- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Brother Blood, episódio que marca a metade da quarta temporada de Titãs e, também, pela primeira vez na série, o começo de seu hiato, em uma estratégia de intercalação com Patrulha do Destino, é, se visto separadamente, o melhor episódio da temporada até agora e um dos melhores da série toda. No entanto, como analisar episódios de maneira estanque não faz sentido algum, quando o pensamos dentro do contexto geral, ele perde qualidade, igualando-se, de uma maneira ou de outra, aos dois capítulos iniciais do ano.
Separadamente de todo o restante, Brother Blood tem tudo o que faltou aos demais. Gar finalmente se transforma em algo que é mostrado em tela, no caso um gorila, além de ser contactado por um avatar do Vermelho que lhe passa uma mensagem críptica e perigosamente cita Buddy Baker, o Homem Animal, e – não tão perigosamente assim, Mari McCabe, a Víxen; Rachel recobra seus poderes e se transforma em Ravena Branca, em tese sua forma mais poderosa com direito até mesmo ao seu icônico capuz; Kory, ainda que um tanto aleatoriamente, é informada que, agora, tem controle sobre 80% de seu poder, seja lá o que isso signifique e, finalmente, Conner Kent transforma-se no protótipo de Lex Luthor, possivelmente em razão do que a cobra fez dentro dele (interpretem isso como quiserem…). É transformação para caramba para um episódio só, não é mesmo?
E, de fato é. Esse é, aliás, um dos problemas dele, pois é uma afobação tremenda inserir todas as mudanças na equipe – incluindo a “morte” de Jinx (ela obviamente não morreu de verdade, porque, se tiver morrido, vou mandar envelopes com antraz para Greg Walker e seu grupo de roteiristas) no episódio de metade de temporada, mesmo que seja tradicional criar situações “chocantes” a essa altura de uma série. É como se toda a incapacidade do showrunner de desenvolver uma narrativa decente nos cinco capítulos anteriores tivessem como objetivo levar a esse sexto em que tudo o que deveria ter acontecido organicamente, acontece de uma vez, na base da venda em atacado, sem permitir construções e desenvolvimentos de personagens minimamente decentes.
A única mudança que tem um semblante de valor narrativo é a de Conner Kent, começando com a breve, mas ótima cena dele cortando o cabelo e seguindo com Joshua Orpin, careca, aparentemente se divertindo demais ao mudar completamente a personalidade meio inocente, meio boba do Superboy para algo que se aproxima da empáfia de seu outro e mais interessante pai, Lex Luthor. Lá no fundo, não gosto que a alteração radical tenha acontecido de uma vez, como em uma virada de chave, mas, como podemos dizer que a base de tudo foi a magia da Matriarca do Caos, toda e qualquer lógica que eu queira associar ao ocorrido cai por terra. E isso é bom, pois permite muito divertindo com “Mr. Luthor” passando o controlar o S.T.A.R. Labs (que tem mais de um funcionário, olhem só!) de forma a executar seu plano de desavermelhar a lua usando a rede de satélites da LexCorp.
E, mais do que isso, “Mr. Luthor” torna-se a prova de que Greg Walker sabe o quanto criminosamente subaproveita os personagens que teve a missão de adaptar, pois ele não só permite que o novo Conner praticamente desanque Dick o episódio todo (“você prefere mesmo Dick?”), como ainda lhe dá o seguinte monólogo:
Rachel é inútil. Gar está ficando louco. A coisa azul de Kory é inconsistente, na melhor das hipóteses. E Tim, bem, ele não sabe fazer nada… absolutamente nada.
Não é brilhante? Praticamente tudo o que há de errado com Titãs desde sua segunda temporada (porque eu ainda consigo aceitar a primeira quando estou de bom humor) está resumido nessa breve fala, que é seguida com a tiração de onda mor que é Conner se autodenominando o “melhor jogador” ali do grupo, o que, em tese, ele realmente é ou pelo menos poderia ser. E a cara de Brenton Thwaites basicamente vestindo a carapuça parece mostrar que o ator realmente sabe que isso é um problema crônico da série que seu personagem lidera.
E é depois disso que o episódio, cheio de problemas de ritmo, vale dizer, começa a “desfazer” a fala de Conner ao primeiro fazê-lo ser capturado e, depois, levar adiante as transformações necessárias para elevar os Titãs a um nível aceitável (menos Tim, pois ele e seu bastonete não têm jeito…). É um tantinho autoconsciente demais para o meu gosto, resvalando em uma mensagem que mais parece Walker dizendo aos espectadores que tudo fora planejado desde o início, o que obviamente não foi.
O lado vilanesco da história teve menos sorte. Todo o processo de manipulação psicológica de Sebastian Sanger pela Matriarca do Caos, com o uso daqueles flashbacks modorrentos, foi, na melhor das hipóteses, cansativo e, na pior, nada convincente. Uma coisa é Conner mudar de personalidade em um estalar de dedos com base na sempre conveniente magia, outra bem diferente é perverter a mente de um homem (ok, ele já era razoavelmente perturbado, mas mesmo assim…) em questão de poucas horas a ponto de fazê-lo beber sangue e mergulhar em um poço dos infernos em um templo pedregoso. É pedir demais da suspensão da descrença…
Aliás, falando em suspensão da descrença, e o que dizer da “invenção” do teletransporte por Jinx? Tudo bem que a moça vinha praticamente assumindo a frente da série com boas ações e bons diálogos seguidos, mas todo o processo para o “quase” teletransporte foi ridículo, começando pelo uso de um quadro para explicar graficamente a coisa e terminando com o coito interrompido pela revelação de que Conner está preso no templo e que, por isso, a única solução é um ataque frontal, tudo o que Dick não queria. Patético não começa a descrever toda e enrolação para nada acontecer, especialmente depois que Rachel é obrigada a comer cabelo (WTF???).
Mesmo assim, apesar de todos os pesares, Brother Blood foi um bom episódio que poderia ter sido ótimo, pelo menos na gradação interna de uma série que não faz ideia do caminho que está seguindo e que tem ótimos personagens transformados consistentemente em completos inúteis. Será que a produtora poderia aproveitar o recomeço de Patrulha do Destino para se inspirar um pouco com uma adaptação verdadeiramente de qualidade?
P.s.: Titãs entrará em hiato a partir de agora, ainda sem data oficial de retorno, mas que deverá ser em algum momento depois de 05 de janeiro de 2023, quando Patrulha do Destino entrará em seu hiato.
Titãs – 4X06: Brother Blood (Titans – EUA, 1º de dezembro de 2022)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Jen McGowan
Roteiro: Richard Hatem
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop (Mame-Anna Diop), Teagan Croft, Ryan Potter, Joshua Orpin, Jay Lycurgo, Franka Potente, Joseph Morgan, Lisa Ambalavanar
Duração: 49 min.