Home TVTemporadas Crítica | The Witcher – 3ª Temporada

Crítica | The Witcher – 3ª Temporada

Voltamos para o começo da série?

por Felipe Oliveira
2,7K views

Mesmo não sido pensada como o tema da temporada, para o público, a saída de Henry Cavill na pele de Geralt de Rivia valeria não menos que uma despedida épica, e o lançamento dividido em duas partes do terceiro ano da série só serviu para elevar as expectativas externas ao que não seria o foco – sendo a intenção, obviamente, de segurar o hype usando essa expectativa. O tema centrado num viés mais político, muito se destacou ao falar sobre família, laços, confiança e traição, sendo esse o ápice no desenvolvimento da união fraterna e amorosa entre Ciri, Yennefer e Geralt, e de quebra, o alívio cômico e tagarela de Jaskier, mas entre mortos, magia e feridos, chegar no final do terceiro ano de The Witcher só restou uma dúvida: havia um foco?

Certo que, quando Cavill anunciou seu desligamento da série, a produção da temporada já estava finalizada, o que coloca o desfecho aqui como uma resolução arrastada, sem muitas inspirações para o que tinha sido desenvolvido para os personagens. Diante do gancho deixado para os três episódios finais, o retorno no segundo volume veio com um sexto capítulo violento, agitado e ousado, com uma estrutura e ritmo de uma season finale épica, e não como um predecessor; exceto para quem esperava por uma despedida honrosa para Geralt de Cavill, o empolgante segmento dirigido por Loni Peristeri poderia encerrar a temporada sem a necessidade do intervalo de um mês querendo transformar confusas escolhas narrativas em um evento de duas partes. 

Como empolgar para o futuro da série no seu momento mais instável? Sendo a primeira temporada marcada por linhas diferentes de tempo, o segundo ano trabalhou num plano linear enquanto abria o leque de personagens secundários – que se estendiam entre os povos dos continentes – e uma estrutura procedural “de monstro do episódio”, e aqui essa estrutura se mantém, porém, de maneira muito mais monótona e massante. Por dois ciclos, The Witcher vem trabalhado os arcos pessoais de Geralt, Ciri e Yennefer, e também, o que os torna uma família. Imaginando que agora seria o ápice dessa relação, a sensação é que a série andou em círculos, estendendo sem muitos avanços o que foi visto na temporada anterior. Isso é, os movimentos dos Nilfgaardians e Redanians, Dijkstra e Philippa em paralelo com o protagonismo em ascensão de Ciri.

Não importa muito se na segunda temporada vimos Geralt desempenhar um papel de figura paterna para Ciri, mesmo com o jeitão neutro do Lobo Branco, e no recente ano da série termos Yennefer compartilhar de gestos maternos com a jovem princesa quando o resultado do desenho familiar dessa jornada sempre cai em lugares divergentes. De longe, havia um laço de proteção e confiança sendo trabalhado no trio de personagens, o que preparava para um suposto ápice de união e evolução ao que a narrativa vem traçando: o cumprimento de uma predestinação. Porém, termina sendo mais interessante olhar para Yennefer, Ciri e Geralt por seus arcos individuais do que a ideia de conjunto – da família mais forte quando está unida – que tem sido pintada na série, algo que, de fato, só podemos observar de forma espaçada, graças aos subplots inseridos no roteiro para tornar essa jornada mais longa do que empolgante.

Seria impreciso afirmar que a saída de Cavill foi o que influenciou nas decisões desastrosas que acompanhamos no decorrer da temporada, no entanto, há sinais que, de um jeito ou de outro, o terceiro ano de The Witcher se define pelas conclusões de vários arcos para a chegada de uma nova fase na série. Olhando para Yennefer, tem-se uma personagem em constante evolução e coerência, e o que torna sua jornada ainda mais fascinante é a performance de Anya Chalotra. Seja pela amizade com Tissaia e a promessa de cuidar, proteger e treinar Ciri, Yennefer sempre esteve em contato com o dilema sobre sacrifício, poder dominar sua magia, e por fim, a maternidade. Ao menos, depois de tantas perdas, o destino da personagem aponta para um momento de mais independência ao assumir a liderança em Aretuza.

Com Ciri, as tomadas narrativas insistem em manter uma jornada longa para a protagonista, o que não é um caminho empolgante e sim, um atraso, quando poderíamos ver escolhas mais sólidas para a personagem. Mas, enquanto a Princesa de Cintra está longe de poder experimentar seus poderes em plenitude, Laura Schmidt opta em aplicar uma alegoria, uma passagem de Ciri para o lado negro da força. Obviamente, seria interessante vê-la projetando outros traços em sua jornada, em uma espécie de autoindependência tendo em vista tudo o que lhe foi tirado do que um filler da prometida protagonista manifestando seu lado mais sombrio.

Embora a temporada não pareça indicar um futuro promissor, certamente, Cavill deixa a série fechando um ciclo ao interpretar Geralt de Rivia por quatro anos. De modo simbólico, Geralt de Cavill encerra sua jornada pessoal diferente de como começou, ou seja, deixando a neutralidade de se comprometer em guerras políticas de lado e abraçando um outro senso, o que claro, continuará em sua predestinação em proteger Ciri. Mesmo que não tenha deixado um gancho definido para a mudança de elenco, o quarto ano da série receberá Liam Hemsworth para dar conta da nova fase de Geralt de Rivia, tendo a chance de desempenhar o papel do “início”. Com o Lobo Branco, Ciri e Yennefer mais uma vez seguindo caminhos opostos prometendo se reencontrarem, só o tempo dirá se Hemsworth convencerá como um bruxo.

The Witcher – 3ª Temporada (The Witcher – EUA, Polônia – 2023)
Criação: Laura Schmidt
Direção: Stephen Surjik, Gandja Monteiro, Bola Ogun, Loni Peristere
Roteiro: Laura Schmidt, Matthew D’Ambrosio, Haily Hall, Claire Higgins, Rae Benjamin, Mike Ostrowski
Elenco: Henry Cavill, Freya Allan, Anya Chalotra, Eamon Farren, Joey Batey, MyAnna Buring, Mimi Ndiweni, Anna Shaffer, Mahesh Jadu, Mecia Simson, Lars Mikkelsen, Graham McTavish, Therica Wilson-Read, Bart Edwards, Cassie Clare, Hugh Skinner, Rochelle Rose, Sam Woolf, Robbie Amell
Duração: 55 a 63 min (8 episódios, cada)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais