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Crítica | Transformers (1984) #1 a 4 – Minissérie

O começo da mitologia dos robôs transformadores.

por Ritter Fan
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A bem-sucedida primeira animação dos brinquedos Transformers da Hasbro chegou às televisões americanas em setembro de 1984, mas o verdadeiro primeiro momento em que os robôs de Cybertron ganharam expansão de seu universo foi alguns meses antes, em maio, no mesmo momento em que eles chegariam também às lojas dos EUA. E a editora que imediatamente abraçou o projeto e iniciou a construção de mundo parte da moda oitentista que passou a ditar como as crianças deveriam brincar, oferecendo contexto ao que era oferecido foi a Marvel Comics, com uma história idealizada pelo lendário Bill Mantlo e escrita em forma de uma minissérie em quatro edições por Ralph Macchio (na primeira edição) e Jim Salicrup (nas demais edições).

O projeto foi tão bem sucedido que a minissérie foi transformada em série mensal logo em seguida, ganhando mais 76 edições ao longo dos anos pela mesma editora, até meados de 1991, com o braço britânico dela sendo ainda mais ousado e publicando nada menos do que um total de 332 edições que foram enxertadas entre as 80 originais. Nas quatro edições que formam a primeira minissérie e que, basicamente, foram refletidas na minissérie animada que abriu as portas para a série animada, com a repetição da história quase que por completo, apenas com alguns desenvolvimentos aqui e ali depois que houve uma espécie de consolidação das ideias iniciais.

Creio que qualquer um que conhece minimamente os Transformers, sabe o que a quadra de HQs aborda, em essência, como representantes de duas facções inimigas de uma guerra civil milenar no planeta Cybertron, povoado de robôs que têm a habilidade de se transformar em veículos, naves e armas e até animais, chegaram à Terra e continuaram a pancadaria por aqui, em nosso planeta azul. A narrativa é ao mesmo tempo simplista e desnecessariamente complicada, com o planeta original saindo da órbita e chegando ao cinturão de asteroides de nosso sistema solar, que obrigou os robôs bonzinhos, chamados de Autobots e liderados por Optimus Prime, a decolar em uma nave batizada de Arca, para destruir as pedras espaciais e evitar a destruição de seu lar, mas sendo atacados pelos robôs malvados, os Decepticons, liderados por Megatron, o que os levou a cair em um vulcão na Terra onde ficaram presos e “desligados” por milhões de anos até a montanha entrar em erupção e acionar o sistema interno que reconstrói e religa os beligerantes seres metálicos. Eis que entra no mix Sparkplug e Buster Witwicky, um pai mecânico e seu filho adolescente que não se interessa por mecânica para ajudar os Autobots e pronto, a pancadaria recomeça.

Para analisar a minissérie em quadrinhos, é necessário lembrarmos do contexto da coisa toda e que eu mencionei brevemente acima: todo o objetivo das HQ e da animação que viria alguns meses depois é criar a mitologia para vender os brinquedos. A Hasbro e outras empresas de brinquedos, vendo o sucesso fenomenal dos “bonequinhos” dos filmes da franquia Star Wars, resolveu artificialmente replicar o sucesso de George Lucas com o licenciamento e “forçar” narrativas. Portanto, as HQs, especialmente bem nesse início, são meros e desavergonhados instrumentos de marketing, de vendagem mesmo de produtos encontrados nas lojas de todo o país. Em outras palavras, tudo é feito um pouco nas coxas, sem pensar muito, ainda que Bill Mantlo tenha feito um esforço para pelo menos criar alguma lógica interna que nos faça aceitar, ainda que de longe, que é perfeitamente natural existir series robóticos que “nascem” basicamente do nada (a mitologia mais profunda sobre – e não muito melhor, se quisermos ser honestos – só viria depois).

