No segmento dos filmes slashers, houve tentativas em torno de diversos tipos de situações, das mais inusitadas, para criar assassinos responsáveis por mortes em sequência, tendo um acontecimento do passado como ponto de partida. Desde afogamentos em acampamentos com instrutores que faziam sexo ao invés de tomar conta das crianças, aos casos de brincadeiras com fogo ou armadilhas mortais que deram errado e fizeram as suas vítimas retornarem, vivas ou por meios sobrenaturais, para estabelecimento do plano de vingança. Em Trilha de Corpos, lançado em VHS no Brasil com este título, mas exibido na televisão aberta como Noivas em Perigo, temos um psicopata que não é mascarado, mas adora ligar para as suas possíveis vítimas e promover pequenas perseguições que lembram bastante algumas cenas da fascinação de Michael Myers por Laurie Strode em Halloween: A Noite do Terror, de John Carpenter, filme que serve de ponto de partida tributário para o desenvolvimento deste slasher leve sobre noivas perseguidas.
Basicamente, o que sabemos, é que há um assassino na cidade. Ele tem aniquilado mulheres e os homens que passam próximos, apenas por se posicionarem como possíveis obstáculos para a sua sede de sangue misógina. As motivações são explicadas ao passo que Trilha de Corpos se desenvolve em seus breves 94 minutos. Sabemos que num passado não tão distante, o antagonista foi esnobado por sua amada, deixado de lado diante do interesse da moça por outra pessoa. Com isso, numa vingança maquiavélica planejada com crueldade, ele mata esta garota e agora, parece fascinado por ceifar qualquer candidata ao posto de peça principal numa cena de casamento. O detetive Len Gamble (Lewis Arl) funciona aqui como uma espécie de Dr. Loomis do filme com o mascarado Michael Myers. Ele passa toda a jornada em busca da eliminação do psicopata, culminando num desfecho não favorável para a sua meta planejada.
Somos informados que em sua história recente, o representante da lei perdeu a sua noiva numa situação semelhante, situação combustível para as ações em prol da busca, apreensão ou eliminação do antagonista de Trilha de Corpos. Ele precisa lidar com diversos mecanismos de burocracia na polícia, com membros que a todo instante, atrapalham o caminho pavimentado em sua investigação. Enquanto o assassino não é capturado, outras mulheres morrem, em sequências de suspense bem orquestradas, dirigidas por Armand Mastroianni, cineasta guiado pelo texto de Scott Parker, material redondinho, com situações amarradas e diálogos enxutos, dinâmica de perseguições envolventes e atmosfera ideal para uma história de terror simples, manipuladora de nossos medos, haja vista o tom realista da perspectiva de um psicopata de carne e osso, sem toques sobrenaturais, a buscar mulheres comuns como vítimas de sua visão deturpada e transtornada das rejeições propostas pela vida.
Anterior ao advento da Safra 1981 do subgênero slasher, Trilha de Corpos, ou Noivas em Perigo, traz como final girl a jovem Amy Jensen (Caitlin O’Heaney), uma garota que está prestes a se tornar esposa de um homem que partiu com os amigos numa viagem de despedida de solteiro. Ela é constantemente rodeada por Marvin (Don Scardino), um namorado anterior que ainda aparenta ter muito interesse nela, mas que perdeu lugar para o atual. Tendo a jovem como centro de sua perseguição, o antigo terá a chance de ser um adjuvante na proteção da amada, garantindo um novo lugar na vida da moça. É o que contemplaremos no desfecho que expõe para os espectadores uma extensa e ofegante sequência de perseguição, numa narrativa que só enfraquece em seu epílogo, espécie de escolha circular para a história, fechando com um crime que pode ter sido pensado como estratégia de garantir uma desnecessária continuação que nunca aconteceu. Fora isso, suspense padronizado que é a cara de sua época.
Comunhão (He Knows You’re Alone, EUA – 1980)
Direção: Armand Mastroianni
Roteiro: Scott Parker
Elenco: Don Scardino,Tom Hanks, Caitlin O’Heaney, Elizabeth Kemp, Tom Rolfing, Lewis Arlt, Patsy Pease
Duração: 94 min.