“Eu quero ser um Titã.”
Contém spoilers.
Os eventos narrados no décimo episódio da segunda temporada da série dos Titãs compõem uma guinada do enredo para um novo caminho. Essa sua recalculada na trajetória mostra-se, porém, errática, sem possuir uma exata direção, porque parte de uma equipe criativa que, desde o princípio, para ser sincero, nunca soubera exatamente o que contar em termos de história acerca destes personagens. Pelo contrário, uma colcha de retalhos aumenta consideravelmente agora, em vista da suposta aposentadoria do Exterminador, separando cada um dos membros da super-equipe em tramas próprias. Para alguns, portanto, o episódio da semana pode soar como um gigantesco filler, embora as consequências dele ameacem reinventar a narrativa desta fraca temporada. Fora a trama principal envolvendo Dick Grayson (Brenton Thwaites), novamente Conner (Joshua Orpin) e Gar (Ryan Potter) retornam para a nossa alegria. O propósito de Gar, mesmo menos esperançoso como antes, continua direcionado para a sua família. Quando perguntado sobre o que ele ser, Gar responde que quer ser um Titã. Embora a espirituosidade tenha se perdido um pouco por conta da agressão de Conner a policiais no capítulo passado, ainda assim a dupla protagoniza bons momentos. Por sinal, como que ninguém reconhece o garoto, que, depois dos eventos antecessores, é procurado – e citado inclusive pela mídia – pelas autoridades?
É de muitas incongruências, como essa, que o episódio se concretiza como um triste exemplar de roteirização pouco preocupada com minúcias promissoras, por não ser a série verdadeiramente inteligente ou bem pensada – quiçá, no mínimo, ela possua boas intenções. Cronologicamente, não ajuda que a trama de Grayson, na prisão, pareça estar acontecendo a mais tempo que os demais segmentos do episódio – parece, ao mesmo tempo, que os roteiristas da temporada não conhecem um termo chamado burocracia, que ajudaria na progressão natural da narrativa. Logo, cria-se uma ruptura temporal, pois, enquanto Dick se encontra numa realidade só sua, os demais membros da equipe procuram o encontrar. Por consequência, o ritmo do episódio é comprometido sempre que ele precisa reiterar o sumiço do personagem. O que, contudo, o capítulo reserva de mais interessante mora na resolução do núcleo de Gar e Conner, que sugere uma convergência entre o enredo relacionado a Conner e o dos demais personagens. O Projeto Cadmus, portanto, sugestiona um vislumbre de esperança para a série nesse sentido, ao passo que Gar, por fim, retoma uma narrativa pessoal, acerca de quem ele é. O próprio roteiro do episódio busca costurar nisso uma mea culpa, por conta do descaso com o personagem no restante da temporada, que é explicado como parte de uma domesticação consciente de Gar, que parou de pensar em si mesmo.
Dentre os desenvolvimentos de personagens, o mais simbólico, porém, é o referente a Dick, que se encaminha mais e mais para assumir o manto do Asa Noturna – a referência ao codinome acontece numa das conversas entre ele e seus colegas presidiários. É redundante, na verdade, o que acontece com o antigo Robin, tendo que de novo abraçar o super-heroísmo, mas ao menos a sua trama se encerra muito melhor do que começa – as motivações para sua ação derradeira são bem apresentadas. Com uma montagem que acelera demais a condenação de Dick Grayson sem quaisquer cerimônias, o personagem já inicia o episódio preso, por causa da sua agressão a dois policiais federais no capítulo anterior. Porém, a prisão do garoto é um acontecimento, em primeira instância, que não possui muita verossimilhança. Nessa auto-derrocada do personagem, o drama do homem que recusa o fardo de ser herói por mais errar que acertar em sua missão heróica é um ponto, para variar, apressado na condução da temporada, que, nesse caso, prontamente opta por redirecionar Dick ao rumo correto, ao ajudar quem precisava. Ninguém, no mais, estaria a par do aprisionamento de Grayson? Nem para os roteiristas escreverem uma parte para Iain Glen reviver novamente o seu Bruce Wayne, esquecido há um bom tempo pela série – que, aqui, até mesmo brinca com as expectativas de que o personagem irá, em breve, contracenar com os protagonistas.
O que permite esse capítulo, no entanto, ser superior ao antecessor é a quantidade de notáveis momentos, pequenos, mas presentes – como o Krypto, por exemplo, tentando entrar na Torre dos Titãs, numa interação cômica. Até mesmo o péssimo núcleo que tange Rachel (Teagan Croft) conta com a curiosa cena na qual a personagem assassina o namorado abusivo de sua recente amiga – a possessão da gárgula é bacana, no caso, assim como a maquiagem posterior do jovem morto. Mesmo assim, a temporada permanece sofrendo por conta de potencial desperdiçado, ou seja, boas ideias comprometidas mediante uma pressa desnecessária para se chegar a algum lugar. Por exemplo, o vínculo entre Rachel e a menina que ela conhece não tem tempo para ser construído de maneira mais natural – para piorar, a chegada do namorado agressivo, em uma reconstrução genérica de relacionamentos problemáticos, consegue ser mais inorgânica ainda. É tanta coisa acontecendo, tantas estradas narrativas surgindo simultaneamente, que essa do grupo de garotas que Rachel adentra aumenta ainda mais a retalhação do enredo geral da temporada. Enquanto isso, Donna Troy (Conor Leslie) vagueia pela cidade desorientada, assim como nós, em meio a muitas novidades pipocando na tela, mas poucas executadas como precisavam. Num paralelo com o nome do episódio, a queda dos Titãs se encaminha para ultrapassar inclusive o terreno da ficção.
Titãs – 02X10: Fallen – EUA, 8 de novembro de 2019
Criação: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Kevin Sullivan
Roteiro: Jamie Gorenberg
Elenco: Brenton Thwaites, Teagan Croft, Ryan Potter, Conor Leslie, Joshua Orpin, Sydney Kuhne, Ishan Morris, Natalie Gumede
Duração: 45 min.