Mas os roteiristas responsáveis por executar as ideias de Mantlo carregaram absurdamente em textos expositivos. Sim, a razão por trás é óbvia, já que o público-alvo é formado de crianças, especialmente meninos, e a indústria como um todo subestima as crianças, preferindo fazer de tudo para explicar os detalhes de tudo o que é mostrado. Nada contra que se perca tempo para apresentar cada robô e suas habilidades especiais e o porquê de eles conseguirem se transformar em automóveis, aviões e animais da Terra (nunca há uma explicação minimamente razoável para alguns se transformarem em gravadores, fitas K-7 e, o principal vilão, em uma ridícula arminha Walther P-38 do tamanho humano padrão, mas tudo bem…), pois as HQs servem de vitrines para os brinquedos, mas daí a Macchio e Salicrup entupirem cada quadro com explicações e diálogos infindáveis são outros quinhentos, pois não só isso torna a leitura enfadonha, como tira espaço da arte de Frank Springer, que é obrigado a desenhar quase que literalmente no espaço que sobra, resultando em algo que apenas cumpre sua função básica.

Outra coisa que não funciona muito bem é a sensação de perigo. Do lado humano, como os brinquedos são voltados para o público infantil, no máximo infanto-juvenil, não há mortes ou mesmo ameaças críveis de morte, apesar de haver humanos diminutos caminhando (e lutando) ao lado de robôs gigantesco. E, do lado metálico, o mero fato de, já no início, vermos Autobots e Decepticons sendo reconstruídos com facilidade, esvazia toda a ameaça quando vemos um dele ser destroçado. E o combustível que as duas facções precisam para sobreviver – não havia ainda o Energon – é, em linhas gerais, qualquer coisa que gere energia, com um sistema de conversão criado pelo próprio Sparkplug, que se mostra bem mais do que apenas um mero mecânico (e veterano da Guerra da Coréia).

Some-se a isso a inserção aleatória de personagens da Marvel como Nick Fury e Homem-Aranha (com o uniforme preto, já que a história se passa logo depois de Guerras Secretas) e um final que não é um final nem de arco e que tem a pachorra de apresentar novos personagens quase que completamente do nada e pronto, a máquina de marketing está pronta para hipnotizar crianças que berrarão nos ouvidos dos pais e avós até que consigam o que querem. Eu falo de maneira jocosa, mas escrevo isso com pesar, por eu mesmo ser fruto dessa época que iniciou a morte das brincadeiras inventadas e começou a era das brincadeiras ditadas. Mas, lógico, não tem como deixar de admirar a genialidade capitalista selvagem desse conceito que coloca cifrões à frente de qualquer outra consideração.

A minissérie em quadrinhos de maio de 1984 de Transformers, portanto, marcou o começo de uma franquia de gigantesco sucesso que não só marcou sua época ao lado de G.I. Joe, He-Man e Thundercats, como continua firme e forte até hoje, geração após geração, com as HQs sendo publicadas quase que ininterruptamente desde então. Nunca fui muito fã dos robôs transformadores, mas reconheço o quanto eles – he, he, he – transformaram a história dos brinquedos.

Transformers #1 a 4 (EUA, 1984)
História: Bill Mantlo (#1 e #2)
Roteiro: Ralph Macchio (#1), Jim Salicrup (#2 a #4)
Arte: Frank Springer
Arte-final: Kim DeMulder (#1 a #3), Mike Esposito (#3), Brian Garvey e Ian Akin (#4)
Cores: Nelson Yomtov
Letras: Michael Higgins e Rick Parker (#1), Janice Chiang (#2 e #3), John Workman (#4)
Capa: Bill Sienkiewicz (#1)
Editoria: Bob Budiansky, Jim Shooter
Editora original: Marvel Comics
Datas originais de publicação: 09 maio, 11 de julho, 12 de setembro e 14 de novembro de 1984 (banca); setembro e novembro de 1984 e janeiro e março de 1985 (capa)
Páginas: 100

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