que aquele gosto a princípio seja a essência do ser da cultura troll, no exercício de unificação é algo íntegro a ser desconstruído ao longo do filme.

O que por um lado é frustrante, pois o universo ali permitiria um amplo e representativo estudo dos conflitos gerado ao longo da história da música, algo que acontece em tom de brincadeira e descompromisso, mas que poderia ser mais extrapolado em piadas visuais, ao invés de apenas verbais autoexplicativas. Contudo, esses problemas não invalidam a eficácia da criatividade de inserção dos novos elementos. É uma continuação que agrega de fato, uma universalização de seus arredores, aumentando o poder comunicativo, principalmente por poder explorar mais a psicologia das cores como forma de conversação junto à música. Assim como no primeiro, a playlist é toda baseada em canções preexistentes, contudo elas não são escolhidas para narrar a história, pelo contrário, a trama parece seguir o que dizem as músicas propositalmente para consumar o humor e sobretudo as mensagens edificadoras.

Tendo em vista essa pluralidade, o exercício criativo não possui exatamente um limite, e por mais que esteja em um terreno confortável, não fadiga possibilidades futuras e nem se torna previsível em demasia, apenas respeita seu local e se compromete bastante com o público-alvo que deseja, o que garante cativar da mesma e de mais formas. Verdade que sem o mesmo charme ou bônus do elemento surpresa do primeiro filme, mas é um mais do mesmo gostoso de se ver.

Trolls 2 (Trolls: World Tour / EUA, 2020)
Direção: Walt Dohrn
Roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger, Maya Forbes, Wallace Wolodarsky, Elizabeth Tippet, Thomas Dam.
Elenco: Anna Kendrick, Justin Timberlake, Rachel Bloom, James Corden, Ron Funches, Kelly Clarkson, Anderson Paak, Sam Rockwell, George Clinton, Mary J. Blige, Kenan Thompson.
Duração: 118 min.

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