A cada época surge um aplicativo ou rede social com elementos novos com a promessa de desbancar o que já está estabelecido. Foi assim com o estimado Orkut, vencido pelo potencial do Facebook, logo depois, tivemos o Instagram, inicialmente pensado como rede para exposições fotográficas e que atualmente uma plataforma de múltiplas tarefas para os chamados “influenciadores digitais”, empreendedores, instituições de todo tipo, dentre outros. Mais recentemente, tivemos o advento do TikTok, opção do ciberespaço para os interessados em postagens de vídeos diversos, desde dancinhas da moda aos diários de blogueiros que podem ser acompanhados por milhões de pessoas. No estabelecimento da pandemia da covid-19, algo que acompanha os brasileiros desde março de 2020, esta rede social alcançou números exorbitantes de downloads, configurando-se como o aplicativo mais baixado naquele ano. Em mais um momento da história da humanidade, adentramos pelas bifurcações da tecnologia sem saber exatamente lidar com as suas demandas. É o que este documentário nos faz refletir.
Para os mais firmes em relação ao domínio das redes sociais em nossa vida cotidiana, o TikTok era apenas mais um dos modismos que logo passaria. Para os inveterados por conexão, era o lugar ideal para se mostrar e, talvez, alcançar a desejada fama. Condenado por alguns e exaltados por outros, o TikTok traz todas as vantagens e desvantagens de uma rede social, sendo o grande problema, os seres humanos por detrás deste processo, tanto aqueles que se propõem a seguir piamente tudo que está designado por lá, quanto por aqueles que trabalham na fabricação de inteligências artificiais capazes de induzirem a população a ir de encontro aos problemas apresentados neste curto e objetivo documentário lançado em 2021. Sim, TikTok: O Aplicativo Mais Popular do Mundo, dirigido por Avani Dias, é uma produção que analisa o fenômeno pelo viés tenebroso de seus impactos em nossas vidas.
Ao longo de seus 43 minutos, a produção conta com uma boa pesquisa realizada por Lauren Day e Lydia Chu, integrantes da equipe de Dias, focadas na análise da absorção deste aplicativo no cotidiano de alguns personagens que narram as suas experiências positivas e negativas com o conteúdo em questão. Antes de adentrar nas especificações problemáticas, conduzirei os leitores a um breve panorama sobre o TikTok, algo que o documentário evita fazer, já realizando a sua crítica tendo como base nosso conhecimento prévio, um ponto positivo que permite os envolvidos irem direto aos tópicos, sem delongas. Mídia social que define a Geração Z, o TikTok é uma plataforma com bilhões de usuários, aplicativo que permite ao criador de uma conta, produzir vídeos de até 60 segundos e publiquem em seus respectivos feeds. Como ocorre no Instagram, a pessoa pode realizar o download ou filmagem de tela do material e postar ou distribuir por WhatsApp e outras redes de comunicação da era da cibercultura.
Os conteúdos são diversos: coreografias, dublagens, receitas, dicas de treino para interessados em manter o corpo conforme os padrões exibidos pela sociedade, dentre tantas outras possibilidades. A celeuma começa quando entra o usuário. Tal como o lado tenebroso da conexão, apresentado com maestria em O Dilema das Redes, o TikTok possui técnicas de engajamento para aumentar a duração de tempo dos perfis que estão conectados na plataforma, situação responsável por criar dependência, pressão social e depressão naqueles mais frágeis, em especial, adolescentes em fase de construção de suas cidadanias. Também dependente de servidores que consomem absurdamente fontes de energia, não é uma rede sustentável.
Confesso que esta questão da sustentabilidade me deixou boquiaberto, pois apesar de ser usuário de redes, jamais pensei por este lado, creio ser o primeiro documentário que toca nesta corda sensível de nossa atual situação insustentável no planeta. Ademais, segundo os entrevistados, o Tik Tok também é uma rede racista, pois coíbe manifestações em prol de debates sobre este assunto, tornando-se alvo de polêmicas na época do caso político envolvendo a morte de George Floyd. Neste espaço com barra de rolagem sem fim, espelhos biométricos encontrados em muitos filtros simpáticos captam as emoções dos usuários e trabalham também na coleta de dados. Num vazamento recente de documentos do TikTok, havia descrito que os programadores deveriam trabalhar com os algoritmos para evitar o foco em pessoas consideradas “feias”, isto é, que tenham rugas, cabelos e olhos fora dos padrões, além da importância de se evitar pessoas com deficiências físicas. Pelo visto, o aplicativo mais popular do mundo também é um dos mais tenebrosos, não é mesmo, caro leitor?
TikTok: O Aplicativo Mais Popular do Mundo (TikTok – EUA, 2021)
Direção: Avani Dias
Roteiro: Avani Dias
Elenco: Anne Longfield, Claire Benstead, David Polgar, Dr. Bodny Kaye, Dr. Niels Wauters, Dr. Suku Sukunesan, Fergus Ryan, Jamil Jaffer, Lauren Hemmings, Paniora Nukunuku, Richard Cannon III, Rory Eliza, Unice Wani
Duração: 43 min