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Crítica | The Walking Dead: World Beyond – 2X09 e 2X10: Death and the Dead / The Last Light

Final? Ou o verdadeiro começo?

por Iann Jeliel
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The Last Light
  • Há SPOILERS. Leiam aqui as críticas de World Beyond e, aqui, as de todo o universo The Walking Dead.

Tive acesso antecipado ao último episódio de World Beyond (intitulado The Last Light) através do streaming da AMC+, desse modo, finalizo a cobertura da série com a crítica dos dois últimos episódios de uma vez, embora feitas separadamente (no contexto de ter assistido um episódio, escrito, depois visto o outro e escrito a outra crítica) para quem for ver o último somente na exibição tradicional.
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2X09 – Death and the Dead

The Last Light

Há o mesmo sentimento brochante do último episódio (em que ninguém morreu) aqui em Death and the Dead, dessa vez, porque  a única morte ocorrida parece ser pouco para as várias possibilidades dadas pelo episódio. Já não gosto tanto como ele começa descartando o que poderia ser uma ótima sequência de tensão com o grupo encurralado no túnel, embora tenha sido uma boa surpresa ver que a resistência adolescente e científica tinha um plano maior e estava realmente com sangue nos olhos para  matar, e demonstra isso eliminando os soldados enviados por Jadis (Pollyanna McIntosh) com explosivos espalhados no subterrâneo. Postura radical que reflete positivamente no clima de tensão até a sequência de negociação de Mason (Will Meyers), especialmente pela dúvida implementada na cabeça de Hope (Alexa Mansour), puxando todo o desenvolvimento da personagem acerca do acreditar na ideologia da CRM e preferir promover uma revolução interna no  local a um embate bélico que a destruiria.

Fiquei na expectativa de que isso trouxesse alguma virada da personagem que fosse mais impactante do que a confirmação de sua postura para o lado do revanchismo contra os militares por uma eventualidade criada numa situação mal finalizada. Falo da cena em que acontece o jogo de barganhas na troca do menino pela fuga dos remanescentes que ficaram para destruir os tanques de gás a serem usados no extermínio de Portland – que foram transferidos para outro local como outro elemento de tensão ao episódio. É aí onde se localiza o grande destaque positivo e negativo do episódio. Como clímax é plenamente funcional porque põem muitas coisas em jogo – Huck (Annet Mahendru) no ápice da sua encruzilhada como espiã; Hope no ápice dessa dúvida se podia mudar de lado ou tentar reverter a situação; qualquer um podendo morrer ali para os zumbis que estavam chegando perto – traz um sentimento de previsibilidade sobre qual caminho a série escolheria seguir que dá uma potência bem envolvente à cena.

Por outro lado, mesmo sendo pedra cantada colocar a CRM somente como o grande vilão maniqueísta do cânone de The Walking Dead, a explicação de Jadis sobre os genocídios terem sido realizados porque as outras comunidades iriam entrar em colapso de qualquer forma é pouco convincente e reducionista. Ainda mais porque vem aliada ao convencimento totalitário de Hope de que ela está fazendo o correto destruindo o local quando Mason, em sua vista, um símbolo de que os jovens dali trariam um futuro promissor, é culpabilizado pela morte de Percy (Ted Sutherland) ao tentar escapar das ameaças de morte que sofreu na intimidação da negociação. Hope o questiona sobre  nunca ter se importado com a causa sendo que em nenhum momento chegou a genuinamente colocar o que eles descobriram sobre seu pai e o restante dos militares fizeram, fora que ao dizer que ele é como qualquer um dali apontando uma arma para sua cabeça, deixa a cena seguinte, em que cai a sua máscara  (falando que Percy e o grupo merecia morrer pela confusão que fez na CRM), bastante forçada. Fora que depois que Mason se mostra como um “filho da mãe” (quer dizer, do pai) não havia motivo para não o matar. Tudo bem que Íris (Aliyah Royale) queria não dar mais um fardo para Hope que já carregava matando a mãe de Elton (Christina Brucato), mas podia ter ela mesma puxado o gatilho, considerando seu espírito vingativo e a morte de quem ela tanto gostava na sua frente.

