- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Como o Capitão América, eu entendi a referência romeriana feita em Super Super Mart que conecta um mercado e/ou shopping com zumbis que só morrem (de novo) tendo suas cabeças decepadas. Ha, ha. Super inteligente esse Greg Walker, não é mesmo? Ele cada vez mais surpreende com sua habilidade de não surpreender absolutamente ninguém com sua estratégia canhestra de trabalhar um grupo tão interessante como os Titãs, transformando-os em paspalhos de cabelos coloridos (com Jinx, são já quatro membros com madeixas de cores não naturais) que andam para lá e para cá sem uma lógica minimamente razoável e sem uma coesão narrativa que ultrapasse os didatismos de sempre.
Exemplo? A magia ser uma das fraquezas do Superman. Isso é bem estabelecido nos quadrinhos e é lugar-comum, ao que tudo indica, no universo em que a série se passa, pelo que é consideravelmente incongruente que Conner – logo ele! – não faça ideia disso, que o assunto seja levantado vezes no episódio e, mesmo assim, no processo, ele se deixe ser esfaqueado por uma criatura magicamente controlada. Sei que o Superboy não pode ter coleira solta na série em termos de uso de seus poderes, pois isso acabaria com toda o já inexistente senso de ameaça, mas daí a fazê-lo lutar contra a versão zumbi do Exterminador (sério, de onde foi que a Matriarca do Caos tirou isso???) em sua “velocidade normal” me parece forçar demais a barra da supressão de suas habilidades. E isso depois que ele basicamente só agiu como escudo quando a horda de zumbis apareceu, sequer tentando arrancar cabeças. Se é para tratar o personagem desse jeito, é melhor que a série não tenha o Superboy (aliás, esqueceram do Krypto ou o orçamento está tão apertado que não dá mais para comprar Purina?).
E vejam que isso não é furo, pois eu relevo furos como parte natural de obras audiovisuais (aliás, caçar furos é uma tarefa tão fútil…). Isso é pura preguiça de roteiro que simplesmente não sabe lidar com seus personagens, além de falta de dinheiro para fazer mais do que “luzinhas coloridas” saindo das mãos deles. Afinal, qual é o sentido de Gar não se transformar nem que seja em seu já tradicional tigre verde? Novamente, é melhor não ter o personagem do que fazer ele ser mais um cara (como Tim Drake, Asa Noturna e, agora, a desapoderada Rachel) que lida com as ameaças na base do soco e do chute ou bastonetes.
Ou então tudo isso é uma estratégia para fazer Jinx destacar-se no episódio, pois isso o showrunner conseguiu fazer. Ela não só paralisou a horda inteira batendo palmas, como se fez passar por Sebastian Sanger para enganar a Matriarca e, ainda por cima, eliminou a ameaça do Exterminador zumbi como se fosse mais uma terça-feira para ela. A continuar desse jeito, melhor mandar os Titãs embora e renomear a série para o nome da personagem e focar no carisma e beleza de Lisa Ambalavanar, que acabou de entrar na série e já ocupou seu espaço completamente, inclusive fazendo piadinha com o patético poder de luzinha azul de Estelar…
Além de Jinx, devo dizer que gostei que as peças de toda a trama sobrenatural trigoniana foram devidamente encaixadas para evitar que o mistério da história se protraísse no tempo. Agora, as conexões com a primeira temporada da série e com Ravena estão claras, ainda que os detalhes do plano da Matriarca do Caos naturalmente ainda não estejam claros, isso sem contar no inevitável despertar do Irmão Sangue. Não adoreis os flashbacks de origem da vilã, mas eles cumpriram o papel de dar algum contexto para a personagem, ainda que de forma críptica e, devo dizer, cansativa e repetitiva. Nessa horas, diria, é melhor frear o episódio e enfiar goela abaixo um daqueles textos bem expositivos para evitar que aquela impressão de lerdeza de ritmo aconteça como sem dúvida aconteceu aqui.
Falando em lerdeza, não sei se sou só eu, mas, apesar de toda a conexão entre heróis e vilões revelada no episódio, com direito a retcon maroto, a temporada como um todo tem enrolado demais para chegar no ponto, como se Walker não tivesse muita história para contar e queira empurrar com a barriga tudo que de mais importante tiver para acontecer para a segunda metade da temporada (que, neste ano, contará com um hiato!). Claro que a estratégia não é incomum em séries em geral, mas a relutância em soltar Sanger para tornar-se quem ele é, e a manutenção da Matriarca nos bastidores é visível demais, com poucos dividendos sendo pagos a cada episódio. Pelo menos o quarto ano da série não está uma tragédia total, mesmo que permaneça, como sempre permaneceu, muito, mas muito aquém do potencial dos personagens que retrata.
Titãs – 4X04: Super Super Mart (Titans – EUA, 17 de novembro de 2022)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Boris Mojsovski
Roteiro: Tom Pabst
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop (Mame-Anna Diop), Teagan Croft, Ryan Potter, Joshua Orpin, Jay Lycurgo, Franka Potente, Joseph Morgan, Lisa Ambalavanar
Duração: 41 min.