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Crítica | Tom Strong – Vol.4: Como Surgiu Tom Stone

Crise nos infinitos Strongs.

por Luiz Santiago
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Com capas de alguns capítulos homenageando revistas clássicas dos quadrinhos, como Quarteto Fantástico #26 (na edição Homens de Força, Tempos de Prata); Crise nas Infinitas Terras #7 (na edição Crise nos Infinitos Corações); e Superman’s Pal, Jimmy Olsen #137 (na edição O Amigo de Tom Strong, Wally Willoughby), esse compilado de aventuras com o herói de Millennium City, sua família e amigos nos apresenta uma narrativa central que faz pensar em uma realidade bem diferente da que conhecemos na série. É uma espécie de O Que Aconteceria Se…? para Tom Strong, e ao mesmo tempo um entrelaçamento de realidades alternativas (que já vimos ocorrer no arco anterior, por sinal), muito bem arquitetado no texto de Alan Moore, exibido numa arte rica de detalhes e com excelente composição de cenários assinada por Jerry Ordway.

Neste arco, apenas a trama principal (Como Surgiu Tom Stone) é assinada por Moore, diferente dos outros volumes da série. Ao abordar o que poderia ser diferente no mundo, caso houvesse o atraso de alguns minutos na partida do barco que levaria os pais de Tom à ilha de Attabar Teru, o autor revisa o seu próprio trabalho, inclusive expondo uma autocrítica à maneira como concebeu o seu herói. Ele entende que, apesar do amplo elemento diplomático e do caráter de “bom-moço” que imprimiu a Strong, ainda aparecem em sua jornada muitos preconceitos diante de indivíduos e criaturas que encontra (não apenas em relação aos vilões) e atitudes imediatamente agressivas. Além disso, o personagem não pensa constantemente na possibilidade de reintegração, de reforma ou mudança dos capturados/vencidos por ele nas batalhas. Aqui, porém, nota-se uma extrapolação do bom-mocismo, muito ancorado na construção dos heróis morais na década de 1950, fornecendo uma boa discussão sobre o andamento da história a partir de novas abordagens e entendimento da realidade. Todavia, nem mesmo nessa realidade utópica, as coisas são perfeitas.

Um começo diferente… gera um mundo diferente.

Gosto do encerramento da aventura, brincando diretamente com Crise nas Infinitas Terras, mas há um quê de simplicidade que faz pedir por mais enredo, mais pontos a serem esclarecidos, mais exposição do que acontece com outros personagens — embora isso possa ser tranquilamente inferido a partir da cena com o sumiço dos heróis científicos alternativos. A questão é que a jornada acompanhando esses personagens (e todos os outros que eles salvaram) foi tão longa e tão pluralmente mostrada para o leitor, que a ausência dessa pluralidade no final cria a sensação de que falta algo. Na sequência, temos duas histórias escritas por Peter Hogan e desenhadas por Chris Sprouse, a saber, Dia de Lua e Rainha da Neve. Ambas são edições passáveis, exceto pela arte. A primeira tem um desenvolvimento bom, mas o final é confuso e o argumento é muitíssimo estranho, carente de explicações (já que estamos falando de um estupro a Tom Strong, feito por uma “rainha” de um povo da Lua). A segunda não traz nenhum sentimento particular, uma daquelas tramas que não são ruins, mas como não possuem nenhum traço marcante de identidade, torna-se esquecível.

Quem encerra o compilado é Geoff Johns, com a melhor história de todo o arco, intitulada O Amigo de Tom Strong, Wally Willoughby. O conceito para o personagem e a relação dele com Tom Strong são típicos da Era de Prata dos quadrinhos, e o olhar infantil, o vocabulário singelo e a formação do “antagonismo cármico” que precisa ser enfrentado por Tom são muito charmosos, ao mesmo tempo que vergonhosos. É uma dualidade, uma oposição muito interessante, porque o roteiro está ciente disso e utiliza os cacoetes cinquentistas das HQs respeitando a linha do aceitável e dando pausas, com cenas e diálogos, para mostrar situações mais complexas, contemporâneas ao momento em que a trama foi criada. Combinada com a trilogia Como Surgiu Tom Stone, esta edição faz valer a ótima qualidade desse volume da série, completada por uma arte de finalização mais rústica (assinada por John Paul Leon), perfeitamente coerente com o que pede o tom urbano, de “choque de realidades”, da edição.

Tom Strong – Vol.4: Como Surgiu Tom Stone (Tom Strong: Book Four/How Tom Stone Got Started) — EUA, junho de 2003 a maio de 2004
Publicação original: America’s Best Comics
No Brasil: Tom Strong N°4 (Panini, dezembro de 2016)
Roteiro: Alan Moore (#20 a 22), Peter Hogan (#23 e 24), Geoff Johns (#25)
Arte: Jerry Ordway, Chris Sprouse, John Paul Leon
Arte-final: Karl Story, Trevor Scott, Richard Friend, Sandra Hope, Dave Stewart, John Paul Leon
Cores: Dave Stewart, Wildstorm FX
Letras: Todd Klein
Capas: Chris Sprouse, Karl Story, Dave Stewart
Editoria: Scott Dunbier, Kristy Quinn
164 páginas

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