Nos Confins do Mundo é o último arco da série Tom Strong, criada por Alan Moore e Chris Sprouse em 1999. Após algumas edições afastado do título, o roteirista-criador voltou a ela apenas para encerrar a saga do grande herói de Millennium City, utilizando o confuso “fim do mundo” que estava desenvolvendo em Promethea para promover um crossover (também com participação do pessoal de Top 10) e colocar um ponto final na jornada de Tom, Dhalua, Tesla, Val, Pneuman e Solomon. Não é um arco de despedida muito bem organizado e tem elementos até bastante decepcionantes, mas pelo menos foi pensando em um final para o título, não é mesmo?
Como é de praxe nos volumes de Tom Strong, temos diversas aventuras em cena, algumas definitivamente melhores que outras. Considerando a ideia de encerramento do projeto, porém, é um tanto frustrante que os editores não tenham organizado um enredo que se afunilasse organicamente para o apocalipse que traria o fim. É fato que a ideia geral é de uma “preparação para a Nova Era da humanidade“, a semeadura de uma semente que só irá nascer centenas de anos no futuro. Não é um fim fisicamente destruidor, mas um fim transformador. Justamente por isso é que faz falta uma melhor preparação para a proposta. Diferente de Promethea, Tom Strong é um título mais fácil de guiar, sem a necessidade de manter dezenas de camadas mágicas e místicas em evidência, de modo que desprezar essa característica e acabar com tudo na última edição, sem maiores avisos ou exploração dramática foi uma colossal perda de oportunidade.
Das tramas isoladas, A Lâmina Negra da Costa Bárbara talvez seja a mais ambiciosa. São duas edições escritas por Michael Moorcock, trazendo uma abordagem já conhecida do autor numa engajante história de piratas. Sinto, porém, que a presença do “investigador temporal” tenha ficado muito espremida, servindo apenas de âncora para a conclusão da aventura. Esse tipo de penetração no Multiverso poderia ser a deixa para aquilo que encontramos em No Fim do Mundo, mas como disse, muito potencial é desperdiçado aqui. Já em A Jornada Interior, escrita por Joe Casey, temos a mais reflexiva e bonitinha aventura do arco, expondo uma forma de vida diferente que nasceu no interior de Pneuman. Gosto muito dessa história. Na sequência, temos Os Pináculos de Samakhara, de Steve Moore, que é uma trama metalinguística que dialoga com motivos lovecraftianos e howardianos. É boa a ideia de apresentar uma criação fictícia e um “vilão literário” de verdade, mas não consegui elevar a história a muitas alturas, porque me pareceu incompleta.
Chamado Gelado, de Peter Hogan, é a pior trama do arco, com o retorno de Greta e Péricles. A ação em evidência é boa de acompanhar, mas não existe mais nada que nos chame de verdade a atenção — e penso que a história consegue ficar pior quando a localizamos nessa esteira de encerramento de título. Tudo muito comum, simples demais e, em certa medida, bobo demais para estar aqui. Não acho que seja ruim, mas comparada às outras histórias, faz feio. Por fim, a aventura escrita por Alan Moore, que já começa com um acontecimento inexplicado. Ela volta à esfera da ação interessante no arco, mas também não cresce em qualidade porque a história é demasiadamente cifrada. Falta-lhe um propósito maior, já que o apocalipse não ocorre por motivações típicas desse Universo, é apenas um cataclismo emprestado de Promethea. Gosto muito mais das solenes páginas finais do que do desenvolvimento da história. Evidente que é muito melhor ter uma saga que se conclui oficialmente do que uma que é abandonada sem maiores explicações. Mas é inegável que Tom Strong termina muito aquém daquilo que representou. É bom ter um fim. Mas este não é, sob nenhum aspecto, o fim que o personagem deveria e merecia ter.
Tom Strong – Vol.6: Nos Confins do Mundo (Tom Strong: Book Six: ) — EUA, abril de 2005 a maio de 2006
Publicação original: America’s Best Comics
No Brasil: Tom Strong N°6 (Panini, maio de 2017)
Roteiro: Michael Moorcock (#31 e 32), Joe Casey (#33), Steve Moore (#34), Peter Hogan (#35), Alan Moore (#36)
Arte: Jerry Ordway (#31 e 32), Ben Oliver (#33), Paul Gulacy (#34), Chris Sprouse (#35 e 36)
Arte-final: Jerry Ordway (#31 e 32), Ben Oliver (#33), Jimmy Palmiotti (#34), Karl Story (#35 e 36)
Cores: Michelle Madsen, J.D. Mettler, Wildstorm FX
Letras: Todd Klein
Capas: Jerry Ordway, Michelle Madsen, Chris Sprouse, Karl Story
Editoria: Scott Dunbier, Kristy Quinn
Tradução: Eduardo Tanaka, Octávio Aragão
164 páginas