Começarei com uma reclamação: entendo a vontade da Disney em uniformizar os nomes de seus personagens, mas, fazer isso com nomes clássicos, que estão por aí há 20, 30 anos, é quase um desrespeito. No caso de Sininho (convertida para o original Tinker Bell), estou falando de um personagem que foi assim batizado já na tradução da obra de J.M. Barrie que deu base ao desenho e que, com o tempo, tornou-se o nome mais conhecido do personagem. Mas fazer o que? Bom, se não posso fazer nada, no mínimo, na minha crítica, chamarei o personagem pelo nome que sempre conheci: Sininho.
Como parte da coleção Fadas Disney, a empresa lança o quarto longa-metragem tendo Sininho como personagem principal. A diferença do tratamento desses desenhos em computação gráfica nos Estados Unidos e no resto do mundo é que, no país de origem da “Casa do Camundongo”, a série da fadinha é lançada diretamente em vídeo, com apenas um punhado de telas projetando-os nos cinemas e, mesmo assim, por um período bem curto.
E, de fato, é visível que toda a estrutura e qualidade técnica de O Segredo das Fadas é mais adequado ao lançamento em vídeo ou televisão. São histórias menores, menos elaboradas e com uma computação gráfica apenas satisfatória, que de forma algum pode competir com o pior dos desenhos em CGI que são produzidos para o cinema. De toda forma, não há mal em se utilizar dessa estratégia, até porque, a julgar pela sessão de cinema que estive hoje, há um público de crianças (especialmente meninas até os 7 ou 8 anos) que aprecia de verdade as aventuras de Sininho. No entanto, não dá para deixar de pensar nos filmes que não são lançados em circuito nacional pelo fato de nosso mirrado parque de telas ser tomado por fadinhas e coisas do gênero. Mas chega de reclamações!
O Segredo das Fadas mostra que o mundo das fadinhas é dividido em eternas estações. Sininho (voz de Mae Whitman no original) vive no mundo das estações quentes, mas deseja conhecer o mundo do inverno. As fadas de uma região não podem cruzar para a outra e vice-versa. É claro que não demora muito para Sininho fazer a travessia e, para sua surpresa, descobre que tem uma irmã do lado de lá chamada Periwinkle (Luci Hale). Elas querem ficar juntas, mas Lorde Milori (Timothy Dalton) não permite. Óbvio que elas tratam de desobedecer a ordem e têm que lidar com as consequências.
O roteiro, escrito por Tom Rogers e Ryan Rowe, conhecidos por desenhos infantis lançados direto para vídeo, é bastante simples e direto, sem, porém, ser tenebroso. Passa uma mensagem padrão de filmes desse tipo, mas peca em não oferecer nenhum tipo de ameaça realmente crível ou mais complexa do que “oh, o que fazer, o mundo do verão está congelando!”. Desenhos animados não precisam ser bobinhos e podem – diria até que devem – desafiar os pequenos, mesmo os bem pequenos. O Segredo das Fadas não chega a ser “emburrecedor”, mas revela uma certa preguiça e uma necessidade quase patológica de explicar em detalhes o que está acontecendo.
Em suma, O Segredo das Fadas não é muito diferente dos demais desenhos que vieram antes tendo Sininho como protagonista e poderia muito bem ter sido lançado diretamente para o mercado de vídeo. Ou, pelo menos, poderiam ter pensado mais do que quinze minutos na estrutura do roteiro e duvidado menos da capacidade dos pequenos em processar algo um pouco mais intrincado.
Tinker Bell: O Segredo das Fadas (Tinker Bell and the Secret of the Wings, Estados Unidos, 2012)
Direção: Bobs Gannaway, Peggy Holmes
Roteiro: Tom Rogers, Ryan Rowe
Elenco: Timothy Dalton, Lucy Hale, Megan Hilty, Anjelica Huston, Matt Lanter, Jesse McCartney, Mae Whitman, Lucy Liu, Raven-Symoné, Debby Ryan, Pamela Adlon, Angela Bartys, Jeff Bennett, Grey DeLisle, Jane Horrocks
Duração: 90 minutos