Home QuadrinhosArco Crítica | Tomorrow Stories: Contos do Amanhã – Livro 1

Crítica | Tomorrow Stories: Contos do Amanhã – Livro 1

Coleção de estranhos eventos.

por Luiz Santiago
311 views

A ideia de Alan Moore por trás da criação de Tomorrow Stories: Contos do Amanhã era a de homenagear as antologias da Era de Ouro, aqueles grandes volumes com diversas histórias, dos mais diferentes gêneros, escritas e desenhadas por artistas distintos. Nesta homenagem ao modelo, publicada pela America’s Best Comics, os roteiros mantiveram-se nas mãos do mago de Northampton. Para cada um dos blocos dramáticos da antologia, porém, foi convidado um desenhista diferente, dando a Tomorrow Stories (especialmente a partir de sua segunda edição — e explicarei o motivo disso mais adiante) uma qualidade estética e narrativa marcantes.

As cinco primeiras edições deste arco de estreia (e vale considerar que a série toda durou apenas 12 edições, publicadas entre outubro de 1999 e abril de 2002) trazem histórias com os principais personagens dos Contos do Amanhã, cada um deles representando arquétipos, personagens ou abordagens artísticas dos quadrinhos dos anos 1930 e 40. Em Jack B. Quick vemos a exposição do cientista maluco ou comicamente genial que nem sempre tem o que deseja, mas consegue criar verdadeiras impossibilidades maravilhosas e bizarras. Em First American & U.S. Angel o autor traz uma crítica ao modo de vida americano, aos hábitos profundamente consumistas e exageradamente conservadores do país. Cobweb já traz a representação da femme fatale das histórias pulp. Greyshirt é o detetive mascarado das histórias policiais com destinos impensáveis. E por fim, aparecendo apenas na edição seis, a última do arco, Splash Brannigan, um vingador à la comédia pastelão, com caráter metalinguístico, resolvendo problemas do dia a dia envolvendo… tintas.

Das histórias do compilado, as que eu mais gostei foram as de Greyshirt, que contou com a excelente e dinâmica arte de Rick Veitch. Mesmo na primeira edição, a pior do arco, a trama de Greyshirt se salva e é maravilhoso ver a homenagem à diagramação e estilo de contar uma problemática urbana à maneira de Will Eisner, a grande referência que Moore e Veitch tomam aqui. Por outro lado, não consegui gostar de Cobweb, que apesar de trazer uma arte cheia de excelentes surpresas estilísticas pelas mãos de Melinda Gebbie, não conseguiu me cativar narrativamente. A primeira história dela é absolutamente irritante, e as outras, embora não sejam ruins, jamais passaram da linha “ok“, para mim. A grande surpresa que tive foi com a chegada de Splash Brannigan, criação do divertidamente monstruoso Hilary Barta, que imprime aqui o melhor estilo Homem-Borracha somado às comédias visuais da MAD. O roteiro, nessa estreia do personagem, não é lá essas coisas, mas a arte consegue tornar ele muito divertido, dispensando enredos com maior profundidade (diferente da abordagem “cabeçuda” de Cobweb). Quanto ao First American de Jim Baikie e ao Jack B. Quick de Kevin Nowlan, gostei de todas as histórias deles, mas com intensidades diferentes.

Inicialmente, imaginamos que cada edição da antologia trará uma trama isolada, mas ali pela terceira revista, as histórias começam a referenciar eventos e personagens dos números anteriores, criando uma linha narrativa muito boa de acompanhar. Como disse antes, exceto pelas histórias de Cobweb, que realmente não me prenderam (embora eu tenha adorado do começo ao fim as experiências estéticas de Melinda Gebbie), essa visita de Moore à Era de Ouro, com histórias curtas que abraçam diferentes atmosferas dramáticas, gêneros, críticas, abordagens cômicas e questões sociais é algo muito nostálgico e prazeroso para qualquer um que verdadeiramente gosta de quadrinhos.

Tomorrow Stories: Contos do Amanhã – Livro 1 (EUA) — outubro de 1999 a março de 2000
Contendo: edições #1 a 6 da série original
Editora original: America’s Best Comics
Roteiro: Alan Moore
Arte: Kevin Nowlan, Rick Veitch, Jim Baikie, Melinda Gebbie, Hilary Barta
Arte-final: Kevin Nowlan, Rick Veitch, Jim Baikie, Melinda Gebbie, Hilary Barta
Cores: Wildstorm FX, David Baron, Alex Bleyaert, Benedict Dimagmaliw
Letras: Todd Klein
Capas: Alex Ross, Kevin Nowlan, David Baron, Jim Baikie
Editoria: Scott Dunbier, Eric DeSantis
No Brasil: Pandora Books (2003 – 2004)
Tradução: Maurício Muniz, Marcelo Lang
175 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais