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Crítica | Titãs – 4X10: Game Over

Nada como jogar no lixo uma linha narrativa promissora.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Tenho certeza de que Greg Walker se acha genial em seu comando de Titãs, sem conseguir perceber que toda a tentativa que ele faz de criar algo mais denso, pesado e cerebral resulta em uma hilária sucessão de imbecilidades audiovisuais que deixa evidente sua completa incapacidade de comandar qualquer coisa mais complexa do que um especialmente simplório episódio de Tetetubbies. Game Over é mais um exemplar dessa incompetência de Walker que, lá no fundo, ensaia aquela boa e velha discussão de que toda a magia é apenas a ciência que não compreendemos, chegando até a materializar a fusão das duas coisas em um videogame que serve para absorver as essências (almas?) de quem o joga, mas que acaba tratando a questão de maneira tão rasa e tão bobalhona que tudo o que nos resta é olhar exasperadamente para o relógio para tentar entender como 51 minutos podem se transformar em 510…

Para começo de conversa, entre o recrutamento de Sebastian por Conner Luthor,  a incineração da Matriarca do Caos por seu filho debaixo de um viaduto em uma escolha de cenário vergonhosa que deve ter sido ditada pelo fato de o orçamento ter acabado em Dude, Where’s My Gar?, o desenvolvimento do jogo dos sonhos de Sebastian, sua viralização pelo mundo, o começo do apocalipse cuja única vítima que vemos é o pobre do Bernard em mais uma demonstração de que o orçamento – desta vez para extras – realmente tinha ido para o brejo a essa altura, e a solução do caso por um Tim Drake que, mesmo em tese geninho da computação digita apenas com os indicadores, e por um Conner que não sabe muito bem o que quer além de comer maça, tudo isso uma história que poderia render bons frutos ao longo de diversos episódios, acaba em um piscar de olhos. Toda essa correria do roteiro de Bryan Edward Hill, porém, não se traduz em um episódio dinâmico e as coisas acontecem a passo de cágado, retirando todo e qualquer impacto que essa narrativa poderia ter em mãos minimamente mais hábeis.

Obviamente que as duas histórias paralelas – a de Dick com Rachel em uma espécie de exorcismo genérico e a de Kory, Gar e parte da Patrulha do Destino fazendo sei-lá-o-que no Vermelho – não ajudaram em nada a história tecno-mágica, isso para não dizer que elas simplesmente foram as grandes e verdadeiras responsáveis por nada realmente funcionar a contento. Temos que lembrar que, mais uma vez, Dick Grayson tira da cartola personagens aleatórios para ajudá-lo, primeiro contactando Constantine off screen e, depois, fazendo par com uma bruxa que fala italiano chamada Helena (Allegra Fulton) que tem exatamente a mesma função conveniente e de uso único daquela tradutora de línguas alienígenas contatada anteriormente pelo mesmo Dick. Em outras palavras, mais uma vez temos um roteiro que introduz personagens novos para resolver problemas específicos sem nenhuma preocupação em dar sequer um semblante de organicidade ao que é feito. Tudo é literalmente jogado na telinha para que o espectador simplesmente aceite de bom grado. E vamos combinar que toda a sequência de Dick correndo atrás de um demônio egresso da franquia Evil Dead é outra patetada sem o menor peso dramático.

Mas pior do que isso são as “aventuras” de Gar e companhia no Vermelho que toma a forma da mansão de Niles Caulder usada como quartel-general da Patrulha do Destino, só que com trepadeiras por todo o canto. Chega a ser constrangedor ver personagens tão fascinantes quanto Cliff Steele (voz de Brendan Fraser e corpo de Riley Shanahan) e Larry Trainor (voz de Matt Bomer e corpo de Matthew Zuk) sendo coadjuvantes em uma história que não tem pé nem cabeça e que não leva a lugar nenhum, a não ser a uma pretensa harmonização psicológica de Kory durante um jogo de tênis (WTF?) e um sinal críptico falando de porta dos fundos que, rufem os tambores, dá ideia a ela e Gar, já de volta à S.T.A.R. Labs, para Tim tentar um ataque por um backdoor cibernético da Lex Corp., ataque esse que só acontece depois que o futuro Robin III pede autorização de Kory para ir contra a lei e seguir em frente para salvar o mundo de um apocalipse causado pelo Abraxus, algo que é para lá de irônico considerando que basicamente tudo o que os Titãs fizeram ao longo das três temporadas anteriores foram atos criminosos das mais diversas naturezas, inclusive e especialmente tortura e assassinato.

A segunda metade da derradeira temporada de Titãs tem sido consistentemente pior do que a primeira ainda que seja muito difícil que o nível de ruindade assustadora da temporada anterior seja novamente alcançado. Mas, ao que tudo indica, Greg Walker está fazendo todo o esforço para chegar lá e para terminar de vez de manchar a reputação de personagens tão bacanas dos quadrinhos que – fico triste em constatar – muita gente é capaz de só ter conhecido por intermédio desta série perdida e desprovida de um mínimo de lógica interna sequer.

Contagem regressiva: só mais dois episódios para o fim, mas eu sinto como se faltassem 200…

Titãs – 4X10: Game Over (Titans – EUA, 27 de abril de 2023)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Jesse Warn
Roteiro: Bryan Edward Hill
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop (Mame-Anna Diop), Teagan Croft, Ryan Potter, Joshua Orpin, Jay Lycurgo, Franka Potente, Joseph Morgan, Joivan Wade, Matt Bomer, Matthew Zuk, Brendan Fraser, Riley Shanahan, Allegra Fulton
Duração: 51 min.

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