Isso diminui ainda mais o peso do que foi o romance entre eles e a própria função de Percy em isolado na série, já que, em primeiro lugar, ele não deveria nem ter ido junto ao restante do pessoal para a base científica e só foi para ter alguém minimamente importante para morrer perto do final. Uma morte para lá de anticlimática, porque só vemos ele correndo em direção a Mason, corta para confusão e tiroteio, corta de novo para ele no chão com sangue na cabeça. Sabemos que World Beyond não quer ser gráfica pela proposta, mas custava ter coragem e mostrar um pouco mais? Não entendo também Death and the Dead ter gastado uma parcela de sua duração em um núcleo inteiro de Silas (Hal Cumpston) e Elton (Nicolas Cantu) buscando antibióticos na CRM para Dennis (Maximilian Osinski) – que deveria ter sido morto no episódio passado e provavelmente morreu no final deste quando Huck chegou  lá – arriscando pôr o plano por água abaixo ao quase terem sido pegos – honestamente preferia que tivesse dado em algum problema mesmo –, sendo que isso podia ter sido resolvido pura e simplesmente se Dennis permanecesse sob os cuidados do Perímetro.

Não entendi por que eles o levaram novamente para o posto avançado e aumentaram as chances dele ser descoberto como traidor (cadê aqueles outros garotos que estavam com Silas?), convenientemente,  no local onde Jadis escondeu os cilindros de gás. Talvez essa situação toda tenha sido só conveniente também para ter aquela ceninha em que os dois escapam dentro do globo gigante de ferro atropelando os zumbis. Apesar de ser bastante criativa, é uma cena que soa deslocada do tom do restante do episódio, já desequilibrado no peso que dá aos seus momentos. A única exceção vai para o reencontro emocionante do quarteto de origem que, juntos, devem voltar ao posto e explodir tudo com a ajuda de Huck. Em geral, Death and the Dead fica no meio de um episódio de preparação para o fim com ser o catalisador do que deveria ser seu momento mais impactante desse fim, não sendo nem um, nem outro.

The Walking Dead: World Beyond – 2X09: Death and the Dead | EUA, 28 de Novembro de 2021
Criação: Scott M. Gimple, Matthew Negrete
Direção: Loren S. Yaconelli
Roteiro: Erin Martin, Sam Reynolds
Elenco: Aliyah Royale, Alexa Mansour, Hal Cumpston, Nicolas Cantu, Nico Tortorella, Annet Mahendru, Joe Holt, Ted Sutherland, Pollyanna McIntosh, Maximilian Osinski, Will Meyers, Gissette Valentin, Robert Palmer Watkins, Allan Edwards, Jesse Gallegos, Susan Savoie, Gilbert Cruz
Duração: 45 minutos
The Last Light 

2X10 – The Last Light

The Last Light

Tenho sentimentos mistos com relação ao último episódio de World Beyond, intitulado The Last Light. Por um lado, é um bom final de temporada, pensando na proposta “pequena” da série. Por  outro, o episódio confirma essa proposta numa postura extremamente mercenária, que vem sendo a concepção desse universo estendido de The Walking Dead. Basicamente a ideia de trazer essa história para o cânone mais abre do que fecha qualquer coisa. O destino de praticamente todos os personagens (exceto, os que morreram) fica à  mercê de um novo desenvolvimento que pode vir caso eles apareçam  novamente em algum outro produto derivado da franquia, assim como todo o arco de confronto com a CRM que ainda conhecemos muito pouco. O único ponto de verdadeira mudança no universo da saga é apresentado somente numa cena pós-créditos que traz um enorme contragosto se for considerá-la como uma recompensa.

Se a história da série foi pautada numa rebelião jovem que reiniciaria a base científica em busca da cura zumbi na posse dos mocinhos, é um tanto sacana introduzirem um novo tipo de morto-vivo (numa cena completamente desprendida dos núcleos da série) para esvair toda essa esperança e praticamente evidenciar um novo recomeço de apocalipse. Aparentemente, os próximos produtos da franquia podem trocar os zumbis clássicos e lentos pelos infectados velocistas característicos dos anos 2000 – como Extermínio, Madrugada dos Mortos. Particularmente, gosto muito dessa substituição, mas diria que ela apareceu tarde demais no universo da franquia, ainda mais sendo uma possibilidade arbitrária, muito distante geograficamente dos personagens conhecidos e que muito provavelmente não será nem utilizada com eles. A aparição de Dr. Edwin Jenner (Noah Emmerich), no entanto, admito, foi surpresa positiva ao ímpeto expansivo do cânone.

