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Crítica | Tokyo Gore Police

por Guilherme Coral
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estrelas 3

A violência e o gore não são elementos exatamente novos no cinema e muitos realizadores, como Eli Roth, tentam criar algumas perversas obras que exploram o lado mais doentio da raça humana através de cenas explícitas de pessoas morrendo, sendo torturadas e afins. São os japoneses, contudo, que melhor conseguiram trabalhar com esse subgênero do terror, utilizando a sanguinolência tanto como algo para perturbar o espectador, como para ironizar a tragédia em si, algo magistralmente captado por Quentin Tarantino em Kill Bill, que presta homenagem ao cinema oriental. Dentro dessas obras, Tokyo Gore Police consegue se destacar como algo extremamente nojento, sanguinário, sarcástico e que, ainda assim, realiza pertinentes críticas à nossa sociedade – em outras palavras, perfeito para a nossa coluna Sábado de Sangue.

Em um futuro não tão distante, a polícia de Tóquio é privatizada, o que dá a eles a total liberdade para lidar com os criminosos da maneira que acharem justo – se transformam em juiz, juri e executor. Nesse cenário, uma espécie de mutantes começa a surgir, seres humanos que possuem um tumor em forma de chave, que os garante o poder de transformar as partes machucadas de seus corpos em armas, mandíbulas ou qualquer outra coisa que seja letal. Quando um desses indivíduos se demonstra mais inteligente que os outros e não apenas um maníaco desgovernado, cabe à policial Ruka (Eihi Shiina), a melhor dos caçadores desses chamados engenheiros, caçar esse ser e dar fim a sua vida.

O roteiro de Kengo Kaji, Maki Mizui e Yoshihiro Nishimura já nos joga direto na ação, sem dar qualquer espaço para o espectador se acostumar com o que iremos ver. Um dos primeiros planos da obra é logo a de um policial cuja cabeça explode, então já podem imaginar o grau de violência que podem encontrar aqui. Trata-se de um filme que de imediato nos dá um soco no estômago, visto que se configura como tão nojento e cheio de gore como promete ser. Embora muitas cenas nos causem profunda angústia, o longa tem todos os aspectos de uma produção B, trasheira total, utilizando efeitos práticos que provocam risadas no espectador.

A intenção do texto, porém, se encaixa com esse quesito, visto que sua intenção é evidentemente ironizar nossa sociedade. Ao longo da trama, vemos inserts de propagandas totalmente surreais, como uma pedindo para que o Harakiri seja proibido e outra que vende estiletes personalizados para as jovens cortarem os pulsos. Estamos falando do velho choque de gerações presente na cultura japonesa, o velho contra o novo e uma crítica satirizada da pressão pelas quais passam as pessoas mais novas do país, que aumentam cada vez mais a taxa de suicídio. É preciso entender que a intenção aqui não é banalizar esse fato e sim problematizar, mostrar o que há de errado com o nosso mundo através de imagens surreais, que ora chocam, ora nos fazem rir, mas, de qualquer forma, nos deixam com aquela pulga atrás da orelha.

O filme, contudo, conta, sim, com seus problemas, como a inserção de alguns flashbacks que prejudicam seu ritmo, deixando o espectador confuso, visto que esse não sabe exatamente quando eles terminam. Outro ponto que quebra nossa imersão é a ocasional troca de foco, que pula da protagonista para outro personagem qualquer, nos deixando perdidos no que estamos vendo, demorando a recobrar nosso entendimento da obra. Algumas das atuações também só pioram esse quesito e nos fazem torcer para que a personagem principal fique sozinha em tela novamente – Eihi Shiina não é uma atriz magnífica, mas ela cumpre seu papel dentro da narrativa, o que é mais do que podemos dizer de muitos outros por aí.

Felizmente, a direção de Yoshihiro Nishimura, que trabalhara por anos realizando efeitos especiais em maquiagem, sabe aproveitar os efeitos práticos utilizados na obra. Seus enquadramentos evidenciam o grotesco e o perverso de cada cena, tornando toda a experiência algo verdadeiramente perturbador, que nos insere em um universo que soa, ao mesmo tempo, muito próximo e distante do nosso próprio. As sequências de ação são engajantes e bastante diretas, aproveitam as altas “firulas” dos monstros que Ruka combate e conseguem se diferenciar entre uma e outra, não pecando pela repetitividade tão comum a filmes de ação da atualidade.

Dito isso, Tokyo Gore Police definitivamente não é o melhor exemplar desse subgênero do cinema, mas certamente é uma demonstração de como os japoneses conseguem utilizar a violência gráfica para tecer críticas contundentes ao nosso mundo. Angustiante e irônico, temos aqui um filme que se sustenta através das sátiras realizadas, além de nos proporcionar com criaturas totalmente surreais, que definitivamente irão perturbar o sono de muitos espectadores. Estejam avisados, porém: esse não é um filme para todos e conta com litros e mais litros de sangue, portanto, se preparem antes de assistir.

Tokyo Gore Police (Tôkyô zankoku keisatsu) — Japão/ EUA, 2008
Direção:
 Yoshihiro Nishimura
Roteiro: Kengo Kaji, Maki Mizui, Yoshihiro Nishimura
Elenco: Eihi Shiina, Itsuji Itao, Yukihide Benny, Jiji Bû,  Ikuko Sawada,  Cay Izumi,  Mame Yamada
Duração: 110 min.

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