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Crítica | The Witcher – 2ª Temporada

Mais organizada, mas não menos desinteressante.

por Iann Jeliel
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The Witcher

  • Leia aqui, todo nosso material de The Witcher. 

Comento na minha crítica de Fate: A Saga Winx um pouco sobre a tática da Netflix em criar marcas de força para que possa competir, no futuro, de igual para igual, mercadologicamente com a Disney e Warner e suas franquias já consolidadas. The Witcher, nesse contexto, é para ser uma espécie de Game of Thrones original da marca vermelha. Uma adaptação de saga de fantasia best-seller na literatura adulta, grande, passível de desmembramento em vários diferentes produtos que não só a série principal (não à toa, já temos, além de uma animação, outra série confirmada no mesmo universo para 2022) e com enorme potencial de apelo popular.

No entanto, a pressa pela criação de uma franquia é inimiga da sua qualidade, e a primeira temporada de The Witcher, embora tenha conseguido conquistar o público pela imensa capacidade “marketeira” da Netflix, passou longe de ser um pontapé estimulante para investir nesse universo, pelo menos para mim (e tenho certeza de que para outros), que começou a consumir a obra a partir dela. Desse modo, já entrego que não li os livros e que não gosto nem um pouco da primeira temporada – discordando do meu colega Luiz Santiago, responsável por sua crítica. Digo que um dos grandes problemas dela estava na pouquíssima habilidade no teor introdutório de tudo, calcada no agrado aos consumidores prévios, seja pela  narrativa original de Andrzej Sapkowski, seja pela  concepção visual dos games da CD Projekt RED (que serviu de base ao design de produção), do que uma preocupação em montar uma identidade própria enquanto série.

A não linearidade temporal da narrativa somada à estrutura de aventuras episódicas parecia um cenário propício para testes cosméticos (ver o que funciona e o que não funciona) do que uma proposta estilística. Tanto que a segunda temporada já não adota esse sistema primário que cobrou um preço alto ao implementar de maneira confusa e cíclica os personagens e a suposta riqueza do ambiente que os cercam. Era inevitável que, após uma introdução enfadonha, o desenvolvimento desse segundo ano carecesse de um envolvimento emocional do público que não foi fisgado somente pelos arquétipos legais do mundo RPG ou transcrição do material original. O roteiro até tenta e busca organizar a casinha numa história alinhada em tempo único, simples, linear em seus núcleos divididos e que visa modificar seus personagens principais durante a jornada.

Temos um Geralt (Henry Cavil) mais paternal e menos brucutu, uma Cirilla (Freya Allan) mais independente e menos mocinha a ser protegida e uma Yennefer (Anya Charlotra) mais humanizada e menos “bruxa sarcástica legal”. Os personagens começam a criar forma para além do carisma de seus atores, deixando de ser avatares e guias de universo fantástico e passando a ser pessoas que precisam lidar com consequências de suas predestinações. Há nitidamente um tom mais dramático adotado, especialmente no arco dividido entre Geralt e Ciri, um conflituoso com seu passado violento, enquanto a outra incerta da capacidade de seus poderes. As cenas focadas na evolução dos dois são, de longe, as melhores, mesmo que a derradeira transformação na reta final se dê apressadamente. A velocidade fica perceptível no núcleo de Yennefer que fica com o trabalho sujo de conduzir a expansão de um universo mal introduzido e acaba precisando fazer simultaneamente e sem muito tempo a evolução e a contextualização, consequentemente, tendo pouca eficiência nas duas funções.

Se há uma contextualização clara dos caminhos da história, a organização para essas explicações sacrifica o destaque de personagens secundários que caem no mesmo território da temporada passada: uma identificação por alguma bagagem anterior. Na prática, eles estão ali para fornecer um preenchimento de tela, uma forma de dizer que o universo da história principal está aumentando – os desdobramentos que preparam a guerra pela supremacia do Continente, a divisão dos grupos envolvidos. Na prática é uma escala ainda não sentida para além desse protocolar senso de progressão. A série ainda tem essa dificuldade de  estabelecer os entornos, muitas vezes demasiadamente focando na apresentação de elementos futuros e/ou paralelos do que na resolução dos problemas presentes e principais.

A estrutura não episódica ajuda a diminuir esse problema, trazendo dinamismo rítmico, mas a ação permanece procedural (monstro do episódio, batalha do episódio…) e prejudica essa busca por dimensionalizar o tamanho e a crescente da narrativa. Fora que ainda tem coreografias mal executadas numa estilização sem qualquer criatividade com as possibilidades da fantasia. É tudo muito corpóreo e pouco inventivo na utilização dos poderes mágicos. Há até um capricho maior nos efeitos digitais, mas falta personalidade às criaturas e criatividade na utilização das características particulares de feitiços de cada personagem. O resquício de divertimento fica pela condução da empolgante trilha sonora (destaque para determinadas cenas de treinamento), tornando a estilização agradável.

Em suma, a segunda temporada de The Witcher torna a série mais suportável para quem não era chegado antes a esse universo, e imagino que mais envolvente para quem era e/ou gostou do primeiro ano. Há melhorias significativas após uma série de testes na primeira temporada e o futuro extremamente longevo (considerando o pouco conteúdo apresentado por essas duas primeiras temporadas) permite que, eventualmente, The Witcher escape da fraqueza de sua introdução, deixe de corrigir os próprios de erros, ganhe um foco e centralize uma personalidade fora do terreno da adaptação. Espero eu – louco das ideias ao não desistir de absolutamente nenhuma série iniciada, mesmo odiando o início e sendo torturado numa primeira temporada – que isso não demore muito.

The Witcher – 2ª Temporada | EUA, 17 de Dezembro de 2021
Criadora: Lauren Schmidt
Direção: Stephen Surjik, Sarah O’Gorman, Edward Bazalgette, Louise Hooper
Roteiro: Declan De Barra, Beau DeMayo, Clare Higgins, Lauren Schmidt, Sneha Koorse, Haily Hall, Matthew D’Ambrosio, Mike Ostrowski  (baseado na obra de Andrzej Sapkowski)
Elenco: Henry Cavill, Anya Chalotra, Freya Allan, Eamon Farren, Anna Shaffer, Kim Bodnia, Mecia Simson, Mimi Ndiweni, Nathanial Jacobs, Paul Bullion, Yasen Atour, Ania Marson, Chuey Okoye, Jota Castellano, Kaine Zajaz, MyAnna Buring, Royce Pierreson, Tom Canton, Wilson Mbomio, Aisha Fabienne Ross, Joey Batey, Antony Byrne, Bart Edwards, Ed Birch, Graham McTavish, Mahesh Jadu, Terence Maynard, Basil Eidenbenz, E. Richard Tirado, Gaia Mondadori, Ged Forrest, Jodhi May, Lars Mikkelsen, Lizzie Clarke, Luke Cy, Rebecca Hanssen, Shaun Dooley
Duração: 8 episódios – 60 minutos em média cada episódio. 

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