Uma ótima utilização da pequena brecha deixada por Frank Darabont que à  época colocava a busca da cura como impossível para fechar um arco dramático, mas não a deixou totalmente descartada para poder ser retomada em um outro momento, no caso, agora, quando  essa premissa parece ser o único subterfúgio para a franquia crescer sem deixar de estar se finalizando. Lembrando: naquele último episódio da primeira temporada, Jenner informou a Andrea (Laurie Holden) depois de um questionamento que os últimos médicos com quem  teve contato foram alguns franceses até a queda das comunicações. A cena pós-créditos mostra justamente uma mulher francesa com acesso às gravações do doutor sendo perseguida e morta por um homem misterioso. Não dá para saber se essa narrativa vai ser contada em Tales of The Walking Dead como secundária, ou na trilogia de filmes do Rick Grimes (Andrew Lincoln) junto a tudo que ficou em aberto em World Beyond. Por isso digo, é pouco recompensador, mas consegue animar.

Enfim, falando de The Last Light em si, o que mais me surpreendeu foram as cenas de ação. Não que sejam esplêndidas, mas em termos de coreografia, as lutas de Felix (Nico Tortorella) vs. Newton (Robert Palmer Watkins) e Huck vs. Jadis fornecem clímaces  respectivamente divertidos, apesar de alguns pesares. Para seu bonito sacrifício, Huck precisou convencer Silas e Dennis (ferido) a irem em busca de um detonador, sendo que ela teoricamente foi a única realmente descoberta dos três, fora a mais apta fisicamente para a tarefa. O próprio Silas não foi com o quarteto e deixou Dennis (que deveria ter morrido) e Huck para explodirem o local sozinhos, ficou repetitivo. É a quarta separação deles na série e, no final, acaba sobrando para o personagem novamente, que é “forçado” a matar Dennis para ganhar confiança dos militares e conseguir se unir aos  infiltrados. Até acho conveniente, dado o pouco tempo de desenvolvimento da relação entre os  dois, a forma meio paternal com que Silas encara Dennis, o que dá esse teor trágico à  sua morte. Pena que teve muito “roteirismo” para Dennis não ter morrido antes – diminuindo o peso dessa sequência – e para Silas ser colocado nessa posição de revolucionário interno que tinha que ser preenchida por alguém – seria por Huck, se ela não tivesse ficado totalmente exposta e morresse.

Com a separação de Silas, cada qual segue seu caminho. Hope, Leo (Joe Holt) e os cientistas se abrigam junto ao pessoal do Perímetro;  Felix e Will (Jelani Alladin) em um shopping abandonado aleatório encontrado (com muita facilidade, inclusive) estudando sobre a cura, enquanto Íris, Elton – que perde o braço de maneira bem abrupta e sem peso para os zumbis – e Asha (Madelyn Kientz) viajam para Portland para contar tudo que aconteceu e fazer parte da resistência de uma iminente guerra. Na CRM, Jadis incrimina Elizabeth (Julia Ormond) por toda a rebelião dos Bennetts, ao levantar a possibilidade de que a sargento a chamou somente para não ficar com a responsabilidade do que estaria para acontecer – não dá para saber se Elizabeth desconfiava de que havia uma resistência se formando, mas Jadis traz um argumento eficiente considerando sua ausência – e tenta transformar Silas em seu soldado de confiança.

Todos esses fechamentos seriam ótimos caso ocorresse uma próxima temporada em que poderia haver a guerra entre Portland e a República Cívica, uma perseguição da CRM ao paradeiro dos cientistas, uma revolução interna comandada por Silas ou mesmo por Jadis no seu processo particular de escalada na hierarquia da CRM. No entanto, The Last Light é o final da série, assim, tais desdobramentos ficam um tanto estranhos, forçados como fim, principalmente quando o episódio impõe a primeira e última cena com aquele mesmo momento em que o quarteto deixa Campus Colony para partir para sua aventura. É perceptível a evolução dos personagens, mas o futuro da jornada de cada um ainda se mostrava longo. Isso é o que frustra:  esperar para que apareçam, em algum outro derivado, com a certeza que podia ter tido uma terceira temporada para fechar tudo, ou pelo menos, ter feito tudo nessas duas temporadas, quiçá somente em uma.

The Walking Dead: World Beyond – 2X10: The Last Light | EUA, 28 de Novembro de 2021 (AMC)
Criação: Scott M. Gimple, Matthew Negrete
Direção: Loren S. Yaconelli
Roteiro: Matthew Negrete, Maya Goldsmith, Carson Moore
Elenco: Aliyah Royale, Alexa Mansour, Hal Cumpston, Nicolas Cantu, Nico Tortorella, Annet Mahendru, Joe Holt, Jelani Alladin, Julia Ormond, Pollyanna McIntosh, Maximilian Osinski, Anna Khaja, Madelyn Kientz, Robert Palmer Watkins, Gissette Valentin, Allan Edwards, Noah Emmerich, Susan Savoie, Carey Van Driest, Oryan Landa
Duração: 49 minutos

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